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Violência/ Terror bolsonarista

Golpistas tentam invadir a sede da Polícia Federal, depredam delegacia e queimam três carros e cinco ônibus em Brasília

Violência/ Terror bolsonarista
Violência/ Terror bolsonarista
Imagem: Mateus Bonomi/Anadolu Agency/AFP
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Revoltados com a diplomação do presidente Lula e com a prisão do cacique José Acácio ­Tserere ­Xavante, acusado de arregimentar indígenas para participar de atos golpistas, radicais bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília, depredaram a 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte, e vandalizaram diferentes pontos da capital federal na noite da segunda-feira 12. A turba incendiou três automóveis e cinco ônibus, de acordo com um balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros na manhã seguinte.

A Polícia Militar precisou repelir os extremistas com bombas de efeito moral e balas de borracha, para impedir que eles empurrassem um ônibus incendiado de um viaduto. Mais cedo, bolsonaristas promoveram uma manifestação em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente em exercício. Os militantes gritavam “fica, Bolsonaro” e “supremo é o povo”, além de ofensas a Lula. O ex-capitão chegou a se encontrar com os manifestantes, mas permaneceu em silêncio e limitou-se a participar de uma oração.

Após a noite de terror, o secretário de Segurança do Distrito Federal, Júlio Danilo Souza Ferreira, prometeu responsabilizar os envolvidos em atos de vandalismo: “Temos imagens, filmagens, temos como identificar”. Já o senador eleito Flávio Dino, futuro ministro da Justiça de Lula, protestou contra a omissão do governo federal diante dos recorrentes ataques à democracia: “Não há hipótese de haver passos atrás na garantia da ordem pública em razão da violência. O Estado brasileiro tem o dever de agir”.

Tserere Xavante teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República. Segundo a Corte, a decisão baseia-se na necessidade de garantia da ordem pública, “diante dos indícios, nos autos, da prática dos crimes de ameaça, perseguição e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, previstos no Código Penal”. Acusado de convocar atiradores para impedir a posse de Lula, o indígena foi transferido para a penitenciária da Papuda.

Por ordem de Moraes, a PF cumpriu 81 mandatos de busca e apreensão contra envolvidos em atos golpistas na quinta-feira 15. Entre os alvos, figuram empresários que financiam os radicais bolsonaristas.

Os patriotas do tráfico

Seis dos 177 caminhões que saíram do norte de Mato Grosso para manifestações golpistas em Cuiabá estão envolvidos em ocorrências de tráfico de drogas, contrabando e transporte ilegal de madeira, revela um relatório da Polícia Rodoviária Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal. Os veículos foram identificados após passarem por uma praça de pedágio em Nova Mutum, a 269 quilômetros de Cuiabá, em 6 de novembro. Registrado em nome da Sipal Indústria e Comércio Ltda. e de Sérgio Bedin, um dos veículos foi flagrado, em outubro deste ano, com 3 toneladas de maconha e skank no município catarinense de Palhoça. A droga estava escondida em uma carga de farelo de soja e dois suspeitos foram presos na ocasião. Todos os caminhões que participaram da mobilização golpista foram autuados com multa de 100 mil reais.

Peru/ Estado de crise

Manifestantes pedem a renúncia da nova presidente

O país mergulha no caos após a prisão de Castillo – Imagem: Ernesto Benavides/AFP

A imediata prisão, na quarta-feira 7, de Pedro Castillo, após uma heterodoxa tentativa de autogolpe e da aprovação do ­impeachment no Congresso, não conteve a crise política no Peru. Uma semana depois dos acontecimentos alucinantes que encerraram de forma trágica o curto mandato de 16 meses do sindicalista, sete manifestantes haviam perdido a vida em confronto com as forças de segurança. Os protestos pedem a libertação de Castillo e a renúncia de Dina Boluarte, a vice-presidente alçada ao poder. Sindicatos rurais e entidades indígenas iniciaram greve por tempo indeterminado. Para tentar acalmar os ânimos, Boluarte anunciou a antecipação das eleições gerais de 2026 para 2024. Não bastou. Os manifestantes querem a dissolução imediata do Parlamento e a convocação de outro escrutínio o mais cedo possível. Da penitenciária, Castillo pôs lenha na fogueira. Em carta enviada aos apoiadores, o presidente cassado afirma ter sido “raptado” e chama a antiga companheira de chapa de “usurpadora”. “Falo agora para reiterar que sou incondicionalmente fiel ao mandato popular e constitucional que detenho e não renunciarei ou abandonarei minhas altas e sagradas funções”, escreveu. Colômbia, Bolívia, Argentina e México saíram em defesa do destituído e exortaram as instituições a se abster “de inverter a vontade popular expressa com o sufrágio livre” e a respeitar “plenamente os direitos humanos” de Castillo. Na segunda-feira 12, o governo peruano decretou estado de emergência nas regiões de maior conflito.

Fusão nuclear

O Departamento de Energia dos EUA anunciou uma “conquista histórica” na fusão nuclear. Pela primeira vez, produziu-se mais energia a partir da fusão do que da carga do laser usado para alimentar a experiência. O “ganho de energia líquida” é um passo importante na busca por uma fonte limpa e ilimitada. “Os cientistas reproduziram condições encontradas apenas nas estrelas e no sol”, declarou Jennifer Granholm, secretária de Energia. “Estamos apenas no começo.”

Finanças/ Magnata em apuros

O rei das criptomoedas é detido nas Bahamas

Imagem: Saul Loeb/AFP

A dolce vita no Caribe acabou para Sam Bankman-Fried, responsável pela falência da FTX, plataforma de criptomoedas. O jovem magnata foi preso na segunda-feira 12 nas Bahamas, a pedido das autoridades dos Estados Unidos sob a acusação de fraude. A FTX, até a espetacular debacle, era avaliada em 32 bilhões de dólares. Segundo John Ray, novo diretor da plataforma que tenta juntar os cacos, os ex-executivos da empresa, a começar por SBF, demonstraram “fracasso total” em todos os níveis de controle e gastaram sem limites o dinheiro dos clientes. A FTX, uma das maiores corretoras de moedas cripto do mundo, interrompeu de forma repentina a movimentação das contas no início de novembro, dias antes de decretar falência. No período da bonança, SBF vivia cercado de celebridades (Gisele Bündchen e Katy Perry, entre outras) e de políticos influentes, incluídos Bill Clinton e Tony Blair. Era um grande doador das campanhas do Partido Democrata.

Briga de condomínio

Três mulheres, entre elas uma amiga de Giorgia Meloni, primeira-ministra, foram mortas no domingo 11 após um homem disparar contra um grupo reunido em um café em Roma. Outros quatro frequentadores ficaram feridos. As vítimas participavam da reunião da associação de moradores de um edifício localizado nas proximidades. Segundo a polícia, o atirador apresenta histórico de desavenças com integrantes da associação e teria entrado no café aos gritos de “vou matar todos vocês”. Meloni lamentou nas redes sociais a morte da amiga, Nicoletta Golisano. “Era uma mãe protetora, amiga sincera e discreta, mulher forte e frágil ao mesmo tempo”, escreveu no Facebook.

UE/ Fado grego

Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu, é presa

Kaili, acusada de receber propina do Catar – Imagem: Genevieve Engel/Parlamento Europeu

Apresentadora da Mega TV, primeiro canal privado da Grécia, Eva Kaili percorreu trajeto cada vez mais comum, das telas para a política. Em 2014, a celebridade televisiva foi eleita deputada do Parlamento Europeu e, no início deste ano, conquistou uma das 14 vice-presidências da Casa. O céu era o limite na carreira da política de 44 anos de traços helênicos. Até a queda ao Hades. Na sexta-feira 9, Kaili foi presa em flagrante com “sacolas de dinheiro”, segundo o Ministério Público da Bélgica. A parlamentar é acusada de favorecer um governo do Golfo Pérsico, fala-se no Catar, em troca de propina e responderá pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. Após a detenção, Kaili acabou expulsa do PAOK, o partido socialista grego, e afastada das comissões para as quais havia sido indicada. Várias legendas defendem a cassação do mandato. Em comunicado, os procuradores apontaram a suspeita de “pagamento de vultosas quantias em dinheiro ou da oferta de presentes significativos a terceiros com posição política ou estratégica no seio do Parlamento Europeu”.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1239 DE CARTACAPITAL, EM 21 DE DEZEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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