Política
Valdemar minimiza pedido de asilo de Bolsonaro a Milei: Não precisa pedir, atravessa um rio e está na Argentina
O presidente do PL participou de um evento com empresários no Rio de Janeiro organizado pela Lide, entidade comandada por João Doria


O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, minimizou a carta encontrada no celular de Jair Bolsonaro, membro do partido, com um pedido de asilo ao presidente argentino, Javier Milei. A declaração foi dada nesta sexta-feira 22, em um evento com empresários no Rio de Janeiro. A conversa foi organizada pela Lide, entidade coordenada pelo ex-governador de São Paulo e desafeto de Bolsonaro, João Doria.
“Não entendi porque tem aquele documento dele pedindo asilo. Ninguém precisa pedir asilo, você atravessa um rio e está na Argentina. Bolsonaro seria muito bem recebido lá”, disse Valdemar sobre uma eventual saída do ex-capitão do Brasil.
A carta encontrada pela PF no celular do ex-presidente é, segundo os investigadores, um dos indícios que comprovariam que Bolsonaro orquestrava um plano de fuga enquanto era investigado pela trama golpista. Ele já estava, na ocasião, proibido de deixar o País por ordem do Supremo Tribunal Federal.
A Corte, diante da descoberta, cobrou explicações para o descumprimento das medidas cautelares e sobre o risco de fuga citado pela corporação no relatório que indiciou Jair e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). O prazo para manifestação termina nesta sexta.
Mensagens de Eduardo
Valdemar, ainda no evento, tentou também minimizar outra revelação da PF feita na última quarta-feira 20. Naquele dia, a corporação incluiu no relatório de indiciamento uma série de mensagens trocadas pelo ex-capitão e o deputado que, segundo a PF, comprovariam que a dupla cometeu os crimes de coação no curso do processo sobre a tentativa de golpe de Estado. Entre as conversas estavam xingamentos de Eduardo a Jair.
“Às vezes nos deparamos com problemas da família, algum desentendimento, porque é muito duro você ver seu pai sofrer dessa maneira”, disse o cacique do Centrão sobre as mensagens. Na conversa, Eduardo chegou a chamar o pai de “ingrato”.
O presidente do PL, aos empresários, também chamou de “humilhação” as investigações contra o ex-capitão. “O que estão fazendo com o presidente Bolsonaro, a humilhação que eles estão impondo ao nosso partido e ao presidente Bolsonaro tem destruído o presidente Bolsonaro pessoalmente”.
Ele, por fim, reforçou o apoio da legenda a sanções dos EUA contra autoridades brasileiras. “Essa guerra que está acontecendo em Brasília tem que ter um fim. E acho difícil o presidente Trump perder essa guerra”, ameaçou.
Eleições 2026
Na conversa com empresários, Valdemar também tratou das eleições de 2026, especialmente no que diz respeito ao lançamento de uma candidatura do PL. Neste trecho, disse ainda ter esperanças de que o ex-capitão reverta inelegibilidade e possa concorrer. Ele evitou antecipar qualquer articulação sobre um possível sucessor, alegando que não trata do assunto com Bolsonaro, a quem, segundo ele, caberá a decisão sobre o escolhido.
“Vocês vão falar: ‘é uma loucura’. Eu tenho esperança ainda do Bolsonaro ser candidato à presidência da República. Quem diria que o Lula, que ficou 580 dias [preso] no Paraná, seria candidato a presidente? Ele foi candidato e ainda ganhou”, afirmou Valdemar.
“[Mas] Temos várias pessoas qualificadas disputando esse lugar [de sucessor de Bolsonaro] e sendo escolhidas para esse lugar. Bolsonaro não comenta comigo. [Se] Faz comentários comigo, não levo em consideração, porque quero que ele decida”, disse. “Quando ele decidir, vai ser pela cabeça dele”, finalizou.
‘Críticas’ a Tarcísio
Em alguns momentos do discurso, o presidente do PL, ao tentar elogiar Bolsonaro, escorregou e acabou direcionando críticas a Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, em tese, é seu aliado.
Disse, por exemplo, que o atual governador, quando foi ministro da Infraestrutura do governo anterior, nunca fez uma obra em São Paulo. Em outro momento, reconheceu que o político não conhecia, em 2022, o estado que pretendia governar. Ainda assim, ele acabou eleito.
“Eu falei: ‘Bolsonaro, o Tarcísio não vota em São Paulo. Ele quer ser senador em São Paulo, em Goiás. Não fez uma obra em São Paulo que destacasse o Ministério dele como ministro dos Transportes. Ele foi um grande ministro, mas não vota em São Paulo e não conhece São Paulo”, destacou.
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