Política

UBSs dificultam testagem, ao contrário do que disse Covas

Prefeito afirmou que casos têm sido acompanhados pela Saúde, mas prática mostra problemas em exames

O prefeito Bruno Covas (PSDB). Foto: Governo do Estado de São Paulo
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“Quando minha mãe testou positivo para a Covid-19 no começo de novembro, eu fiquei desesperada. Imediatamente fui até a UBS do meu bairro, contei que morava com uma pessoa que estava contaminada e que gostaria de fazer o exame. Após a análise do médico, eles me avisaram que eu não poderia fazer o teste”.

Este é o relato da vendedora Sarah Araújo, moradora do bairro de Pirituba, zona norte de São Paulo. Aos 28 anos, a paulistana só conseguiu ser afastada do trabalho após seu chefe atender ao seu pedido, pois ela não contava com um atestado médico para isso.

O relato de Sarah vai de encontro ao que tem dito o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB, Bruno Covas. Em entrevista a CartaCapital nesta quarta-feira 25, o tucano afirmou que a capital paulista apostou na testagem como combate ao coronavírus.

“16% de todos os testes de todo o Brasil são feitos na cidade de São Paulo. Toda pessoa que aparece com o sintomas ou aparece positivo a gente já vai testar a família dessas pessoas, já dá toda a documentação para que elas possam ficar dentro de casa. A gente faz um acompanhamento casa a casa a partir das unidades básicas de saúde. O que é inviável para a cidade de São Paulo, até pela ausência de testes, é testar 12 milhões de pessoas todos os meses”, afirmou Covas.

UBSs não realizam testes em assintomáticos 

A reportagem entrou em contato por telefone com oito UBSs em todas as regiões da cidade. Ao questionar sobre a possibilidade de realizar o teste de Covid-19, a resposta foi unânime: “Só podemos fazer em caso de sintomas mais graves como febre, tosse e falta de ar”.

Utilizando o caso de Sarah como exemplo, a reportagem questionou se o exame seria feito em uma pessoa que mora com alguém que teve o diagnóstico positivo. A resposta de todas as unidades também foi negativa, pois isso não faria parte do protocolo.

Na entrevista, o prefeito foi questionado sobre esses casos,  mas insistiu na afirmação de que a cidade de São Paulo testa a população.

“A Prefeitura realizou inquérito com uma amostra representativa da cidade de São Paulo. Foram cinco inquéritos, vamos ter mais dois agora em dezembro, o que permite termos números específicos da cidade de São Paulo. Com isso a gente consegue estabelecer exatamente onde a doença está evoluindo, onde não está evoluindo. Adotar estratégia para cada distrito da cidade de São Paulo. Com os inquéritos nós temos a real situação da cidade de São Paulo, muito mais do que ficar testando 12 milhões todos os meses”, afirmou.

Procurada, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo não se manifestou, mas o espaço segue aberto.

Em nota, a Prefeitura respondeu. Leia a íntegra:

A Prefeitura de São Paulo garante atendimento a todos os munícipes que procurarem qualquer equipamento de Saúde, dentro do seu horário de funcionamento. A Secretaria Municipal da Saúde informa que, até o dia 19/11, através das UBS, Hospitais Municipais, UPA’s (Unidade de Pronto-Atendimento), Prontos-Socorros, Assistência Médica Ambulatorial (AMA) 12h e 24h, das seis Coordenadorias de Saúde do Município, foram realizados 1.513.062 testes, sendo 817.141 exames de RT-PCR, 500.000 testes rápidos e 195.921 testes sorológicos.

É válido destacar que a SMS segue os protocolos do Ministério da Saúde, que preconiza a realização do RT-PCR ou Teste Rápido para todos os indivíduos sintomáticos de Covid-19. O RT-PCR é indicado preferencialmente do 3º ao 7º dia do início dos sintomas, enquanto os testes sorológicos (teste rápido ou sorologia) são os adotados após o 7º dia do início dos sintomas. Sendo assim, para realização dos testes, devem ser priorizados contatos que apresentarem sinais e sintomas – e se, após avaliação médica, forem classificados como casos suspeitos.

O monitoramento diário, por um período de 14 dias, a partir do primeiro atendimento realizado pela UBS, foi instituído para o acompanhamento de pacientes sintomáticos respiratórios leves, que estão em isolamento domiciliar. Este acompanhamento é realizado por telefone ou, caso não seja possível, por meio de visita domiciliar.

De acordo com a avaliação do quadro clínico, o paciente pode receber alta ou ser encaminhado para um hospital de referência em Covid-19 da região. Os contatos domiciliares dos casos positivos para Covid-19 também são testados por meio de sorologia, de acordo com protocolo, a partir do 10º dia de sintomas do contato com o paciente positivado. Além disso, eles recebem orientação de isolamento domiciliar com atestado médico. A partir do resultado, os contatos também entram no monitoramento das unidades.

O Município também realiza busca ativa e monitoramento de sintomáticos respiratórios desde o início da pandemia, a fim de identificar casos de Covid-19. As UBSs destacam-se nas ações de promoção, prevenção, monitoramento e acompanhamento dos casos sintomáticos leves, além do encaminhamento de casos mais graves para hospitais de referência. Já foram monitorados mais de 778 mil pacientes na cidade. Deste total, mais de 560 mil já receberam alta e 161 mil ainda seguem monitorados.

Atualmente, a SMS realiza todos os exames RT-PCR com a empresa DASA, detentora do Contrato 142/2020, firmado entre a empresa e Ministério da Saúde (MS), para a realização dos exames para o Município de São Paulo. Após seis meses de negociações, a empresa contratada assumiu integralmente a realização dos exames, que se encontram disponíveis nas unidades de Saúde da rede municipal da capital e que seguem os protocolos estabelecidos pelo MS e pela SMS.

Assista à entrevista completa:

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