Política

Troca nos ministérios: Substitutos buscam apoio do Centrão ao assumir vagas

Número dois da pasta de Tarcísio fez ponte com Valdemar Costa Neto, enquanto auxiliar de Damares se filiou ao Republicanos

Bolsonaro posa ao lado de ministros dias antes das mudanças provocadas pelas eleições. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
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Dos dez ministros que deixarão hoje o governo, oito deverão emplacar assessores diretos para substituí-los. Embora o Centrão não tenha ocupado os espaços no primeiro escalão, os novos titulares da pasta tiveram o respaldo do grupo político para serem nomeados. Aliados do governo dizem que indicar ministros já não é prioridade e avaliam que manter a estrutura das pastas, garantindo espaços no segundo escalão e também em órgãos federais, pode ser mais vantajoso do que se expor nos mais altos cargos da Esplanada.

A transferência voluntária de recursos para estados e municípios, por exemplo, é vedada nos três meses anteriores à eleição, ou seja, a partir de 2 de julho de 2022. Por esse cálculo, alguns políticos avaliam que se assumissem uma pasta teriam apenas cerca de três meses para atuar.

Em fevereiro, Bolsonaro já indicava qual seria a tônica das trocas ministeriais, mas admitiu que as substituições estavam sendo debatidas com líderes do Centrão. Na ocasião, ele disse que “não haveria uma grande negociação política nisso aí”, em referência aos novos comandos das pastas. O presidente também contou, à época, que discutia as trocas com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com o seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).

Secretário-executivo do Ministério da Infraestrutura desde o início do governo Bolsonaro, Marcelo Sampaio procurou Valdemar para ter o aval para ficar com a cadeira de Tarcísio de Freitas, que deixa o governo para disputar o governo de São Paulo. Servidor de carreira do Ministério da Economia, Sampaio já era considerado o sucessor natural de Tarcísio, tem bom relacionamento com o presidente e é genro do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência. Ainda assim buscou o apoio do cacique do PL, cujo partido historicamente tem espaço na área que passará a comandar.

Escolhida pela ministra Damares Alves para substituí-la na pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, a secretária nacional de Política para Mulher, Cristiane Britto, é ligada ao Republicanos. Por dez anos, ela foi advogada eleitoral do partido presidido pelo deputado Marcos Pereira (SP), um dos líderes no Centrão. A nova ministra, que tem o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, filiou-se à sigla na última segunda-feira.

No Ministério da Agricultura, o secretário-executivo Marcos Montes ficará no lugar da ministra Tereza Cristina, que concorrerá ao Senado pelo Mato Grosso do Sul. Ex-deputado federal pelo PSD, Montes foi, assim como sua antecessora, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

A Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, será assumida pelo chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria. Ele substitui a ministra Flávia Arruda, que deve disputar o Senado pelo Distrito Federal. Célio, que foi assessor parlamentar da Marinha, teve o apoio de deputados e líderes do Centrão. Outra escolha pessoal de Bolsonaro foi a indicação do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, para o lugar do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que, filiado ao PL, deixará o governo para disputar como vice na chapa do presidente.

Já nos ministérios da Cidadania e do Desenvolvimento Regional, os titulares João Roma e Rogério Marinho, integrantes do Centrão, conseguiram emplacar assessores de confiança e vão manter influência na pasta enquanto concorrem aos governos da Bahia e do Rio Grande do Norte, respectivamente. Na Cidadania, será promovido a ministro o secretário de Assuntos Estratégicos da pasta, Ronaldo Bento. Já o Desenvolvimento Regional será assumido por Daniel de Oliveira Duarte Ferreira, secretário-executivo da pasta.

Nesta semana, Milton Ribeiro se demitiu em meio a suspeitas de que pastores atuavam como lobistas no MEC. No seu lugar, ainda de modo interino, ficou o ex-secretário-executivo da pasta, Victor Godoy, conforme publicado na edição de ontem no Diário Oficial da União.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) chegou a ser cotado para assumir um ministério. Em visita a Rondônia, mês passado, Bolsonaro afirmou que teria “ministério-tampão”, citando a possibilidade de o parlamentar estar entre os agraciados. Rogério, entretanto, preferiu disputar o governo de seu estado. Reservadamente, ele não descarta acumular a pré-candidatura com a liderança do governo no Senado.

— O Centrão já entendeu como é o jeito do presidente Bolsonaro montar o seu governo. Ele não abre mão das indicações — disse o deputado Cezinha Madureira (PSD-SP), vice-líder o governo no Congresso.

Outra avaliação que tem sido feita entre pessoas próximas ao governo é que Bolsonaro optou por fazer acenos aos ministros que deixarão os cargos para disputar a eleição deste ano, muitos deles estimulados pelo próprio presidente, para poderem fazer seus sucessores. O caminho para a volta dos que não se elegeram também está aberto.

Ao deixar o Ministério do Trabalho para disputar o governo do Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni indicou José Carlos Oliveira, presidente do INSS para substituí-lo. Já Gilson Machado, que concorrerá ao Senado em Pernambuco, indicou Carlos Brito, presidente da Embratur, para o Ministério do Turismo. O titular da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, conseguiu emplacar o secretário de Empreendedorismo e Inovação da pasta, Paulo Alvim. Em entrevista ao GLOBO, ele disse que só se lançou às urnas depois de ter a certeza que o cargo não seria entregue ao Centrão.

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