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A nova ordem mundial da saúde
Por Gustavo Ribeiro, Presidente Da Associação Brasileira De Planos De Saúde (Abramge)
Na cerimônia de posse do novo presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Wadih Damous, e da diretora Lenise Secchin, realizada em Brasília em meados de setembro, uma ideia central permeou o discurso do novo comandante da agência: a importância da construção de pontes.
Damous destacou que apenas o diálogo franco entre todos os atores do setor permitirá conciliar o melhor atendimento ao beneficiário com a sustentabilidade do sistema. Essa visão, que também orienta o meu mandato à frente da presidência da Associação Brasileira de Planos de Saúde, a Abramge, revela importante sintonia na certeza de que regulador e regulados sabem que não há mais espaço para antagonismos estéreis, e sim para a construção urgente de espaços para convergências capazes de responder a um cenário de complexidade crescente.
Esse desafio é global. A pandemia acelerou mudanças e abriu caminho para a expansão de tecnologias que prometem revolucionar a saúde. Entre tantas, a Inteligência Artificial, ferramentas preditivas, algoritmos e dados. Elas oferecem oportunidades de prevenção, eficiência e personalização, mas também trazem dilemas inéditos: como proteger dados sensíveis? Como regular sem sufocar a inovação? Como garantir que avanços tecnológicos não substituam a sensibilidade humana?
O Brasil, com um sistema híbrido que combina saúde suplementar e SUS, precisa encontrar caminhos de cooperação como o programa Agora Tem Especialistas. Nenhum setor dará conta sozinho do que vem pela frente. A colaboração entre os agentes sociais é imperativa para incorporar tecnologias, garantir segurança jurídica e oferecer soluções que respondam às expectativas da sociedade. Exemplo recente foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve o entendimento de que os planos de saúde continuam obrigados a arcar com tratamentos que estão fora do rol da ANS, desde que sejam seguidos critérios que garantam a eficácia do tratamento a bem da segurança clínica do paciente.
Reitero que essa não é apenas uma questão nacional, mas um debate mundial. A regulação da Inteligência Artificial em saúde já mobiliza instituições internacionais, que buscam equilibrar inovação e proteção de direitos. O Brasil deve participar dessa agenda, trazendo sua experiência e aprendendo com iniciativas pioneiras.
É nesse espírito que, em 30 de outubro, São Paulo sediará o 29º Congresso Abramge. O encontro reunirá especialistas de diversas áreas e nacionalidades, para debater os desafios dessa nova ordem mundial da saúde. Pela primeira vez no Brasil, o Dr. Ricardo Batista Leite, CEO da HealthAI Agency, compartilhará sua experiência em governança global da Inteligência Artificial na saúde. Já Yuval Harari, um dos maiores filósofos da atualidade, refletirá sobre como algoritmos e redes de informação podem transformar este nosso setor, que é tão singular por ser profundamente humano, sustentado pela confiança interpessoal, mas cada vez mais dependente de tecnologia.
Essas reflexões são urgentes. Se, no plano nacional, Damous nos convida a uma nova era de diálogo, no plano global Harari nos provoca a pensar sobre os limites éticos, sociais e filosóficos dessa transformação. A saúde não pode ser entendida como um campo isolado. Ela é, por essência, o espaço onde ciência, tecnologia, economia e humanidade se encontram. A nova ordem mundial da saúde não é o futuro. É o presente em construção que nos desafia diuturnamente a atuar com coragem, sensibilidade e responsabilidade em nome dos 52,9 milhões de pessoas que hoje encontram no setor privado o acesso ao sistema de saúde e das mais de 600 operadoras que tornam essa alternativa viável.