Zema cria ‘gincana da vacina’ e abre crise com prefeitos mineiros

Zema culpa prefeitos por pausa na vacina e é acusado de 'espetacularizar' imunizantes

Romeu Zema e Julvan Lacerda, presidente da Associação Mineira de Municípios (Foto: AMM)

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O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), lançou uma espécie de “gincana da vacina”. Segundo ele, o prefeito que vacinar o maior número de pessoas receberia 5% da reserva técnica de doses na próxima distribuição. A iniciativa acabou abrindo uma crise com os prefeitos mineiros, que o acusaram de “espetacularizar” a entrega de imunizantes.

“Onde está mais ágil vai receber um pouco mais de vacina, não é muito, mas vai receber mais. Montar estoque de vacina não é recomendável. Ela precisa ir para o braço das pessoas e não ficar em refrigerador”, disse o governador.

As declarações, feitas em coletiva de imprensa nesta quinta 8, geraram revolta entre prefeitos e instituições como a Associação Mineira de Municípios e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais.

Zema continuou responsabilizando as prefeituras por eventuais atrasos ou erros de registros: “Algumas prefeituras não buscam essas vacinas na velocidade em que poderiam. Outras não aplicam na velocidade em que poderiam, e nós ainda temos uma questão de informação”.

“O governador foi infeliz nessa colocação dele de tentar se eximir da responsabilidade e descarregar nos prefeitos. O governo faz um movimento cinematográfico com escolta de polícia para remover sete caixas de vacina, ele deveria era mandar para as cidades aplicarem. Aí o sistema de informação deles está furado e ele quer culpar os municípios?”, rebateu o presidente da AMM, prefeito Julvan Lacerda.


O presidente do Cosems, entidade que representa 853 secretarias municipais de saúde de Minas, Eduardo Luiz da Silva, soltou nota uma nota de repúdio na tarde desta sexta e declarou improcedente as declarações do governador Zema e pediu que na próxima reunião o governo apresente as fontes de dados usadas por ele.

Zema “espetaculariza” entrega de vacinas

CartaCapital teve acesso a uma série de mensagens de áudios de prefeitos em que eles rebatem as declarações de Zema.

“O senhor está completamente equivocado. (…) Te desafiamos, respeitosamente, a mandar o suficiente de vacinas que com dois dias vacinamos toda população. Mande 5 mil vacinas e com 48 horas todos estarão vacinas aqui”, afirmou José Roberto Guimarães, prefeito de São José do Goiabal.

O prefeito Sargento Dalton conta, ainda, que toda estrutura do governo – desde escolta da Polícia Militar — a carros oficiais da prefeitura foram mobilizadas para buscar 10 doses de vacina na quarta-feira. “O senho está muito mal assessorado. As doses que estão no freezer aqui estão porque existe uma nota técnica da secretaria de Saúde mandando guardar a segunda dose”. Declarou o prefeito de Santana de Pirapama.

Décio Lapa, prefeito de Moeda, desabafa sobre a pressão que eles vêm sofrendo por vacina e da falta de doses recebidas pelas cidades. “Quando tem vacinamos até meia noite. Não tem vacina e a culpa é nossa?”.

Segundo dados do Vacinômetro do governo do Estado de Minas Gerais 2,1 milhões de mineiros foram vacinados com a primeira dose e 666 mil com a segunda. O mesmo levantamento aponta que o estado já distribuiu 4,5 milhões de doses aos municípios. Minas vive hoje recordes de mortes e várias cidades sofrem com iminência de desabastecimento de oxigênio e kit intubação. Além disso, a Assembleia Legislativa investiga o maior “trem da alegria” da vacina com uma lista de possíveis 3 mil servidores vacinados, como mostrou a Carta Capital na edição de março.

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