Política

Velha mídia e representação da política

A velha mídia tenta compor o governo brasileiro como algo que não tem projeto. Não é verdade

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Por Emiliano José

Há um evidente esforço político para desqualificar a política. O esforço parte de modo evidente da mídia brasileira. Melhor, da velha mídia – aquela oligarquia que há décadas tenta monopolizar o discurso no Brasil, participa de tentativas de golpe e de golpes, como os de 1954 ou o de 1964, torna-se conivente com os governos com os quais concorde, combate acidamente aqueles dos quais discorde, e sempre, aberta ou dissimuladamente, trava uma espécie de queda de braço com o Legislativo no sentido de representar o povo, sem que tenha um único voto para tanto.

Vivemos um momento curioso, com aspectos paradoxais. Um país que nos últimos anos, pela política, e sob o jogo aberto da democracia, promoveu transformações jamais vistas em nossa história, especialmente nas condições de vida do povo brasileiro, malgrado não tenhamos, por impossibilidade, ainda superado as tantas mazelas sociais que acumulamos durante séculos. Essa característica é sumariamente desconhecida pela velha mídia, e é destacada no exterior, para desespero de uns tantos colunistas absolutamente tomados pela visão neoliberal do mundo.

As manchetes, os lides, o corpo das matérias, reportagens, artigos das revistas, dos jornais e das emissoras de tevês revelam outro Brasil – aquele inteiramente tomado pela corrupção, como se verdadeiro fosse. Lembro-me de um conceito desenvolvido pelo professor Venício Lima (Cenário de Representação da Política) que cai como uma luva para a análise desse paradoxo. Diria que a velha mídia, tenta, a todo custo, compor um cenário de um país sem projeto, de um governo leniente com a corrupção, de um Legislativo inteiramente tomado por ladrões do dinheiro público, de executivos envolvidos todos com falcatruas, e por isso, fundamental seria as ruas serem invadidas por novos caras-pintadas contra esse monstro chamado corrupção.

São dois países. A velha mídia tem tentado de todo jeito ser a vanguarda das mobilizações contra a corrupção, embora não se desconheça que o seu discurso é altamente seletivo. Ela escolhe os seus alvos, e não há dúvida de que o principal é o governo da presidenta Dilma e seus ministros, sabendo-se que há uma surda disputa entre os meios de comunicação da velha mídia sobre quem derrubará o próximo ministro. Nos altos escalões das redações, essa disputa tornou-se evidente. Curioso é o noticiário: destacam a presença, nos dias marcados para mobilizações contra a corrupção, de 100 pessoas, de vinte, de trinta, numa tentativa de destaque que não se justificaria, e que chega a torná-la burlesca. Não parece ser uma vanguarda muito confiável.

Melhor seria dizer, na verdade, que o outro país, o que se desenvolve, o que cresce, o que distribui renda, o que sabe enfrentar a crise, é que prevalece. Aliás, foi este país, sob o governo que se iniciou em 2003, com o presidente Lula, que se impôs para além da mídia, que cotidianamente, e até os dias de hoje, se coloca inteiramente contra o projeto político em curso. E o curioso é que na tentativa de construção daquele outro país, daquele outro cenário, se desconhece os grandes avanços no combate à corrupção experimentados pelos dois mandatos do presidente Lula e agora pelo mandato da presidenta Dilma, terceiro mandato desse projeto. A Controladoria Geral da União é um exemplo de combate à corrupção em todo o mundo pelo rigor com que tem atuado desde que surgiu, sob o comando de Waldir Pires, agora de Jorge Hage. O país da distribuição de renda e da criação de empregos é, também, o que, cotidianamente, combate a corrupção.

Pretender que não haja corrupção seria uma inocência que não cabe hoje, como não coube antes. Por outro lado, ignorar os avanços no combate ao desrespeito com o dinheiro público é uma atitude deliberada que, no caso brasileiro, se não é má fé, constitui-se num equívoco grave. Creio, como disse no início, tratar-se de um claro objetivo político. Ignorar tudo que foi conquistado, em todos os terrenos, nos últimos anos, inclusive no combate à corrupção, e destacar tudo o que for possível para desgastar o governo, a política, e os políticos, esse tem sido o esforço da mídia. Sobra, como salvação da Nação, a velha mídia, que se acredita uma espécie de reserva moral da população brasileira, reserva fariséia, é bem verdade, a apontar o dedo em direção aos pecadores que, tão logo sejam por ela apeados do poder, são convenientemente esquecidos.

Combater intransigentemente a corrupção é tarefa de qualquer governo. E isso tem sido feito pelos governos que se iniciaram em 2003. Nenhum governo pode trabalhar exclusivamente com a análise de virtudes individuais, embora estas também contem. O principal é que o Estado Democrático tenha instrumentos capazes de acompanhar com rigor o uso do dinheiro público, e punir os transgressores dos princípios democráticos e republicanos. Isso, creio, os governos centrais da República, de 2003 a esta parte, tem feito. Mas, a saída de ministros, desde Lula, é tomada como vitória da velha mídia, e não como providência correta do governo. É como se os poderes do governo eleito pelo povo tivessem sido transferidos para a velha mídia.

A cada denúncia, verdadeira ou não, e tantas não o são, a velha mídia cobra que a presidenta demita o atingido, e vocifera de modo estridente quando a providência não é a que ela reclama. Insista-se na essencialidade do combate à corrupção. Mas, não se desconheça que campanhas dessa natureza,  com essa mesma matriz, de corte udenista, foram conduzidas tantas vezes com claros objetivos políticos, como aquela da tentativa de golpe contra Vargas, e que resultou no seu suicídio, ou a outra que redundou no golpe militar, ou a outra, ainda, que ensejou a eleição de Collor. Ou a que pretendia derrubar Lula em 2005, porque afinal o que estava em jogo ali era essa tentativa, e não o impropriamente chamado mensalão que, aliás, na forma caracterizada pela imprensa, naquele caso não existiu.

Creio que devamos lutar pela dignidade da política. Sem a política, não há civilização. Sem a política, não há democracia. A inexistência da política implica o autoritarismo, as ditaduras, a barbárie. E a velha mídia, extremamente conservadora, partidária de projeto político distinto do que está em andamento no Brasil, não pode ser e não é aquela que pode representar a população, como pretende cotidianamente.

Poderia, fosse séria, fazer um belo trabalho, se sua cobertura seguisse ao menos os manuais de redação que edita. Não o faz. Sempre segue a cartilha de seu projeto político, afinado hoje com o pensamento neoliberal, derrotado em 2002, 2006 e 2010, e derrotado porque o povo brasileiro reconheceu primeiro uma nova e generosa proposta para o país, e depois, porque viu a proposta sendo posta em prática, melhorando a vida de todos, e especialmente a dos mais pobres. A dificuldade de fazer valer um novo cenário de representação da política, fundada em princípios neoliberais, está no fato de que o Brasil real, felizmente, não é o que ela gostaria que fosse. E ela, a velha mídia, não consegue mais representar, como pretende, o que chama de opinião pública.

Esta, hoje, orienta-se por suas próprias convicções, e não engole a velha catilinária midiática com facilidade. Olha o entorno, analisa a política em andamento, valoriza o que efetivamente ocorre, observa as suas próprias condições de vida e dos demais, e então opina, a seu modo. E não é por acaso que, apesar da insistência midiática, a presidenta Dilma segue crescendo em popularidade. Está cumprindo o que acertara com a população durante a campanha, dando sequência àquele projeto iniciado em 2003, enfrentando a crise, garantindo emprego, distribuindo renda, afirmando nossa soberania, e tentando, junto com tantas parceiros, contribuir para que o mundo saiba orientar-se diante do desastre a que nos levaram os países que ainda seguiam a cartilha neoliberal, como os EUA e os integrantes da União Européia.

E o que vale para o Executivo, vale para o Parlamento. Que se puna com todo rigor aqueles que se envolvem em falcatruas. Que se lute, como temos lutado, e com dificuldades, e sem que a velha mídia se envolva nessa luta, pela reforma política. Sem financiamento público de campanha, com o conseqüente voto em lista e fortalecimento dos partidos, não estaremos livres dos sucessivos escândalos decorrentes do financiamento privado. Pretender, como pretende a velha mídia, ser, no entanto, o Parlamento, de modo generalizado, um antro de ladrões, é um equívoco grave e que trabalha contra a democracia e contra a política. Há muita gente séria e que trabalha muito no Parlamento brasileiro, e falo de parlamentares de todos os partidos.

Defender a democracia e o Estado de Direito Democrático. Defender o mais absoluto rigor no trato do dinheiro público.   Defender a política como instrumento da civilização. E opor-se às campanhas destinadas à desmoralização da política, orquestradas de modo consciente pela velha mídia. Estas são algumas das tarefas nossas. Não apenas do Parlamento ou dos governos. Mas, da sociedade brasileira, que seguramente quer que a revolução democrática em curso prossiga. Para prosseguir, a política, a boa política, é essencial.

Por Emiliano José

Há um evidente esforço político para desqualificar a política. O esforço parte de modo evidente da mídia brasileira. Melhor, da velha mídia – aquela oligarquia que há décadas tenta monopolizar o discurso no Brasil, participa de tentativas de golpe e de golpes, como os de 1954 ou o de 1964, torna-se conivente com os governos com os quais concorde, combate acidamente aqueles dos quais discorde, e sempre, aberta ou dissimuladamente, trava uma espécie de queda de braço com o Legislativo no sentido de representar o povo, sem que tenha um único voto para tanto.

Vivemos um momento curioso, com aspectos paradoxais. Um país que nos últimos anos, pela política, e sob o jogo aberto da democracia, promoveu transformações jamais vistas em nossa história, especialmente nas condições de vida do povo brasileiro, malgrado não tenhamos, por impossibilidade, ainda superado as tantas mazelas sociais que acumulamos durante séculos. Essa característica é sumariamente desconhecida pela velha mídia, e é destacada no exterior, para desespero de uns tantos colunistas absolutamente tomados pela visão neoliberal do mundo.

As manchetes, os lides, o corpo das matérias, reportagens, artigos das revistas, dos jornais e das emissoras de tevês revelam outro Brasil – aquele inteiramente tomado pela corrupção, como se verdadeiro fosse. Lembro-me de um conceito desenvolvido pelo professor Venício Lima (Cenário de Representação da Política) que cai como uma luva para a análise desse paradoxo. Diria que a velha mídia, tenta, a todo custo, compor um cenário de um país sem projeto, de um governo leniente com a corrupção, de um Legislativo inteiramente tomado por ladrões do dinheiro público, de executivos envolvidos todos com falcatruas, e por isso, fundamental seria as ruas serem invadidas por novos caras-pintadas contra esse monstro chamado corrupção.

São dois países. A velha mídia tem tentado de todo jeito ser a vanguarda das mobilizações contra a corrupção, embora não se desconheça que o seu discurso é altamente seletivo. Ela escolhe os seus alvos, e não há dúvida de que o principal é o governo da presidenta Dilma e seus ministros, sabendo-se que há uma surda disputa entre os meios de comunicação da velha mídia sobre quem derrubará o próximo ministro. Nos altos escalões das redações, essa disputa tornou-se evidente. Curioso é o noticiário: destacam a presença, nos dias marcados para mobilizações contra a corrupção, de 100 pessoas, de vinte, de trinta, numa tentativa de destaque que não se justificaria, e que chega a torná-la burlesca. Não parece ser uma vanguarda muito confiável.

Melhor seria dizer, na verdade, que o outro país, o que se desenvolve, o que cresce, o que distribui renda, o que sabe enfrentar a crise, é que prevalece. Aliás, foi este país, sob o governo que se iniciou em 2003, com o presidente Lula, que se impôs para além da mídia, que cotidianamente, e até os dias de hoje, se coloca inteiramente contra o projeto político em curso. E o curioso é que na tentativa de construção daquele outro país, daquele outro cenário, se desconhece os grandes avanços no combate à corrupção experimentados pelos dois mandatos do presidente Lula e agora pelo mandato da presidenta Dilma, terceiro mandato desse projeto. A Controladoria Geral da União é um exemplo de combate à corrupção em todo o mundo pelo rigor com que tem atuado desde que surgiu, sob o comando de Waldir Pires, agora de Jorge Hage. O país da distribuição de renda e da criação de empregos é, também, o que, cotidianamente, combate a corrupção.

Pretender que não haja corrupção seria uma inocência que não cabe hoje, como não coube antes. Por outro lado, ignorar os avanços no combate ao desrespeito com o dinheiro público é uma atitude deliberada que, no caso brasileiro, se não é má fé, constitui-se num equívoco grave. Creio, como disse no início, tratar-se de um claro objetivo político. Ignorar tudo que foi conquistado, em todos os terrenos, nos últimos anos, inclusive no combate à corrupção, e destacar tudo o que for possível para desgastar o governo, a política, e os políticos, esse tem sido o esforço da mídia. Sobra, como salvação da Nação, a velha mídia, que se acredita uma espécie de reserva moral da população brasileira, reserva fariséia, é bem verdade, a apontar o dedo em direção aos pecadores que, tão logo sejam por ela apeados do poder, são convenientemente esquecidos.

Combater intransigentemente a corrupção é tarefa de qualquer governo. E isso tem sido feito pelos governos que se iniciaram em 2003. Nenhum governo pode trabalhar exclusivamente com a análise de virtudes individuais, embora estas também contem. O principal é que o Estado Democrático tenha instrumentos capazes de acompanhar com rigor o uso do dinheiro público, e punir os transgressores dos princípios democráticos e republicanos. Isso, creio, os governos centrais da República, de 2003 a esta parte, tem feito. Mas, a saída de ministros, desde Lula, é tomada como vitória da velha mídia, e não como providência correta do governo. É como se os poderes do governo eleito pelo povo tivessem sido transferidos para a velha mídia.

A cada denúncia, verdadeira ou não, e tantas não o são, a velha mídia cobra que a presidenta demita o atingido, e vocifera de modo estridente quando a providência não é a que ela reclama. Insista-se na essencialidade do combate à corrupção. Mas, não se desconheça que campanhas dessa natureza,  com essa mesma matriz, de corte udenista, foram conduzidas tantas vezes com claros objetivos políticos, como aquela da tentativa de golpe contra Vargas, e que resultou no seu suicídio, ou a outra que redundou no golpe militar, ou a outra, ainda, que ensejou a eleição de Collor. Ou a que pretendia derrubar Lula em 2005, porque afinal o que estava em jogo ali era essa tentativa, e não o impropriamente chamado mensalão que, aliás, na forma caracterizada pela imprensa, naquele caso não existiu.

Creio que devamos lutar pela dignidade da política. Sem a política, não há civilização. Sem a política, não há democracia. A inexistência da política implica o autoritarismo, as ditaduras, a barbárie. E a velha mídia, extremamente conservadora, partidária de projeto político distinto do que está em andamento no Brasil, não pode ser e não é aquela que pode representar a população, como pretende cotidianamente.

Poderia, fosse séria, fazer um belo trabalho, se sua cobertura seguisse ao menos os manuais de redação que edita. Não o faz. Sempre segue a cartilha de seu projeto político, afinado hoje com o pensamento neoliberal, derrotado em 2002, 2006 e 2010, e derrotado porque o povo brasileiro reconheceu primeiro uma nova e generosa proposta para o país, e depois, porque viu a proposta sendo posta em prática, melhorando a vida de todos, e especialmente a dos mais pobres. A dificuldade de fazer valer um novo cenário de representação da política, fundada em princípios neoliberais, está no fato de que o Brasil real, felizmente, não é o que ela gostaria que fosse. E ela, a velha mídia, não consegue mais representar, como pretende, o que chama de opinião pública.

Esta, hoje, orienta-se por suas próprias convicções, e não engole a velha catilinária midiática com facilidade. Olha o entorno, analisa a política em andamento, valoriza o que efetivamente ocorre, observa as suas próprias condições de vida e dos demais, e então opina, a seu modo. E não é por acaso que, apesar da insistência midiática, a presidenta Dilma segue crescendo em popularidade. Está cumprindo o que acertara com a população durante a campanha, dando sequência àquele projeto iniciado em 2003, enfrentando a crise, garantindo emprego, distribuindo renda, afirmando nossa soberania, e tentando, junto com tantas parceiros, contribuir para que o mundo saiba orientar-se diante do desastre a que nos levaram os países que ainda seguiam a cartilha neoliberal, como os EUA e os integrantes da União Européia.

E o que vale para o Executivo, vale para o Parlamento. Que se puna com todo rigor aqueles que se envolvem em falcatruas. Que se lute, como temos lutado, e com dificuldades, e sem que a velha mídia se envolva nessa luta, pela reforma política. Sem financiamento público de campanha, com o conseqüente voto em lista e fortalecimento dos partidos, não estaremos livres dos sucessivos escândalos decorrentes do financiamento privado. Pretender, como pretende a velha mídia, ser, no entanto, o Parlamento, de modo generalizado, um antro de ladrões, é um equívoco grave e que trabalha contra a democracia e contra a política. Há muita gente séria e que trabalha muito no Parlamento brasileiro, e falo de parlamentares de todos os partidos.

Defender a democracia e o Estado de Direito Democrático. Defender o mais absoluto rigor no trato do dinheiro público.   Defender a política como instrumento da civilização. E opor-se às campanhas destinadas à desmoralização da política, orquestradas de modo consciente pela velha mídia. Estas são algumas das tarefas nossas. Não apenas do Parlamento ou dos governos. Mas, da sociedade brasileira, que seguramente quer que a revolução democrática em curso prossiga. Para prosseguir, a política, a boa política, é essencial.

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