Política

Vereador paranaense faz declaração preconceituosa sobre nordestinos e é rechaçado por colegas

A cena aconteceu durante sessão da Câmara dos Vereadores de Apucarana (PR) e foi gravada; assista

Antônio Garcia (União Brasil). Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Apucarana
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Ao discutir um projeto para valorizar o turismo na região de Apucarana (PR), o vereador Antônio Garcia (União Brasil-PR) fez, na última segunda-feira 14, uma declaração preconceituosa contra a população do Nordeste. Em sessão solene, o parlamentar afirmou que parte dos nordestinos “não gosta muito de trabalhar”.

Os parlamentares discutiam uma proposta para conceder a utilidade para a Associação dos Municípios do Vale do Ivaí Turismo, que é uma entidade voltada à valorização da cultura regional. Garcia votou favoravelmente à ideia, afirmando que a população local poderia, na sua visão, deixar de visitar o Nordeste e passar a fazer turismo em Apucarana.

“Vou votar favorável. Parabenizo o vereador Molina [autor da proposta] pelo projeto. Dizer que um projeto tão importante, o pessoal sai daqui e vai para o Nordeste. No Nordeste, o pessoal não gosta muito de trabalhar. Uma parte lá, não todos. Não vamos abranger todos não”, afirmou o vereador.

Confira o vídeo:

A fala foi repreendida, de imediato, por colegas da Casa. O vereador Moisés Tavares (Cidadania) afirmou, ainda durante a sessão, que “repudiava veementemente aqueles que têm qualquer tipo de preconceito com irmãos de outros estados”. Críticas foram feitas, também, pelo vereador Rodrigo Recife, da bancada do União Brasil na Câmara local.

Após a sessão, Antônio Garcia divulgou uma nota se desculpando pelo discurso. “Minha intenção e propósito jamais foi ofender ou mesmo manifestar qualquer sentimento de discórdia, bem como não foi minha intenção ou desejo provocar qualquer forma de preconceito ou falta de respeito”, justificou.

Reprodução de estereótipo

Em geral, manifestações de preconceito contra a região Nordeste, como a promovida pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), no início deste mês, têm em comum o fato de apontarem para os estados da região – ou para a própria população nordestina – como uma unidade uniforme, sem reconhecer, na maioria das vezes, as peculiaridades locais.

O Nordeste é dividido em nove estados e conta com quase 55 milhões de pessoas, segundo o Censo mais recente. Do ponto de vista do mercado de trabalho, é a região que conta com a segunda maior população em idade ativa: 26,6% do contingente nacional, segundo um levantamento específico sobre a região divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em fevereiro.

Historicamente, alguns elementos são marcantes na dinâmica de trabalho da região: é no Nordeste, por exemplo, que estão registradas as mais expressivas taxas de desemprego e os maiores índices de informalidade e precarização do trabalho. O fenômeno leva, segundo o estudo da FGV, a uma maior insegurança na região.

Insegurança e baixos salários, aliás, que levam a população mais precarizada do Nordeste – e, em maior medida, no Brasil – a buscarem, em não raros casos, mais de uma ocupação. 

Além disso, a literatura sobre as dinâmicas de trabalho no país – baseada em correntes teóricas e mensuração de dados e índice – não fornece respaldo ao argumento proferido pelo vereador paranaense. Nesse debate, seria preciso aferir os índices de satisfação no trabalho. Sob esse prisma, os dados mostram que, ao contrário do que ecoa a noção preconceituosa, a população nordestina, de uma forma geral, é a mais satisfeita com o seu trabalho, na comparação com as demais regiões do país.

Segundo o estudo do Instituto Brasileiro de Economia, 77,5% dos nordestinos se disseram satisfeitos com o seu trabalho. A média nacional da satisfação ficou em 76,2%. É preciso destacar que o patamar ocorre, inclusive, em um cenário de alta informalidade, conforme mencionado. 

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