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Trump diz que abraçou Lula e marcou conversa para a próxima semana: ‘Gostei dele’
O relato veio durante o longo (e confuso) discurso de Trump


Uma improvável bandeira branca pode ter sido erguida nesta terça-feira 23, nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York (EUA). O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que teve um breve encontro com o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contou que eles trocaram um abraço e combinaram uma conversa na próxima semana. “Gostei dele”, disse Trump.
O relato veio durante a longa declaração de Trump, o segundo a discursar na Assembleia. Cumprindo uma tradição de décadas, Lula foi o primeiro chefe de Estado a falar, logo após as autoridades da própria ONU. O presidente fez um discurso firme, em que mencionou a defesa da soberania brasileira, citando as sanções impostas pelo governo dos EUA ao Brasil e a autoridades brasileiras, mas sem citar nominalmente Trump.
O encontro entre ambos, conforme relatou Trump, teria ocorrido enquanto Lula deixava o púlpito. O americano disse que os dois se cruzaram e, então, se abraçaram.
“Eu estava entrando e o líder do Brasil estava vindo. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e nos abraçamos. Concordamos em nos encontrar. Tivemos uma boa conversa. Ele parece um cara legal. Eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas que não gosto. Quando eu não gosto de alguém, eu não gosto. Tivemos uma ótima química, é um bom sinal”, relatou.
A declaração de Trump parece ter surpreendido o próprio Lula e os demais integrantes da comitiva brasileira. Na altura, o presidente do Brasil já tinha chegado ao local reservado à delegação do País e acompanhava a declaração do estadunidense ao lado da primeira-dama, Janja, e dos ministros Mauro Vieira (Relações Internacionais) e Ricardo Lewandowski (Justiça), além de Celso Amorim, assessor-especial da Presidência.
“Não tivemos muito tempo para conversar, foi coisa de 20 segundos. Tivemos uma boa química, e isso é um bom sinal”, afirmou Trump durante seu discurso. Até 12h55 desta terça, o Planalto ainda não havia confirmado o encontro e a possível reunião.
Apesar do aceno a Lula, Trump não perdeu a chance de demonstrar a virulência habitual que reserva a outros líderes globais e países em seus discursos. “Eu fico triste de falar: o Brasil está agindo mal. Eles só vão conseguir estar bem se trabalharem conosco. Sem a gente, vão falhar, como outros falharam”, pontuou.
Em discurso que durou cerca de uma hora e que começou com reclamações sobre a estrutura da sede da ONU – ele disse que teve problemas com uma escada rolante e que o aparelho telemprompter não funcionava, Trump abordou algumas de suas obsessões antes de citar Lula.
Segundo o presidente dos Estados Unidos, as Nações Unidas financiam o que ele chamou de “o maior problema político da atualidade: a crise da migração descontrolada”. “Seus países estão sendo arruinados pelos imigrantes”, disse aos líderes de outros países.
O magnata atacou, ainda, o reconhecimento do Estado da Palestina por nações ocidentais, e afirmou que a Solução de Dois Estados para a crise no Oriente Médio é uma “recompensa” ao Hamas após os ataques de 7 de outubro de 2023.
“Temos que parar a guerra em Gaza imediatamente. Temos que negociar por paz. Precisamos recuperar os reféns”, afirmou.
Houve espaço, ainda, para um posicionamento confuso sobre a situação na Ucrânia: ao mesmo tempo em que disse que os países europeus devem parar de comprar óleo e gás natural da Rússia, ele disse que Vladimir Putin sempre foi um bom presidente.
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