Política

Vídeos mostram fuga de garimpeiros na Terra Indígena Yanomâmi

A movimentação também foi vista por indígenas em sobrevoos na região da área demarcada

Foto: MICHAEL DANTAS / AFP
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Vídeos divulgados pelo governo federal mostram garimpeiros que atuam na região da Terra Indígena Yanomâmi deixando o local nos últimos dias. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, confirmou no sábado 4 que setores de inteligência e o  movimento indígena indentificaram a fuga.

“Temos essa informação de que muitos garimpeiros estão saindo”, disse a ministra em entrevista coletiva. “É bom que saiam mesmo. Retirar 20 mil garimpeiros demora um tempinho. Se eles começam a sair, estão corretos. Melhor para todo mundo se saem sem precisar da ação da força de segurança.”

Em uma das gravações é possível ver uma fila de garimpeiros se movimentando na mata, no que seria uma suposta retirada dos invasores. Segundo Sonia, a movimentação também foi vista por indígenas em sobrevoos na região da área demarcada.

O governo de Roraima também informou ter tido acesso “a fotos e vídeos de pessoas saindo espontaneamente” de garimpo localizado na Terra Indígena Yanomami.  “São homens, mulheres e crianças que, tendo conhecimento das operações que deverão ocorrer nos próximos dias, resolveram se antecipar e evitar problemas com a justiça”, informou a assessoria do Executivo estadual, em nota à imprensa.

Uma das preocupações é que essa retirada não signifique invasão posterior de outras áreas, como ocorreu há 30 anos, segundo Lucia Alberta Andrade, diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

“Nós, como governo federal, temos que tomar muito cuidado para que não ocorra, neste momento, o que aconteceu em 1992, quando aconteceu a desintrusão da Terra Indígena Yanomami, em que garimpeiros saíram e grande parte deles foram para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ou para outros garimpos ilegais que existem na Amazônia”, disse Lucia. “Então, temos que ter estratégias, que não podemos compartilhar com todos vocês, para que isso não ocorra. Temos que ter vigilância maior em todas as terras indígenas”.

Após visitar a Casa de Saúde Indígena (Casai) e o Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira (FAB), Sonia se reuniu com integrantes do Centro de Operações Emergenciais (COE), do governo federal, para atualizar as ações em andamento. Representantes de entidades indígenas e de organismos internacionais, como a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e os Médicos Sem Fronteiras, também estiveram presentes.

“Nesse momento, o atendimento é identificar essas prioridades e garantir o alimento próprio que o povo Yanomami come. Não é essas cestas com esses itens que que compõe, comumente, uma cesta básica, que vão resolver. Está se fazendo um estudo para a compra de alimentos dos produtores de outras terras indígenas. Ou mesmo na área yanomami, que tem produção de banana, de melancia, outros alimentos que eles comem, para serem adquiridos e oferecer [aos indígenas]”, observou.

É a segunda vez que a ministra vem ao estado para lidar com o problema. Há exatamente duas semanas, ela acompanhou uma visita do presidente Lula, depois que imagens de indígenas gravemente desnutridos chamaram a atenção da opinião pública nas últimas semanas e motivaram o governo federal a implementar medidas emergenciais para socorrer os yanômamis.

A repercussão também gerou uma onda de doações de alimentos, que estão sendo entregues em operações organizadas por militares das Forças Armadas. Até o momento, foram entregues mais de 3,2 mil cestas e 75 toneladas de alimentos e medicamentos.

Produção própria

Para a ministra, no entanto, é necessário que os próprios indígenas retomem a produção própria, o que só deve ocorrer com a retirada urgente dos mais de 20 mil garimpeiros que vivem na terra indígena.

“A gente está buscando esse plano também de produção de alimentos, que é o alimento próprio do povo Yanomami, entregando as ferramentas, as sementes, os insumos que precisam para que eles voltem a produzir os seus alimentos. Por isso, é urgente a retirada dos garimpeiros, para deixar o território livre, para que eles possam ter segurança em circular no território, plantar suas roças e viver ali livremente. É preciso fazer essa retirada, garantir a proteção do território e manter uma base permanente de fiscalização para evitar a volta dos invasores”, enfatizou.

Neste domingo 5, a ministra vai pessoalmente à Terra Indígena Yanomami ver de perto a situação dos indígenas. Ela visitará o polo base de Surucucu, que fica praticamente na fronteira do país com a Venezuela, cujo acesso só é possível por via área. A área tem sido fortemente atingida pelo garimpo ilegal.

(Com informações da Agência Brasil)

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