Política
Violência/ Tiros em Paraisópolis
Bolsonaro explora na tevê ‘ataque’ contra Tarcísio, que nega elo político


Na segunda-feira 17, Tarcísio Freitas, candidato ao governo de São Paulo, precisou encerrar às pressas um compromisso de campanha em Paraisópolis, uma das maiores favelas da capital paulista. Um tiroteio interrompeu a agenda do ex-ministro de Jair Bolsonaro, que visitava o recém-inaugurado polo universitário de um projeto social na comunidade.
Lamentavelmente, o infortúnio faz parte da rotina dos moradores da região, habituados à violência que grassa nas periferias dos grandes centros urbanos. Ciente disso, Tarcísio tratou de afastar a possibilidade de ter sido alvo de um atentado. “Não tem nada a ver com a política”, disse. Seu ex-chefe teve, porém, entendimento diferente e explorou o caso na tevê.
No horário eleitoral, o locutor da propaganda de Bolsonaro informa que “o candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis”. Na sequência, ele lembra que o ex-capitão foi vítima de um atentado à faca na campanha de 2018 e menciona o caso em que um homem de 22 anos foi preso, na semana anterior, por atirar contra uma igreja evangélica em Fortaleza momentos antes de um culto com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
“Seguiremos trabalhando forte e de cabeça erguida contra o crime”, encerra o narrador. Há tempos, Bolsonaro tenta associar o PT ao PCC, fake news censurada pelo Tribunal Superior Eleitoral. No debate da Band, o ex-capitão foi além: disse que Lula foi recebido por traficantes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e chegou a usar um boné com uma sigla associada aos criminosos. Outra insanidade. O petista foi ovacionado por milhares de moradores da comunidade e a sigla CPX, estampada no boné, é apenas uma abreviação de “complexo” – a própria polícia fluminense recorre ao termo ao divulgar suas operações nos conglomerados de favelas.
Em Paraisópolis, a troca de tiros com a polícia resultou na morte de um homem de 38 anos, suspeito de roubo. Não houve feridos entre os integrantes da comitiva de Tarcísio, que recebeu o apoio do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), no segundo turno. Mas nem o tucano nem Bolsonaro têm responsabilidade sobre a violência no estado, claro.
Não passarão!
Na sexta-feira 14, durante um espetáculo no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, o cantor e ator Seu Jorge foi vítima de bestiais ataques racistas. Tudo começou quando o artista convidou um jovem negro para tocar cavaquinho no palco e, na sequência, esboçou um discurso contra a redução da maioridade penal e o genocídio da juventude negra periférica. Foi o que bastou para parte da plateia xingá-lo de “safado” e “vagabundo”, em meio à imitação de guinchos de macacos. Em vídeo divulgado após o episódio, Seu Jorge disse já ter ficado incomodado ao participar, antes do show, de um jantar de gala no clube onde os únicos negros presentes eram os funcionários que serviam a mesa. E acrescentou: “Não cederemos um milímetro sequer ao ódio e cobraremos das autoridades que a justiça prevaleça”.
Julgamento/ A culpa é do papai
Na Espanha, Neymar Jr. joga a responsabilidade nas costas de Neymar sênior
“Assino tudo o que ele me diz para assinar”, alega o infante – Imagem: Josep Lago/AFP
Investigado por fraude e corrupção, o atacante Neymar afirmou a um tribunal de Barcelona, na terça-feira 18, que não participou das negociações sobre sua transferência do Santos para o Barcelona em 2013. “Meu pai sempre cuidou disso e sempre cuidará. Assino tudo o que ele me diz para assinar”, disse o atleta em juízo. O caso é resultado de uma denúncia feita pela empresa de investimentos DIS, que detinha 40% dos direitos de Neymar quando ele atuava no clube paulista. A companhia alega não ter recebido a fatia legítima do negócio porque o valor foi subestimado, um artifício usado pelo jogador para pagar menos impostos na transação.
Agora, os promotores espanhóis pedem que Neymar seja condenado a dois anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 10 milhões de euros. Eles também solicitam uma pena de cinco anos de prisão para Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, e multa de 8,4 milhões de euros para o clube catalão. O atacante brasileiro nega qualquer irregularidade na transferência, mas, por via das dúvidas, tratou de tirar o corpo fora e atirar o próprio pai, responsável pelo gerenciamento de sua carreira, na fogueira.
O patronato em campanha
Confirmando um dos principais temores da campanha de Lula, as denúncias de coação eleitoral feitas ao Ministério Público do Trabalho aumentaram de 45 para 334 no segundo turno da corrida presidencial. O levantamento foi divulgado pela Promotoria na segunda-feira 17. Como previsto, a vasta maioria das acusações é contra empresários bolsonaristas que estariam ameaçando os funcionários com cortes na equipe, caso o líder petista vença as eleições. Alguns patrões condicionam a oferta de benefícios trabalhistas à reeleição de Jair Bolsonaro.
Mesmo a duas semanas da votação, o número de relatos é maior que o registrado em toda a campanha de 2018. Na ocasião, o MPT recebeu 212 denúncias de assédio eleitoral envolvendo 98 empresas.
Crise migratória/ Despojados de dignidade
ONU pede apuração sobre os refugiados nus entre a Turquia a Grécia
Os imigrantes foram obrigados a se despir e entrar em botes – Imagem: Redes sociais
“Profundamente angustiada”, a ONU solicitou, na segunda-feira 17, uma investigação sobre as violações aos direitos humanos dos 92 refugiados fotografados nus na fronteira da Grécia com a Turquia. Sem documentos e oriundos sobretudo do Afeganistão e da Síria, eles foram encontrados pela polícia grega na última sexta-feira 14, perto da fronteira terrestre entre os dois países. No grupo de homens havia também crianças.
De acordo com as autoridades gregas, as vítimas foram levadas para a fronteira em três veículos militares turcos, antes de serem obrigadas a tirar a roupa e embarcar nos botes infláveis. O governo turco nega as acusações e responsabiliza a Grécia pelo episódio. Ambos os países colecionam casos de abusos praticados contra imigrantes ilegais.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1231 DE CARTACAPITAL, EM 26 DE OUTUBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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