Política
Vereadora diz que mães de autistas foram ‘castigadas por Deus’; Câmara de Arcoverde abre investigação
O presidente da Câmara de Arcoverde (PE) repudiou a declaração durante a sessão, e, com a repercussão, disse que o setor jurídico da Casa analisa um procedimento administrativo contra a parlamentar


A vereadora do município de Arcoverde, em Pernambuco, Zirleide Monteiro (PTB) está sendo investigada pela Câmara local, após dizer que uma mãe foi “castigada por Deus” por ter um filho com deficiência.
“Não preciso citar o nome da cidadã, que o castigo de Deus ele dá aqui em vida. Quando ela veio com um filho deficiente, é porque ela tinha alguma conta a pagar com aquele lá de cima. Ela já veio para sofrer“, afirmou a parlamentar durante a sessão plenária de segunda-feira 30.
“Qualquer ensinamento que a gente passa nessa vida serve como ensinamento para qualquer um, para que a gente não destrate outras pessoas com a chacota que ela fez durante o fim de semana. Quem faz aqui paga aqui mesmo”, completou.
A vereadora Zirleide Monteiro (PTB), do município de Arcoverde (PE), afirmou em sessão na Câmara da cidade que uma mãe havia recebido um “castigo de Deus” ao ter um filho com deficiência. O caso ocorreu na segunda-feira (30). #TerraBrasil #TerraNotícias #Política #Pernambuco… pic.twitter.com/DzRF7hwaDV
— Terra (@Terra) November 1, 2023
O motivo para a manifestação capacitista teria sido um vídeo compartilhado pela mãe, em forma de chacota, a uma queda que a vereadora sofreu em uma sessão plenária.
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Na sequência da fala da vereadora, o presidente da Casa, Wevertton Siqueira (Podemos), disse que Monteiro foi “infeliz” em sua manifestação, mas que ainda sim, sabia que ela “não disse por mal”.
“Eu quero lhe fazer um pedido, em forma de respeito com todas as mães que têm um filho deficiente”, disse ele. “Quero pedir desculpa, em nome da vereadora Zirleide, como presidente, a todas as mães que têm um filho deficiente aqui em Arcoverde, em Pernambuco e em todo o Brasil”, finalizou.
A parlamentar replicou, dizendo que: “Às outras mães eu deixo aqui o meu perdão. Só eu sei o que foi dito por essa pessoa durante esse fim de semana”.
Em nota, a Presidência da Câmara afirmou que está analisando o caso em conjunto com a Assessoria Jurídica da Casa, “para que o episódio seja conduzido de forma correta, legal e transparente”.
“Já existe um procedimento em trâmite, que foi protocolado, de imediato, encaminhado ao setor jurídico da Câmara, em seguida vai para as comissões respectivas, e será dada a resposta, garantindo a ampla defesa e o contraditório para a vereadora”.
O Instituto brasileiro de Defesa dos Direitos das pessoas com Autismo (IBDTEA), enviou ofício ao presidente da Câmara na terça-feira 31, “visando a abertura de processo administrativo disciplinar contra a vereadora, propondo a cassação do seu mandato”.
Os advogados argumentam que a conduta da parlamentar é crime contra a pessoa com deficiência, conforme o Art. 88 da Lei brasileira de inclusão, e pode gerar dois a cinco anos de reclusão e multa.
Em meio à repercussão, a parlamentar disse que foi “movida por agressões, mentiras e ofensas desferidas a minha pessoa, motivadas por diferenças políticas e uma política de baixo nível”.
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