Política

Vigília pró-Lula completa 100 dias com novo local e mobilização menor

Nos primeiros dias da prisão, a média diária era de 500 a 600 manifestantes no acampamento. Hoje, cerca de 50 militantes permanecem no local

Manifestantes protestam no novo local, em frente à sede da PF onde Lula está preso
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A vigília Lula Livre completou 100 dias na segunda-feira 16. Desde a noite de 7 de abril, quando um grupo de manifestantes que aguardava a chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi atacado com balas de borracha e gás lacrimogênio pelas policias Federal e Militar, em Curitiba, no portão principal da sede da Superintendência da PF, mais de trinta mil pessoas já se revezaram na praça Olga Benário, a cerca de 100 metros do prédio.

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“São cem dias de resistência. Resistência na defesa do ex-presidente Lula e de sua inocência. Resistência pelos direitos do povo brasileiro que foi encarcerado junto com ele. E na política, como dizia o grande libertador José Martin, ‘resistir é tão importante quanto arremeter’” afirmou a senadora e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

A ideia surgiu quando a direção nacional do PT tomou conhecimento da prisão de Lula e de que ele seria transferido à capital paranaense. “Tomamos a decisão de nos organizar para resistir. E não vamos sair enquanto ele não for liberto. Todos os dias os militantes estão lá. São pessoas que vem de várias regiões do país. Parlamentares, dirigentes de movimentos sociais, trabalhadores, estudantes, enfim, homens e mulheres que fizeram desta vigília uma referência de resistência, de luta e de solidariedade ao presidente Lula”

Desde então, uma série de questões jurídicas e ataques pessoais entre manifestantes pró e contra, inclusive com armas de fogo, transformou as cercanias da PF, em alguns momentos, em quase um palco de guerra. Uma queda de braço judicial entre a prefeitura de Curitiba e os movimentos sociais responsáveis pela vigília, culminou com um interdito proibitório que tentava de todas as maneiras impedir a presença dos manifestantes.

Em um primeiro momento, o foco principal do imbróglio jurídico era transferir das ruas do bairro Santa Cândida o acampamento que chegou a acomodar mais de mil pessoas em barracas improvisadas pelas calçadas. Um acordo entre as partes definiu que um espaço privado, alugado e pago pelos próprios movimentos, a cerca de 1,5 km da sede da PF, como novo local. Nascia ali o acampamento Marisa Letícia. Todos os dias, os manifestantes se deslocam até a praça Olga Benário, pela manhã e à noite, para dar “bom dia” e “boa noite” ao ex-presidente.

Edna Dantas, militante do movimento por moradias populares em Curitiba, está desde o primeiro dia à frente da organização. “O acampamento é muito mais que um local de pouso, de parada. Trata-se de um centro de resistência ao arbítrio e a injustiça, que é a prisão do presidente Lula” afirmou. Ela faz questão de afirmar que o local não recebe recursos financeiros de partidos políticos nem sindicatos, sobrevive com doações de alimentos e dinheiro de militantes. Alvo de quatro atentados, sendo o mais grave que resultou no ferimento de duas pessoas, até hoje as autoridades policiais não prenderam nem identificaram quem foram os agressores.

Dantas estima que cerca de dez mil pessoas já passaram pelo acampamento. Nos primeiros dias da prisão de Lula, a média diária era de 500 a 600 pessoas. Hoje, cerca de 50 militantes permanecem no local. “No início, acreditávamos que a pressão popular iria libertar Lula. Achávamos que todo esse movimento seria por pouco tempo. Com o tempo, as pessoas precisavam retornar aos seus lares, ao trabalho, aos afazeres. Ficamos nós e vamos resistir”. O projeto é que, mesmo que Lula venha a ser libertado antes das eleições de outubro, o acampamento irá permanecer para servir de ponto de debate e luta por sua eleição à presidência da República.

Mas nada disso arrefece o ânimo dos manifestantes. “Não é a quantidade de pessoas que importa, mas a luta, a resistência, o grito de guerra e nossa presença nas ruas e nas vigílias”. Segundo a coordenadora, o movimento hoje chega a todos os cantos pelas redes sociais. “Duas vezes por dia acionamos as redes sociais. Recebemos apoio de todo o país. Uma vez por semana fazemos uma prestação de conta de tudo o que acontece”.

Outro grande empecilho foi sanado na última segunda-feira, no centésimo dia da vigília. O local das manifestações deixou a praça Olga Benário, a esquina democrática que ficava a 100 metros, para se instalar em frente à sede da Policia Federal. Literalmente do outro lado da rua, em uma esquina, de onde se avista o prédio. Segundo a coordenação do movimento Vigília Lula Livre, a ação é uma forma de cumprir os acordos respeitando o interdito proibitório.

Daniel Godoy, advogado da Vigília, explica que não existe irregularidade nenhuma: “O direito de livre acesso a uma área privada não pode ser cerceado por qualquer ação policial, a não ser que haja alguma infração legal, mas aqui não há nenhuma”. Pelo acordo firmado, os militantes poderão diariamente ir à praça para os cumprimentos, mas não poderão mais permanecer. Agora, os gritos dos militantes que clamam pela liberdade de Lula, ecoam dentro dos corredores da sede da Policia Federal.

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