Política

Vídeo revela as ‘missões’ de Pazuello a Wizard: ‘acompanhar os grandes contratos’ e ‘forrar o Brasil de cloroquina’

‘Logo, logo você vai ver o Brasil forrado de medicamentos na fase ainda inicial do tratamento’, diz o empresário, que está na mira da CPI

Carlos Wizard e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Foto: Reprodução/Redes Sociais
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Um vídeo publicado nesta segunda-feira 21 pela IstoÉ reforça a atuação do empresário Carlos Wizard, o ‘Mr. Cloroquina’, em ações do governo de Jair Bolsonaro relacionadas ao combate à pandemia.

Trata-se do trecho de uma live promovida pelo veículo em maio de 2020, na qual o bilionário destaca o que o então ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, esperava dele. Segundo a revista, a gravação foi realizada no dia 19.

“Eu vou te apresentar o nosso ministro da Saúde, Eduardo Pazuello”, diz Wizard no vídeo.

“A missão que o general me passou foi de acompanhar os grandes fornecedores, os grandes contratos, que você sabe que o orçamento do Ministério da Saude é um dos maiores que temos na Nação, cerca de 150 bilhões de reais. Logo, logo você vai ver o Brasil forrado de medicamentos na fase ainda inicial do tratamento, cloroquina, hidroxicloroquina. Alguns fornecedores são nacionais, mas tem muita coisa que não é fabricada no Brasil e dependemos de fornecedores estrangeiros”, diz Wizard no vídeo.

O empresário está na mira da CPI da Covid sob a suspeita de integrar um ‘gabinete paralelo’ durante a pandemia. Ele deveria ter prestado depoimento à comissão no último dia 17, mas não compareceu ao Senado, sob a alegação de que está nos Estados Unidos. A comissão reagiu e solicitou à Justiça a retenção do passaporte e a condução coercitiva de Wizard – ambos os pedidos foram acolhidos.

Uma nova oitiva foi agendada para 30 de junho.

Asssista ao vídeo e, abaixo, leia mais detalhes sobre a convocação do empresário:

A convocação

O requerimento de convocação do empresário foi aprovado pela CPI no dia 26 de maio. O responsável pelo pedido é o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que ressaltou a importância de aprofundar as apurações sobre o ‘gabinete paralelo’ de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro na pandemia.

Wizard, conhecido por fundar uma rede de escolas de idiomas, atuou como conselheiro do general Eduardo Pazuello durante sua passagem pelo Ministério da Saúde. Em junho do ano passado, foi convidado pelo então ministro a ocupar a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, mas não chegou a assumir o cargo.

A desistência veio na esteira de polêmicas e infundadas declarações sobre o novo coronavírus. Em 6 de junho de 2020, afirmou que o governo Bolsonaro não pretendia “desenterrar mortos”, ao rebater as acusações de subnotificação de dados. Também insinuou, sem provas, que estados e municípios teriam cometido fraudes nos números.

“Temos uma equipe de inteligência no ministério. Essa equipe encontrou indícios de que alguns municípios e estados estão inflacionando os dados para receber benefícios federais. Isso é lamentável”, declarou Wizard.

Ao recusar a secretaria, ele pediu desculpas pelas alegações que “tenham sido interpretadas como desrespeito aos familiares das vítimas da Covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”.

No ano passado, mesmo diante do agravamento da pandemia, não hesitou em defender posições contrastantes com as recomendações de especialistas. Em agosto, em entrevista à IstoÉ, criticou o confinamento, medida de sucesso em diversos países, sob a justificativa de que “o homem, por natureza, é um animal social, e o lockdown, longo e contínuo, provoca problemas psíquicos de difícil cura posterior”.

Na mesma ocasião, defendeu o chamado ‘tratamento precoce’ contra a Covid, o qual supostamente impediria que o paciente evoluísse “da fase um, que é praticamente uma síndrome gripal, para a fase dois ou três, quando precisará ser intubado e usar corticoides, o que pode levar ao óbito”.

Wizard é próximo da médica Nise Yamaguchi, defensora de primeira hora da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus, a despeito da ausência de validação científica.

2021 e a segunda onda da Covid-19 no Brasil chegaram, mas o bilonário Carlos Wizard não mudou o disco. Em entrevista à CNN Brasil em 13 de março, afirmou lamentar “muito o problema de colapso e por resistência do tratamento precoce, que foi recomendado pelo Ministério da Saúde, e que houve tanta resistência”.

Após a reportagem da emissora relembrar a ele que não existe qualquer comprovação de eficácia do ‘tratamento precoce’, Wizard emendou: “Eu acredito, eu sigo, eu defendo e eu pratico. De 15 em 15 dias, eu tomo o meu tratamento profilático, com hidroxicloroquina e ivermectina. Eu tomo vitamina D diariamente”.

Naquela entrevista, ainda afirmou ter sido chamado de ‘Mister Cloroquina’ e, questionado se aprovava o apelido, disse que gosta “de ser chamado de uma pessoa que defende a vida”.

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