No fim de maio, como parte das negociações em prol de uma base estável no Congresso, o governo Lula deu aval à tramitação no Senado do chamado “PL do Veneno”. O projeto, aprovado no ano passado na Câmara dos Deputados, é uma reivindicação antiga da bancada ruralista e facilita o processo de aprovação de agrotóxicos. Coube ao petista Fabiano Contarato a relatoria da proposta. “Princípio básico: ninguém é a favor de produtos cancerígenos, ninguém é a favor da continuidade de produtos que afetem gravemente o meio ambiente”, declarou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ao fim de uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o relator Contarato, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner, e a ex-ministra e líder do PP, Tereza Cristina.
Pela pressa e o discurso dos ruralistas, parece que o Brasil exerce uma rigidez stalinista no controle dos agrotóxicos. Ao contrário. A licenciosidade das autoridades beira a concupiscência. Fertilizantes proibidos na Europa e nos Estados Unidos, por seus danos à saúde humana e ao meio ambiente, são largamente utilizados nas lavouras nativas, sem qualquer controle. Em 2021, o País, conforme dados atualizados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, foi o recordista mundial no consumo: 719,5 mil toneladas, bem acima do segundo colocado, os Estados Unidos, conforme se vê nos gráficos abaixo. Também somos líderes na relação quilo por hectare. A proporção de 10,9 é quase o dobro daquela registrada na Argentina, vice-campeã nesse quesito. Em um ano, a coisa só piorou. Segundo o Ibama, em 2022, o uso de agrotóxicos no campo brasileiro atingiu a marca de 900 mil toneladas.
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