Política

Um afro-americano no Japão

Escritor Baye McNeil relata como é viver no país há dez anos

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Os japoneses são bastante preconceituosos com pessoas de outras etnias, pois contam com poucas que contribuiram para a formação de sua população e habitam um arquipélago por milênios, com poucas relações com outros povos. Notam-se suas dificuldades para adaptação ao atual mundo globalizado e é sempre interessante saber como um afro-americano que vive no Japão desde 2004 se sente naquele país.

Um artigo publicado pelo escritor afro-americano Baye McNeil, no The Japan Times, fornece uma boa oportunidade para conhecer um pouco sobre o assunto, ainda que seja um caso isolado e sempre as generalização são perigosas. No entanto, suas considerações parecem ponderadas. Ele afirma que seria difícil acreditar que aquela pessoa que chegou ao Japão há dez anos seria o mesmo do que ele é hoje, com as muitas mudanças grandes e pequenas pelas quais passou.

Ele afirma que sua mãe poderia se considerar satisfeita ao saber que os valores e os ideais que ela lhe ensinou continuam intactos. Ele ainda respeita os mais velhos, bem como as pessoas que o respeitam. Em quase todas as situações considera a honestidade uma boa orientação para a sua vida. Mas, talvez não tenha sido sempre que se absteve de julgar os outros seres humanos senão pelo conteúdo do ser caráter.

Confessa que é difícil superar a percepção de que o caráter e as habilidades de um povo estão indelevelmente ligados à raça ou nacionalidade. Ele percebe que muitos japoneses e não japoneses que vivem no Japão transmitem de muitas formas a ideia que são excepcionais, sendo diferentes de todos os outros no mundo. Ainda que existam evidências ao contrário ele sucumbiu lentamente à ideia de julgar o povo japonês como um grupo excepcional, mas do que chama de exceção.

Afirma que se juntou inicialmente ao coro de estrangeiros que ressaltavam a simpatia, a gentileza e a cordialidade do povo japonês. A qualidade dos serviços, a segurança global e a limpeza do ambiente no Japão de alguma forma estariam ligadas à personalidade dos japoneses. Mais tarde, ressaltava que as jovens japonesas ou jovens japoneses tinham determinadas qualificações positivas.

Ressaltar qualidades positivas ou negativas dos japoneses, de forma generalizada é uma regra muito usual entre os não japoneses que vivem naquele país. Mas, se substituírem as mesmas por outras classificações como brancos, negros ou polacos, vai se constatar que estas não sejam necessariamente verdades. Convivendo diariamente com os japoneses e estrangeiros sente-se a repetição de algumas atitudes, o que acaba se tornando problemático. Ele relata que sentiu muitas vezes cuidados que eram tomados pelos japoneses quando caminhavam na multidão, como acelerar a marcha ou reduzi-la, incomodado com a sua presença ao lado.

O autor se socorre, também, do exemplo citado por James Clavell no seu livro “Shogun”, quando a personagem Mariko transmite ao Anjin, a sensação da mensagem ao seu hara, o centro de sua pessoa, sobre a transitoriedade da vida, para ajudar a preservar o seu wa, a harmonia. Que é dos valores mais prezados pelos japoneses. Ele se refere a estas transmissões que não são com atos ou palavras.

Mesmo percebendo situações constrangedoras como uma defesa, ele procurava se concentrar em outros aspectos do tipo gorjeio de um pássaro ou um ideograma num cartaz, tentando preservar a sua harmonia. Confessa que anda sempre numa corda bamba, evitando as ansiedades geradas pelos medos irracionais, desinformação ou ignorância de alguns japoneses. Este tipo de hábito passou a fazer parte dele.

Ele não considera estas pessoas como preconceituosas, mas exceções por terem padrões diferentes, qualificação que ele não reserva para a maioria dos humanos.  Isto lhe permite desfrutar das coisas boas do Japão e esta postura é um preço pequeno que paga pela sua paz de espírito.

Constata, também, que os fragmentos de notícias dos Estados Unidos, com policiais militarizados matando homens negros desarmados, incluindo adolescentes como aconteceu em Ferguson, Missouri, revela um país violento, mostrando que sua pátria também não é um santuário. Tudo isto nos leva a reflexões mais profundas sobre as discriminações, visíveis ou disfarçadas.

O artigo que inspirou estas reflexões encontra-se em inglês no: http://bit.ly/VTLpb9

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