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Dianteira. Líder na produção de energia renovável, o Nordeste atrai montadoras como a BYD, de carros elétricos. A região também será um hub de hidrogênio verde – Imagem: Tiago Santana/GOVCE e Feijão Almeida/GOVBA

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Indústria verde

A transição ecológica abre nova janela para o Brasil prosperar, inovar e fazer sua parte na preservação do planeta

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As temperaturas no planeta registram sucessivos recordes neste ano. Setembro e outubro foram os mais quentes da história, desde o início das medições. O Acordo de Paris, firmado por mais de 190 nações, em 2015, com a meta de limitar o aquecimento global até o fim do século a 1,5 grau, torna-se cada vez mais uma quimera. Estudo recente da Organização Meteorológica Mundial indica ­probabilidade de 66% de esse limite ser ultrapassado nos próximos cinco anos. Neste contexto, a partir de 30 de novembro será realizada a 28ª Conferência das Partes, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

O caminho da redução global de emissão de poluentes rumo a uma economia de baixo carbono passa pelo Brasil, o que abre oportunidades para o País adicionar valor agregado à indústria verde. A transição energética é um dos eixos principais do Ministério de Minas e Energia no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Estão previstos 540,3 bilhões de reais em investimentos. Enquanto o Brasil tem mais de 48% de fontes renováveis em sua matriz energética, a média mundial não passa de 14%. A diferença é ainda maior se comparada com os países mais desenvolvidos, filiados à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, cuja participação de fontes renováveis é de meros 11%. Se na China, na Índia e nas economias desenvolvidas o carvão tem papel de destaque, no Brasil, as hidrelétricas, as usinas solares e eólicas e o etanol despontam.

Só o Ministério de Minas e Energia prevê investimentos de 540 bilhões de reais

“O Brasil pode tornar-se uma potência descarbonizante no mundo”, afirma Luiz Augusto Barroso, presidente da consultoria PSR. A matriz baseada em fontes limpas faz com que muitas empresas pretendam investir para reduzir sua pegada de carbono ou olhar novas tecnologias como o hidrogênio verde e o combustível sustentável de aviação. No caso da fonte solar, o Brasil acumula 34 gigawatts de potência instalada, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica. Segundo o Operador Nacional do Sistema, a fonte, centralizada e distribuída, responde por 15% da geração, porcentual estimado em 24% até 2027. “O potencial é muito grande”, diz Barbara Rubim, vice-presidente da Absolar.

O uso do vento também tem ganhado espaço na matriz elétrica, com destaque para os projetos no Nordeste, detentor de cerca de 90% da potência instalada. O Brasil ocupa atualmente o sexto lugar no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica onshore (terra), com 26 gigawatts. Em 2012, estava em 15º lugar. Com ventos contínuos e intensos, as usinas eólicas nordestinas chegam a operar em boa parte do tempo com fator de capacidade superior a 60%, dobro da média mundial. As instalações eólicas, até junho de 2023, foram de 2,3 gigas, 44,5% das adições à matriz elétrica nacional. “O Brasil poderá usar a matriz para reindustrializar cadeias produtivas”, projeta Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica. O potencial está também no alto-mar.

Enquanto o governo sinaliza com a regulação para as eólicas offshore até o fim do ano, empresas se movimentam para investir nesse novo segmento. Foram protocolados cerca de 200 gigawatts em projetos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Entre os interessados está a Petrobras, em busca da ampliação no mercado de renováveis, via eólicas offshore e usinas solares. “A Petrobras precisa olhar para a transição energética e descarbonizar processos”, acentua Mauricio Tomalsquim, diretor de transição energética da estatal.

Futuro. Elbia Gannoum, da Abeeolica, e Bárbara Rubim, da Absolar, representam setores cruciais à reindustrialização – Imagem: Redes sociais e Ricardo Marajó/Prefeitura de Curitiba

Em setembro, a companhia anunciou os pedidos de licenciamento de dez áreas marítimas para a instalação de estruturas de energia eólica com potência de 23 gigawatts. Das dez áreas marítimas, sete ficam no Nordeste (três no Rio Grande do Norte, três no Ceará e uma no Maranhão) e as demais estão localizadas no Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Para liderar o novo segmento, a empresa firmou parceria com a Weg, fornecedora de motores elétricos, para o desenvolvimento de um aerogerador capaz de produzir 7 megawatts de energia, o maior a ser fabricado no Brasil. “Isso marca a entrada efetiva da Petrobras no segmento de energia eólica offshore”, diz o presidente, Jean Paul Prates. A petroleira investirá 130 milhões de reais no projeto, em andamento. O acordo abrange o desenvolvimento de tecnologias para a fabricação dos componentes do aerogerador, adequados às condições eólicas do País, bem como a construção e testes de um protótipo, com contrapartidas técnicas e comerciais para a estatal. A WEG prevê que o equipamento poderá ser produzido em série a partir de 2025.

Com 47 propostas incluídas no novo PAC e investimentos de 323 bilhões de reais nos próximos anos, a Petrobras tem uma série de projetos além das eólicas offshore. Outra frente é o combustível de aviação sustentável, produzido, entre outros, com matérias-primas biológicas, resíduos sólidos municipais ou gases residuais de indústrias. O setor contribui com ao redor de 2% das emissões globais de gás carbônico e é um dos mais desafiadores para descarbonizar, devido à longa vida útil dos aviões e à falta de alternativas viáveis de baixo carbono. A Petrobras tem planos de produzir combustível de aviação sustentável em uma planta dedicada de biorrefino ao lado da refinaria Presidente Bernardes, na paulista Cubatão. “Vamos construir uma unidade de refino dedicada a óleos vegetais só para combustível de aviação, também com patente do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação”, descreve Tolmasquim. “Somos um ator fundamental para prover esse combustível sustentável para o mundo.”

A demanda potencial futura é grande. A União Europeia busca estimular o mercado. A partir de 2025, todos os aviões que partirem de um aeroporto europeu deverão conter uma parcela mínima de combustível renovável. Segundo o acordo, a porcentagem de SAF a ser misturada com o querosene começará com 2% em 2025 e passará a 6% em 2030, 20% em 2035, 34% em 2040 e 70% até 2050. O Brasil tem condições de se tornar um grande produtor e exportador global de combustível de aviação sustentável, por meio de algumas das possíveis rotas tecnológicas certificadas, graças à abundância de resíduos agrícolas, florestais, ou a partir do etanol de segunda geração.

Outra possibilidade que se abre é o hidrogênio verde, que desponta nos próximos anos como uma das principais promessas de energéticos para a descarbonização da economia. Com uma matriz na qual os renováveis como hidrelétricas, solares e eólicas respondem por mais de 80% da eletricidade gerada, o País é um dos líderes mundiais nesse setor. A competitividade em energia renovável pode conferir uma vantagem na produção de hidrogênio verde, pois o custo da energia renovável é de 70% daquele da produção do energético. O Brasil, segundo estudo da Bloomberg, é um dos poucos capazes de oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a 1 dólar por quilo até 2030.

Multinacionais interessadas em melhorar seus índices de emissão tem no Brasil uma opção competitiva

A mineradora australiana Fortescue não tem produção relevante de metais no Brasil, mas planeja um investimento bilionário em hidrogênio verde no porto de Pecém, no Ceará. No início de novembro, a multinacional recebeu a primeira licença prévia do hub. O projeto da empresa poderá somar 5 bilhões de dólares em investimento, tem potencial para produzir 837 toneladas de hidrogênio verde por dia a partir do consumo de 2,1 mil megawatts de energia renovável. De acordo com o estudo de impacto ambiental, o projeto geraria cerca de 5 mil empregos na fase de construção. O setor ainda aguarda a regulação, em debate no Congresso. Para Paulo Alvarenga, CEO da Thyssenkrupp South America, o Brasil tem uma janela de oportunidade para ser aproveitada, usando o mercado doméstico como impulso. “O País é um grande importador de fertilizantes e é grande potência agrícola, então pode fomentar a reindustrialização verde.”

Os projetos mais avançados de hidrogênio verde no Brasil estão localizados no Nordeste, com destaque para Ceará, Bahia e Pernambuco. O potencial solar e eólico da região, a proximidade com os mercados da Europa e dos Estados Unidos e terminais portuários com capacidade de receber grandes navios têm feito os nove estados nordestinos largarem na frente na corrida por atração de investimentos na tecnologia. Há outra variável relevante: a União Europeia anunciou, em maio, a meta de importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030. Um dos portos definidos como estratégico para a importação é o de Roterdã, na Holanda, o maior da Europa e acionista do terminal de Pecém.

O primeiro projeto operacional de hidrogênio verde no Brasil foi lançado, em 14 de dezembro de 2022, pela EDP em uma unidade de geração térmica da empresa em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Resultado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de 41,9 milhões de reais, a planta contempla uma usina solar com capacidade de 3 megawatts e um módulo eletrolisador para a produção do combustível com capacidade para produzir 250 Nm³/h do gás. Isso permite à EDP, dona da Termelétrica Pecém 1, que gera 620 megawatts de energia produzida com carvão mineral, que substitua motores auxiliares à base de óleos pesados. O empreendimento deverá responder por cerca de 10% do consumo total da unidade.  •

Publicado na edição n° 1286 de CartaCapital, em 22 de novembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Indústria verde’

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