Um vereador bolsonarista manobrou o regimento interno da Câmara de Vereadores de Aracaju e concedeu, na última quinta-feira 03, um título de cidadão aracajuano ao ministro da Saúde Marcelo Queiroga. A proposição, de autoria do vereador Pastor Diego (PP), sequer chegou a ser analisada pelos parlamentares.
Apesar de constar no expediente da quinta-feira, o projeto de decreto legislativo nº 60/2022 teve apenas um requerimento de urgência lido em plenário. CartaCapital apurou que o texto ainda não havia sido discutido na Comissão de Redação e Justiça, onde são analisadas todas as proposições antes de irem à votação no plenário.
Mesmo assim, Queiroga recebeu o título de cidadania aracajuana numa cerimônia que contou com a presença do prefeito da capital, Edvaldo Nogueira (PDT), e do senador eleito Laércio Oliveira (PP). O secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Câmara, também foi agraciado com a honraria.
A tática utilizada pelo vereador bolsonarista foi omitir o sobrenome “Queiroga” da proposição para não gerar “alarde”. O texto original, ao qual a reportagem teve acesso, diz que o título seria concedido “ao senhor Marcelo Antônio Cartaxo Lopes”, sem qualquer indicativo de que se tratava do ministro da Saúde.
Procurado, o vereador Pastor Diego não retornou os contatos. CartaCapital também procurou o presidente da Câmara, Nitinho Vitale (PSD), e o ministro Marcelo Queiroga, que não se manifestaram.
“O projeto bolsonarista é antidemocrático e não é só nacional. Entregar um título sem a aprovação de parlamentares é golpe. É lamentável ver ainda figuras políticas participando de um ato que não segue os ritos do Parlamento, desrespeitando nossa cidade. Precisamos de explicações”, afirmou a vereadora Linda Brasil (PSOL), que estuda pedir a revogação da solenidade de entrega da honraria.
Em Aracaju, Queiroga participou da abertura do 8º Congresso Norte-Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde, de onde saiu sob vaias e acompanhado por seguranças. Segundo relatos, o ministro chegou a xingar a plateia que o assistia de “covarde”. “Vocês só sabem fazer bagunça. Nós não temos medo. Podem ficar vaiando”, completou.
Em outro momento, ele criticou a gestão da pandemia feita pelo Consórcio Nordeste e mencionou a Venezuela. “Disseram que iam comprar respirador. Não compraram nenhum. Zero. É assim que vocês querem unir o Brasil? Vocês vão ter a resposta em breve”, afirmou, enquanto espectadores abandonavam o evento.
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