Política

Yunes: em meio a escândalo, outro auxiliar de Temer fica pelo caminho

Assessor deixa o Planalto após ser apontado, em delação vazada, como intermediário de propina que teria sido solicitada por Temer

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Depois de Romero Jucá e Geddel Vieira Lima, Michel Temer perdeu outro integrante do núcleo duro de seu governo. Nesta quarta-feira 14, José Yunes entregou sua demissão do cargo de assessor especial do gabinete presidencial após ser apontado como intermediário de propina que teria sido pedida por Temer para a Odebrecht.

Na carta enviada a Temer, Yunes afirma que tomou a decisão “em respeito à família”, para “preservar a dignidade” e “manter acesa a chama cívica” que tem pelo País. 

“Nos últimos dias, senhor presidente, vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento e cuja existência passei a tomar conhecimento nos meios de comunicação, baseada em sua fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie de uma doação destinada ao PMDB”, disse Yunes na carta enviada a Temer.

O nome de Yunes chegou às manchetes na sexta-feira 9, após o vazamento da delação de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. No depoimento aos procuradores responsáveis pela Operação Lava Jato, Melo Filho narrou ter enviado um emissário para entregar dinheiro vivo no escritório Yunes em São Paulo em 2014.

O dinheiro seria parte, ainda segundo o delator, de um total de 10 milhões de reais acertados entre Temer e Marcelo Odebrecht, o dono da construtura, em um jantar realizado em maio no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. 

Esse montante de 10 milhões, afirma o delator, deveria ser dividido em duas partes: 6 milhões de reais para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, então candidato a governador de São Paulo, e 4 milhões para Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil, que distribuiria o valor para outros candidatos do PMDB.

A denúncia evocou a relação de Temer com o advogado, que já se autodenominou “psicoterapeuta político” do presidente e é seu amigo há cinco décadas. No fim de novembro, a conexão foi trazida à tona pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Réu na 13ª Vara Federal de Curitiba, na qual tramita a Lava Jato em primeira instância, Cunha arrolou Temer como testemunha e apresentou uma lista de 41 perguntas a serem feitas para Temer. O juiz Sergio Moro barrou, entretanto, 21 dessas questões, incluindo as três que citavam Yunes.

Nos questionamentos, Cunha perguntava sobre qual era a relação de Temer com Yunes e se o presidente “recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB”. Na terceira pergunta, Cunha levantava a possibilidade de caixa dois ou propina ao indagar se as contribuições “foram realizadas de forma oficial ou não declarada”.

Na ocasião, Moro considerou as 21 perguntas excluídas como inapropriadas ou sem pertinência com o objeto da ação penal. Para o mundo político, a simples apresentação das perguntas por parte da defesa de Cunha foi uma sinalização do deputado cassado a respeito do potencial explosivo que uma delação premiada por parte dele poderia ter. 

Na delação de Melo Filho, surge a indicação de que Cunha não apenas conhecia o esquema como seria parte dele. No depoimento, o delator diz que parte do pagamento pedido por Temer, aproximadamente 1 milhão de reais, foi destinada a Cunha, segundo lhe informou à época Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil.

Melo Filho relata reclamações de Cunha pela demora na confirmação do pagamento. “Procurei Eduardo Cunha para acalmá-lo e esclarecer que não tinha conhecimento de que o pagamento feito a Eliseu Padilha seria repassado a ele e quais eram os valores que havia sido definidos, pois isso não era determinado pela empresa”, diz o delator.

Na carta de demissão, Yunes volta a negar a qualquer envolvimento com corrupção. “Repilo com a força de minha indignação essa ignominiosa versão”, afirma.

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