Política

Veja como foi o 1º debate com candidatos à Prefeitura de SP

Postulantes à chefia da administração municipal mesclaram propostas de gestão a ataques contra adversários

A emissora Bandeirantes realizou debate entre candidatos a prefeito de São Paulo em 1º de outubro. Foto: Reprodução
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Candidatos à Prefeitura de São Paulo trocaram ataques no primeiro debate na televisão, realizado nesta quinta-feira 2 pela Band. Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Celso Russomanno (Republicanos), líder na pesquisa de opinião do Ibope de 20 de setembro, foi o principal alvo de adversários.

 

Russomanno: amizade com Bolsonaro vai pagar auxílio financeiro

Celso Russomanno (Republicanos) se concentrou em encostar a imagem em Bolsonaro e afirmou que sua amizade com o presidente vai assegurar o “auxílio emergencial paulista”. Segundo ele, o benefício complementará o auxílio oferecido pelo governo federal para 2,6 milhões de pessoas.

“Sou o único aqui que tenho condição de renegociar a dívida de São Paulo, pela minha amizade com o presidente Jair Bolsonaro e meu trânsito no Congresso e nos ministérios”, afirmou. “A ajuda que vou trazer do governo federal vai subsidiar o atendimento às pessoas.”

Bolsonaro pegou no meu braço e disse: Celso, cuide de São Paulo, a gente precisa cuidar das pessoas que estão passando dificuldades. As pessoas me dizem que não têm o que comer amanhã, afirmou Russomanno

Na área da Saúde, Russomanno queixou-se de que, durante a pandemia, a Covid-19 estaria sendo tratada, mas outras doenças sendo esquecidas: “Pessoas reclamam para mim que não conseguem cirurgias e consultas com médicos especialistas. Está abandonada a saúde, você só está pensando na Covid”, afirmou a Covas.

Em embate com Boulos, acusou o candidato do PSOL de incentivar invasões de propriedades: “E você que incentiva invasões de casas de pessoas que pagaram para construir essas casas. Você que foi contra a reforma do ensino médio, da reforma trabalhista. Vai ser contra tudo também?”.

Covas: PT sabe é dar cargo para a companheirada

Bruno Covas (PSDB) não poupou ataques aos petistas, com fortes declarações desde o início do debate. Na primeira pergunta, sobre políticas voltadas à Cracolândia, disse que os tucanos acabaram com a “bolsa crack” a dependentes químicos oferecida pela gestão de Fernando Haddad (PT) – uma referência ao programa Braços Abertos.

Em outro momento, disse ao candidato Jilmar Tatto (PT) que “o PT gosta de filas nas creches” e afirmou que Haddad entregou a gestão com 60 mil crianças à espera de uma vaga. Também acusou os petistas de deixarem “rombo nas contas de 7 bilhões de reais” e de distribuírem cargos a amigos.

O que o PT sabe é dar cargo para a companheirada. O senhor já imaginou se ele [Tatto] ganha a eleição e traz a Dilma para ter um carguinho aqui na prefeitura de São Paulo?, ironizou Covas

Apesar de tentar se afastar do petismo, Covas tocou em pautas progressistas, em especial durante dobradinha com o candidato do PCdoB, Orlando Silva, que já foi ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além de fazer uma pergunta a Orlando sobre propostas de enfrentamento ao racismo, Covas se comprometeu a aumentar o número de pessoas negras em postos de comando e disse ter registrado escolas com nomes de personalidades negras, como Carolina de Jesus e Luiz Melodia.

Covas se dedicou a elencar números da sua gestão: disse que entregou 500 mil tablets com chips de internet na rede municipal, comprometeu-se em ativar 12 Centros Educacionais Unificados (CEUs) que estão sob inauguração e prometeu ampliar oito hospitais. Também afirmou ter batido recorde na criação de 25 mil unidades habitacionais, regularizado 200 mil imóveis e ter beneficiado 113 mil famílias com regulação fundiária.

Boulos: Solução para moradia é pegar imóveis abandonados

Guilherme Boulos (PSOL) repetiu uma de suas principais propostas para a moradia, que é aproveitar imóveis abandonados e irregulares para abrigar pessoas em situação de rua. Líder há 20 anos de movimento por habitação, fez questão de destacar números para evidenciar a desigualdade na distribuição de moradias na capital paulista.

“Solução é pegar imóveis abandonados, em situação ilegal, devendo imposto. São 40 mil imóveis nessa situação, só no centro expandido. A solução é requalificar e dar moradia de qualidade”, disse o candidato.

São 25 mil pessoas na rua e 40 mil imóveis abandonados. A conta não fecha, reforçou Boulos

Boulos também propôs a criação de casas solidárias para abrigar menores e sem-teto. “Sei da luta de quem mora debaixo do viaduto e da humilhação nos próprios albergues da prefeitura”, afirmou, em crítica à gestão de Covas.

Outra pauta que recebeu a atenção de Boulos foi o combate ao feminicídio. Em pergunta a Márcio França, destacou o aumento de 45% da violência contra a mulher durante a pandemia e afirmou que vai ampliar a patrulha da Maria da Penha. Também criticou França por uma declaração de que a polícia não deveria se meter em “briga de casal” e defendeu a atuação policial “para que a mulher agredida não precise voltar a conviver com o agressor”.

A Russomanno, criticou a proposta de sustentar o “auxílio emergencial paulistano” com base na amizade com Bolsonaro: “Impressionante o Russomanno dizendo isso. Amigo do Bolsonaro, que não queria dar o auxílio emergencial, depois queria dar 200 reais, agora cortou para 300 reais e disse que vai até dezembro. Não sei se ele combinou com Bolsonaro na visitinha que ele fez”.

Márcio França: fui prefeito, reeleito com 93%

Márcio França (PSB) decidiu seguir a linha do “candidato experiente”: começou o debate apresentando-se como ex-concorrente do governo do Estado em 2016 e, ao longo das discussões, lembrou seus oito anos de mandato como prefeito da cidade de São Vicente.

“Fui prefeito, reeleito com 93%, cumpri meus oito anos de mandato, zerei fila de creche. É claro que tem que haver mudança. São Paulo tem que ter mudança”, disse, em resposta a Russomanno, que havia lhe perguntado sobre os anos de Haddad e João Doria (PSDB) na prefeitura.

Para o transporte público, França propôs tarifa zero aos domingos

Em comentário à fala de Boulos sobre a falta de moradias, também criticou o “constrangimento de perceber que as pessoas morando em acampamentos”. Mas evitou ser relacionado ao candidato do PSOL: acusado de comunista quando disputou o governo com Doria, França disse que viu “malícia” em Boulos em seu comentário sobre a interferência da polícia em casos de violência contra a mulher.

Ao mesmo tempo, tentou se afastar de Bolsonaro quando foi acusado por Boulos de “correr atrás do presidente”, e quando Marina Helou (Rede) o responsabilizou por “inventar” o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que já trabalhou para Doria em São Paulo: “Eu mal o conhecia, não sei, não tem nada a ver comigo”.

Arthur do Val quer criar programa “Jovem Capitalista”

Cria do Movimento Brasil Livre (MBL) e deputado estadual, Arthur do Val (Patriota) propôs a criação do programa “Jovem Capitalista” como política educacional. Conhecido como “Mamãe Falei”, Val também criticou aulas de “break dance” nas instituições de ensino e disse que quer oferecer aulas de educação financeira, direito e economia aos jovens mais pobres.

São Paulo é bom de ganhar dinheiro e todo mundo tem o direito de ter lucro, viu Guilherme Boulos?, disse Arthur do Val ao explicar o programa Jovem Capitalista

“Inclusive, aqui como falei, vamos fazer parcerias com a iniciativa privada, com o poder influente que temos com a Faria Lima, para que se leve para o Capão Redondo”, acrescentou. Val também reiterou seguidas vezes que vai se debruçar sobre o plano diretor da cidade, que deve ser revisto no ano que vem. Uma das suas prioridades é acabar com a “máfia dos transportes”.

Apesar de manifestar posições liberais, Val fez ferrenhas críticas a Doria: segundo ele, o governador faz da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) um “puxadinho do palácio do governo”. O candidato também usou o Projeto de Lei 529/2020 para atacar o tucano: o projeto que visa extinguir empresas públicas e tirar verbas da educação quase foi aprovado na Alesp em 30 de setembro, mas Val se opôs ao texto.

Joice quer igrejas na Prefeitura e “Cristolândia” para dependentes químicos

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL) abriu o debate com propostas para a Cracolândia: enfrentamento ao Primeiro Comando Capital (PCC), internação compulsória e atuação de igrejas católicas e evangélicas na prefeitura.

Ao afirmar que quer atrair as igrejas, Joice citou um projeto chamado “Cristolândia”, concebido em 2009 com o intuito de “transformar dependentes químicos pelo Evangelho de Jesus Cristo”: “Quando você fala do miolo da Cracolândia, aquelas pessoas que ainda respondem por si, vamos trazer as igrejas para trabalhar com a Prefeitura. Há projetos excepcionais, como a Cristolândia”.

Já para as pessoas que não respondem mais por si, podem matar ou morrer por uma pedra de crack, que gritam por socorro, essas precisam sim de internação compulsória, disse Joice.

Outro proposta apresentada por Joice foi o fechamento da São Paulo Transporte S/A (SPTrans), empresa ligada à mobilidade na cidade. A deputada acusou a Prefeitura de entregar 3 bilhões de reais para empresas de transporte coletivo e chamou parcela dos empresários do setor de “bandidagem pesada”.

Aos desempregados, Joice ofereceu passe livre no transporte e afirmou que vai inaugurar o “pronto-socorro do emprego”, com linhas específicas para homens, jovens e mulheres. Especialmente ao público feminino, ela afirmou que criará políticas de microcrédito e cursos de capacitação para que empreendam dentro de casa, com “liberdade econômica”.

Matarazzo e Sabará: atenção com os microempreendedores

Em coro com Joice Hasselmann, Andrea Matarazzo (PSD) disse que quer “aporrinhar a vida do traficante” e, aos dependentes químicos, “interná-los quando necessário”.

A Covas, disse que “sua inexperiência cobrou um preço alto” e criticou o transporte público da cidade: “Tem qualidade cubana com custo alemão”.

“Nós teremos que lidar com dois problemas: o pós-pandemia e o pós-epidemia do desligamento da economia da cidade. Faremos isso suspendendo taxas e impostos, regularizando milhares de empresas e criando um fundo de microcrédito para o microempreendedor”, afirmou.

Autorizado de última hora a comparecer ao debate, Filipe Sabará (Novo) afirmou que “defende o liberalismo” e disse que é do “único partido que não usa dinheiro do Estado para fazer campanha”. Ele propôs levar “crédito barato” para a periferia, aproveitando a taxa de juros baixa: “A geração de empregos está entre as principais demandas para a cidade de SP”.

Tatto e Orlando: diferentes estratégias

Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB), ambos aliados ao ex-presidente Lula, apresentaram táticas distintas para expor suas propostas.

Evitando “nacionalizar” o debate, Tatto resgatou sua passagem como secretário de Habitação e de Abastecimento de Haddad e ressaltou políticas que disse ter implementado: Bilhete Único, 400 km de faixas de ônibus, 400 km de faixas exclusivas e passe livre aos estudantes.

Como principal proposta, apresentou a instituição do passe livre para desempregados, e que a tarifa de ônibus será reduzida para 2 reais dos períodos da madrugada e aos domingos e feriados.

Em relação à Cracolândia, disse que retomará o projeto “Braços Abertos” da gestão petista, e acusou a gestão Doria e Covas de “voltar com a violência” contra os dependentes químicos e pessoas em situação de rua.

Também criticou a política educacional dos tucanos: segundo Tatto, o governo e a prefeitura praticaram “maldade” ao desidratar o programa Leve Leite, que oferece leite a mães e e pais de alunos do ensino infantil da rede municipal.

Bruno, o Doria e você, quando assumiram a prefeitura, queriam dar ração humana para as crianças, criticou Jilmar Tatto

Já Orlando Silva entrou mais vezes em debates nacionais e críticas a Bolsonaro, ao queixar-se do valor de “40 reais de um saco de arroz”. Afirmou ainda que “tucano tem obsessão por privatizar” e disse que vai interromper todas as iniciativas de privatização de equipamentos que são, segundo ele, estratégicos para a cidade.

Como prefeito, Orlando afirmou a Joice Hasselmann que quer “pensar grande” e prometeu instituir um “programa de reindustrialização” de São Paulo. Também a criticou por ter apoiado a reforma da Previdência como líder do governo Bolsonaro do Congresso e disse que vai “reverter ataques ao serviço público”. Aproveitou para manifestar oposição à PL 529 que, segundo ele, tem “desmontado instituições importantes” para o Estado.

No caso do transporte público, acusou Covas de reduzir o número de passageiros mas incrementar o subsídio às empresas. Prometeu auditar os contratos com as empresas de transporte e estimou que a prefeitura entrega 4 bilhões de reais às companhias, 1 bilhão a mais que o valor citado por Joice.

Único candidato negro do debate, também afirmou que vai atuar para tornar São Paulo “livre do racismo” e da “sub-representação da população”. Nessa linha, propôs institucionalizar o ensino de História da África nas escolas e criar uma defensoria de direitos humanos voltada para crimes de racismo em São Paulo.

Aqui tem um monte de herdeiro que fala de gerar emprego, mas nunca bateu em prego e pegou em barra de sabão, disse Orlando

Marina Helou: Sustentabilidade não é abraçar árvore

Mais jovem candidata à Prefeitura de São Paulo, a deputada estadual Marina Helou (Rede Sustentabilidade) deu atenção especial a políticas ambientais. Sua tentativa foi associar a pauta da sustentabilidade a demandas sociais, como o investimento em saneamento básico.

Precisamos de geração de emprego e de renda, investimento em saneamento e tecnologia”, disse Marina Helou.

“Quando a gente fala em sustentabilidade, a gente não fala de abraçar árvore. Sustentabilidade é pensar políticas públicas integradas que transformem a vida das pessoas da cidade de São Paulo”, disse. A candidata também aproveitou para atacar o ministro Ricardo Salles pela declaração sobre “passar a boiada” e cobrou de Márcio França propostas para “São Paulo Sustentável”.

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