Política

Zambelli e Delgatti trocam acusações durante audiência na CCJ da Câmara

A dupla, que está presa, participou por videoconferência de sessão que discute a cassação do mandato da deputada

Zambelli e Delgatti trocam acusações durante audiência na CCJ da Câmara
Zambelli e Delgatti trocam acusações durante audiência na CCJ da Câmara
Delgatti e Zambelli, ambos presos, participaram de audiência por videoconferência – Imagens: reprodução
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A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti, condenados pelo Supremo Tribunal Federal por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, trocaram acusações durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados que discute, nesta quarta-feira 10, a cassação do mandato da parlamentar.

Zambelli, que está presa na Itália, e Delgatti, que cumpre pena no interior paulista, participaram da audiência por chamadas de vídeo e responderam perguntas de parlamentares e advogados. A dupla condenada pelo ataque ao CNJ também realizou uma espécie de acareação à distância.

Na sessão, que aconteceu em paralelo ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e aliados no processo por tentativa de golpe de Estado, a bolsonarista tentou buscar contradições no depoimento do hacker. Afirmou, por exemplo, que Delgatti passou poucas horas na casa dela. Ele nega, e diz que ficou hospedado no local por um período de 15 a 20 dias.

“Você diz que ficou 15 dias na minha casa, eu estou falando que você ficou algumas horas lá. Quem quiser acreditar em mim, acredita; quem quiser acreditar em você [Delgatti] acredita. Todo esse processo é baseado em fato de que ou a pessoa acredita no Walter, ou acredita na Carla…”, atacou a deputada.

“…ou então nas câmeras, pois seu apartamento tem câmeras”, interrompeu Delgatti. Zambelli chegou a dizer que gostaria de ver os registros, mas que acredita que eles tenham sido apagados.

O hacker se disse arrependido e que pretende, após cumprir a pena a que foi condenado, “nunca mais me meter em confusão”. Entretanto, garantiu, que à época, conseguia invadir “qualquer sistema” – confessando, inclusive, ter acessado os sistemas da rede Magazine Luiza para liberar uma conta dele próprio que estava bloqueada.

Falso mandado contra Moraes

A deputada, durante a sessão, não foi taxativa para negar que tinha ordenado a criação de um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento falso era assinado pelo próprio ministro, trazia ordens para quebra de sigilo bancário e bloqueio de valores e foi inserido pela dupla no sistema do CNJ.

Durante a oitiva, Delgatti explicou ter produzido o documento a mando da deputada. Segundo relatou, este foi o único arquivo produzido deliberadamente. Todos os demais, sustenta, teriam sido adicionados ao sistema por uma espécie de robô, que, de maneira aleatória, gerava mandados de soltura de criminosos que ele não conhecia.

“Vossa excelência [Zambelli] apenas pediu que eu prendesse o ministro Alexandre de Moraes, a quebra de sigilo e o bloqueio de valor. Enquanto eu mexia no sistema, ele emitiu esses alvarás de forma aleatória, de pessoas que nem sei quem são”, prosseguiu.

A deputada rebateu o hacker com menções à condição de saúde e a medicamentos que ele alegadamente usa. Neste momento, ouviu uma reprimenda do presidente da CCJ, o deputado Paulo Azi (União Brasil-BA). Se desculpou e passou a usar outros argumentos para atacar o comparsa.

“Você [Delgatti] teve que corrigir o português, e eu não cometo falhas de português, principalmente em objetos escritos, em cartas escritas. Daí dá pra perceber que é mentira”, afirmou Zambelli.

Delgatti foi ouvido como testemunha pelos deputados da CCJ que analisam a possível cassação da bolsonarista. Antes de discutir com o hacker, a parlamentar chegou a dizer, via videoconferência, que não sabia que participaria da sessão desta quarta, e que não estava em condições de participar. Após conversa com seu advogado, passou a responder a perguntas.

A dupla foi condenada no mesmo processo, por invasão aos sistemas do CNJ. Zambelli teria sido a mandante do crime (e foi condenada a 10 anos de prisão); Delgatti, o executor (condenado a 8 anos). Na sentença que determinou a prisão, o Supremo Tribunal Federal também pediu a perda do mandato da parlamentar. É justamente este ponto que, para sair do papel, precisa passar pelo escrutínio da Câmara.

Ainda nesta quarta, às 14h, acontece o depoimento do assistente técnico da defesa na ação penal, Michel Spiero. Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, e o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio também foram incluídos como testemunhas pela defesa da deputada federal.

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