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Matriz limpa. Entre dezembro de 2023 e novembro de 2024, foram destinados 12,7 bilhões de reais para projetos de geração eólica e solar – Imagem: José Fernando Ogura/GOVPR e Istockphoto

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Crédito sustentável

Com robustos investimentos em fontes renováveis, o Banco do Nordeste impulsiona a transição energética na região

Apoio Banco do Nordeste

O FNE Verde contará com um orçamento de 7,77 bilhões de reais em 2025, crescimento de 39,8% em relação ao ano anterior. Criado em 1997, o programa de fomento à sustentabilidade ambiental do Banco do Nordeste (BNB) oferece condições vantajosas para quem deseja investir em projetos de energias renováveis, eficiência energética, regularização e recuperação de áreas de reserva legal, produção agroecológica, uso racional de recursos florestais, captação e tratamento de água e esgoto, contratação de consultorias e adequação às exigências legais, entre outras ações. Os prazos para pagamento variam de 8 a 34 anos, com possibilidade de até 12 anos de carência, de acordo com o porte e tipo de empreendimento. Microempreendedores, pequenos empresários e agricultores familiares podem financiar até 100% do valor do projeto. Para grandes produtores e empresas de maior porte, o porcentual máximo é de 50%.

O FNE Verde tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento de atividades econômicas que promovam a preservação, conservação, controle e recuperação do meio ambiente, com ênfase na sustentabilidade e na competitividade das empresas e cadeias produtivas. A linha de crédito é abastecida com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), criado pela Constituição de 1988 para apoiar empreendimentos de setores produtivos na área de atuação da Sudene, que abrange todo o Nordeste, além parte de Minas Gerais e do Espírito Santo, somando cerca de 2 mil municípios. Para 2025, o valor reservado ultrapassa os 47,29 bilhões de reais, aumento de 18,57% em relação ao ano anterior. A participação do FNE Verde no orçamento global do fundo subiu de 14,9% para 16,4%.

Segundo o presidente do BNB, Paulo Câmara, a atuação da instituição financeira segue uma determinação do governo federal para que haja crescimento com responsabilidade social e ambiental. “Uma das principais recomendações do presidente Lula é a de fazermos com que o Banco do Nordeste cresça e siga forte em sua missão de apoiar o desenvolvimento da nossa região com respeito às boas práticas de sustentabilidade. Nossa atuação na transição energética e na Nova Indústria Brasil demonstram essa nossa preocupação”, afirma.

O orçamento do FNE Verde cresceu 39,8% em 2025. Foram reservados 7,77 bilhões de reais

Um levantamento feito pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão de assessoramento do BNB, revela que as contratações de crédito pelo FNE Verde somaram perto de 18 bilhões de reais em 2023 e 2024, superando a meta de 14 bilhões. Em torno de 61,2% das 13,9 mil operações contratadas no período estão concentradas no Semiárido brasileiro, representando, aproximadamente, 78% dos recursos. A região ocupa 12% do território nacional e abriga perto de 28 milhões de habitantes, divididos entre zonas urbanas (62%) e rurais (38%), o que a torna um dos semiáridos mais povoados do mundo.

Os recursos do FNE Verde impulsionam a transição energética na região. Entre dezembro de 2023 e novembro de 2024, as operações destinadas ao financiamento de projetos de geração solar ou eólica somaram quase 12,7 bilhões de reais. No fim do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a área coberta pela Sudene concentrava em torno de 11,7% do total de unidades de geração elétrica em operação no País, considerando todas as fontes. No entanto, há uma concentração de 56,4% nas fontes eólica e solar. As estatísticas mais recentes da Aneel, referentes ao início de fevereiro deste ano, indicam que o Nordeste concentrava 93,04% da potência instalada na geração eólica no País e 30,69% da capacidade de geração solar, somando os sistemas centralizado e distribuído. A energia dos ventos havia alcançado uma capacidade de 30.833 megawatts (MW) na região, enquanto a fonte solar atingia 16.562 MW. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que o setor tenha atraído, desde 2012, investimentos de 241 bilhões de reais para alcançar uma capacidade de 53,9 gigawatts. Considerando a participação do Nordeste na potência instalada em operação, os recursos direcionados à região podem ter se aproximado de 74 bilhões nesse período.

A partir desse desempenho na geração de energia limpa, o Etene sugere a realização de estudos, em parceria com universidades e institutos especializados, para o desenvolvimento de ações voltadas ao enfrentamento da obsolescência de equipamentos, garantindo a destinação adequada. Estima-se que placas solares e pás eólicas tenham vida útil de 25 a 30 anos. Em 2016, a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) estimou que a quantidade de lixo anual resultante do descarte de painéis fotovoltaicos poderia chegar, em 2030, a 8 milhões de toneladas. Em 2050, esse número pode atingir 78 milhões de toneladas.

Carteira ampla. A linha de crédito do BNB também contempla projetos de reflorestamento e saneamento básico – Imagem: Redes sociais e iStockphoto

Adicionalmente, o escritório técnico do BNB propõe o desenvolvimento de políticas públicas para incentivar a instalação de plantas industriais da cadeia da energia solar fotovoltaica na área de abrangência da Sudene. Em 2015, dos oito montadores de módulos fotovoltaicos em operação no Brasil, apenas dois estavam situados no Nordeste. Das dez fabricantes de estruturas metálicas, uma única estava baseada na região. Todas as 11 manufaturas de inversores nacionais estavam localizadas no eixo Sudeste-Sul, que também concentra a produção de equipamentos da modalidade balance of system, como string box, medidores, controladores de carga e sistemas de monitoramento.

É importante ressaltar que o FNE Verde não apoia apenas grandes empreendimentos. Além de financiar projetos de geração de energia elétrica para consumo próprio em pequenas empresas, reduzindo suas despesas fixas, o BNB também oferece crédito para a instalação de placas fotovoltaicas em residências, gerando um impacto positivo no orçamento das famílias beneficiadas. Entre dezembro de 2023 e novembro de 2024, foram 11.014 mil operações contratadas com pessoas físicas para financiar a instalação de micro ou minigeradores de energia elétrica fotovoltaica nos domicílios da área de abrangência da Sudene, totalizando 311,5 milhões de reais. Houve ainda 2.337 operações contratadas com pessoas jurídicas para essa mesma finalidade, que somaram 649 milhões de reais.

Para 2025, o Banco do Nordeste também está disponibilizando 200 milhões de reais em crédito para compra e instalação de equipamentos de geração de energia elétrica com placas fotovoltaicas para residências, por meio da linha FNE Sol Pessoa Física. O volume de recursos é 27% maior que o do ano anterior.

As contratações em 2023 e 2024 superaram a meta e somaram mais de 18 bilhões de reais

Em relação à distribuição das operações contratadas por setor econômico, excluindo os financiamentos referentes a projetos de instalação de micro ou minigeradores de energia fotovoltaica residencial, o comércio recebeu a maior fatia, com 38,0%. Na sequência, aparecem os setores de infraestrutura (20,4%), serviços (15,8%) e indústria (11,8%). O turismo ficou com 7,8%, enquanto a área rural e a agroindústria somaram 6,1%. Aproximadamente, 80,4% dessas operações foram firmadas por clientes de micro e pequeno porte, 17,4% por empresas de médio porte e 2,2% por grandes corporações.

Em outra vertente do FNE Verde, o Etene destaca os investimentos na área rural. De dezembro de 2023 a novembro de 2024, foram contratadas 148 operações para financiar projetos de irrigação e atividades de silvicultura, totalizando 91,9 milhões de reais. O BNB também incentiva ações de reflorestamento. Segundo um relatório da Associação da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), o cultivo de eucalipto ocupava 7,8 milhões de hectares no País, que corresponde a 76% da área total plantada. O Nordeste representa 13% dessa produção. O cultivo da espécie atende tanto à indústria siderúrgica quanto aos pequenos produtores, que anteriormente derrubavam a mata nativa para construir cercas. Houve ainda um expressivo crescimento das áreas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), prática considerada estratégica no Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), com vistas ao cumprimento das metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Até lá, o Nordeste deve representar 11% das áreas ILPF no País.

O FNE Verde também tem investido em obras para captação, tratamento e distribuição de água e implantação de redes de esgoto. Entre dezembro de 2023 e novembro de 2024, as operações contratadas somaram 4,4 bilhões de reais. O escritório técnico do BNB reconhece, porém, a necessidade de intensificar os esforços para reduzir as disparidades regionais. Em 2022, o Nordeste tinha 76,3% dos domicílios conectados à rede geral de distribuição de água, abaixo da média nacional (82,9%) e do índice verificado no Sudeste (91%), segundo o Censo do IBGE. Boa parte da população nos municípios cobertos pela Sudene ainda depende do abastecimento por carros-pipas ou do armazenamento de água da chuva em cisternas. A disparidade é ainda maior quando se analisa o acesso ao esgotamento sanitário. Pouco mais da metade dos lares nordestinos contava com coleta de esgoto, enquanto no Sudeste o porcentual chega a 90,7%. •

Publicado na edição n° 1351 de CartaCapital, em 05 de março de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Crédito sustentável’

Murillo Ferreira Pinto

Murillo Ferreira Pinto
Designer gráfico e digital

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