Política

Wesley Teixeira abre crise no PSOL por dinheiro de Arminio

Uma resolução da legenda proíbe contribuições vindas do setor financeiro

Arminio Fraga e Wesley Teixeira
Teixeira, nascido e criado em Duque de Caxias, é uma liderança negra em ascensão. 'Ele tem posições claras contra o racismo e a desigualdade', diz Fraga, ao justificar a contribuição. Foto: Defensoria Pública/RJ e Mauro Pimentel/Folhapress Teixeira, nascido e criado em Duque de Caxias, é uma liderança negra em ascensão. 'Ele tem posições claras contra o racismo e a desigualdade', diz Fraga, ao justificar a contribuição. Foto: Defensoria Pública/RJ e Mauro Pimentel/Folhapress
Apoie Siga-nos no

Nem foi preciso apurar os votos para que a estreia eleitoral do jovem Wesley Teixeira, de 24 anos, possa ser considerada marcante, independentemente do resultado. O candidato a vereador em Duque de Caxias, cidade com altos índices de violência e longo histórico de crimes contra políticos na Baixada Fluminense, é uma aposta do PSOL por sua militância negra, ligação com os evangélicos (Teixeira é filho de pastores) e apelo jovem. Essas características o levaram a uma reunião via internet com potenciais doadores do mercado financeiro. O psolista impressionou a plateia e angariou 75 mil reais de Bia Bracher e João Moreira Salles, herdeiros do Banco Itaú, e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC. Sem saber, Teixeira abriu uma crise institucional no partido.

 

“Não dá para ser anticapitalista e receber grana de banqueiro.” A crítica, e variações ao infinito, inunda as redes sociais do candidato, que se considera vítima de um “linchamento virtual”. Quadros importantes e uma corrente específica do PSOL da qual Teixeira fazia parte, a Insurgência, alegam que receber dinheiro de integrantes da banca não condiz com o estatuto do partido – o texto especifica que “não serão aceitas contribuições e doações financeiras provindas, direta ou indiretamente, de empresas multinacionais, de empreiteiras e de bancos ou instituições financeiras nacionais”. 

O racha resultou em acusações de racismo institucional feitas por Douglas Belchior, do PSOL de São Paulo, alimentou a hipótese de que Teixeira sofre alguma sanção interna, e ganhou destaque nacional com a ameaça do deputado Marcelo Freixo de deixar a legenda caso o candidato venha a ser punido. Na esteira, reacendeu o debate sobre a desunião do campo progressista.

“Os ataques mostram que nem sempre sabemos quem são nossos inimigos, e quem me ataca não sabe qual é a prioridade neste momento”, rebate Teixeira. Lidar com as consequências, confessa, atrapalha a campanha. “Sou obrigado a gastar meu tempo para explicar a situação, mas é algo que tenho de fazer.”

O jovem agradece, porém, o apoio de nomes de peso do partido, em especial Freixo e Áurea Carolina, candidata à prefeitura de Belo Horizonte, e de Sueli Carneiro, diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, que articulou a reunião com os doadores.

Ataques mostram que nem sempre sabemos quem são nossos inimigos, e quem me ataca não sabe qual é a prioridade neste momento, diz Teixeira

A decisão de aceitar as doações, diz, foi determinada com integrantes da campanha e as críticas eram esperadas. “A luta é feita de camadas, tem aqueles que acreditam que é preciso uma mudança que dê em um novo mundo, como eu, e outros, que é preciso uma mudança clara, mas que não necessariamente seja algo radicalmente diferente, como acredito ser o caso do Armínio Fraga, por exemplo. Mas, principalmente, nos encontramos na defesa da democracia e no repúdio ao governo atual.”

Dos três doadores, Fraga, hoje sócio da Gávea Investimentos, é o mais citado nas críticas por também ter contribuído para a campanha de Pedro Duarte, candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo Novo, partido que representa o oposto ideológico do PSOL.

Com a hipótese levantada de que a candidatura de Teixeira sofra alguma sanção, entre elas até a devolução dos valores arrecadados, o ex-presidente do Banco Central afirma que não se ressente do imbróglio criado, que “o partido pode fazer o que quiser, cabe ao eleitorado julgar”, além de que “não está apoiando partidos, mas candidatos”.

Fraga afirma ter decidido doar após ter conversado diretamente com Teixeira, no momento em que o candidato se apresentou e respondeu a perguntas. Apadrinhado por Pedro Abramovay, diretor da Open Society na América Latina, o jovem foi classificado pelo financista como “alguém com posições muito claras contra o racismo e a desigualdade, além de ter uma energia pessoal entusiasmante em uma região difícil”.

Ele também não vê uma incoerência direta e instantânea entre o progressismo e o mercado financeiro: “Podemos fazer estudos e chegar numa correlação, mas até lá não é bom generalizar”.

Outros integrantes importantes do PSOL reforçaram as críticas. Em nota, a deputada federal Talíria Petrone resume a visão de muitos correligionários. “O enfrentamento político não será feito com colaboração do grande capital”, anota. “Doadores de campanha se tornam definidores das políticas aprovadas e implementadas por seus ‘apadrinhados’.” A mesma crítica, lembra a parlamentar, foi dirigida a Luciana Genro e Freixo quando estes receberam doações parecidas em outras eleições.

O enfrentamento político não será feito com colaboração do grande capital, diz Talíria Petrone

Dirigente do PSOL em Duque de Caxias, Carol Almeida ainda torce pela vitória de Teixeira, a quem conhece há anos, mas acredita que ele tomou uma decisão incorreta: “Tínhamos a expectativa de eleger o Wesley, não precisava de dinheiro de banqueiro”. Segundo ela, o episódio não racha o partido, mas levanta um tema sensível e que deveria ser mais bem discutido. “Somos anticapitalistas e esses doadores se apoiam inteiramente no sistema capitalista, na exploração trabalhista, para fomentar mais exploração, o que não podemos concordar.”

O PSOL ainda discute uma sanção a Teixeira, mas não há expectativa de que sua candidatura seja barrada. Enquanto isso, o jovem segue com sua agenda por Duque de Caxias: “Vamos ganhar e mostrar que existe uma esquerda na cidade”. Eis a questão: com ou sem dinheiro de banqueiros?

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo