Política

Tolentino se esqueceu, mas é o dono da FIB Bank, diz Renan; empresário admite amizade com Ricardo Barros

‘A empresa, que não é banco, oferecia garantia irregular ao governo’, afirmou o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP)

O empresário Marcos Tolentino, suposto sócio oculto da Fib Bank. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
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O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), ironizou a oitiva do advogado e empresário Marcos Tolentino, apontado como sócio oculto da FIB Bank. Segundo o senador, o depoente “se esqueceu” de que é o dono da empresa usada pela Precisa Medicamentos como fiadora do contrato do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin, que entrou na mira da comissão devido a indícios de fraude.

“FIB Bank deu a garantia dos contratos da Covaxin e de todos da Precisa no Ministério da Saúde e órgãos públicos. Usaram até um humilde alagoano como laranja. A CPI na reta final vai desvendando mais falcatruas desse governo insensato”, escreveu Renan nas redes sociais.

No depoimento, Tolentino negou ser sócio oculto da FIB Bank, mas, questionado por senadores sobre sua relação com a empresa, permaneceu em silêncio.  A companhia assinou uma carta de fiança no valor de 80,7 milhões de reais para garantir o transporte da Covaxin no contrato assinado entre a Precisa e a Saúde. Com o avanço das investigações da CPI, a compra foi cancelada pela pasta.

Apesar do nome, a FIB Bank não é um banco, mas uma sociedade anônima que presta garantias fidejussórias.

A CPI ainda identificou o repasse de 336 mil reais pela FIB Bank a uma empresa registrada no nome da mãe de Tolentino. A quantia representa 96% do valor pago pela Precisa à FIB Bank pela atuação como ‘fiadora’ na compra da Covaxin.

“Esse é um dos pontos mais críticos do depoimento, pois, como eu falei aqui anteriormente, as movimentações financeiras mostram que a Brasil Space Air Log, empresa que pertence de fato ao senhor Marcos Tolentino, recebeu do FIB Bank 336 mil dos 350 mil reais no mesmo dia em que esse valor foi pago pela Precisa Medicamentos. Os outros 14 mil foram destinados a Wagner Potenza, ex-presidente da FIB Bank”, disse Calheiros na sessão.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também se manifestou pelas redes sobre as declarações de Tolentino.

“Todas as provas que apresentamos são claras: Marcos Tolentino é o verdadeiro dono da famigerada FIB Bank, a empresa, que não é banco, que oferecia garantias de forma irregular em contratos com o Governo Federal (inclusive, envolvendo vacina contra a Covid-19)”, afirmou o senador.

Apesar de negar a pecha de sócio oculto, Tolentino admitiu relação com negócios em comum com a FIB Bank – os quais, segundo ele, derivam de participações em sociedades que manteve no passado. O empresário não forneceu detalhes desses vínculos.

Na oitiva, Tolentino declarou que manteve “encontros meramente casuais” com o presidente Jair Bolsonaro e reforçou sua amizade com o líder do governo federal na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Ele se referiu a Barros como um “conhecido há muitos anos, mantenho com ele vínculo de respeito e amizade, nada mais do que isso.”

Em 31 de agosto, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, autorizou Tolentino a permanecer em silêncio ante perguntas que possam incriminá-lo. Decisões da Corte, porém, rejeitaram o pedido da defesa para que o advogado não comparecesse ao depoimento.

A CPI identificou a atuação de Tolentino em cartas de fiança à União relacionadas a contratos que somam aproximadamente 600 milhões de reais . “Isso demonstra um conluio nunca visto na história da República” afirmou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL). “O Ricardo Barros está presente em todas as negociatas e sempre muito próximo do depoente”.

Tolentino admitiu que tem como ativos precatórios da União. O depoimento chamou a atenção devido ao fato de Barros defender, desde setembro do ano passado, o parcelamento de precatórios para abrir espaço a um programa social.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) apontou a seguinte relação suspeita: parcelar precatórios faz com que escritórios de advocacia como o de Tolentino paguem valores menores à vista para os beneficiados e fiquem com o direito de receber as dívidas da União em quantias maiores no futuro.

“É um interesse que, me parece, nesse caso conjugam”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ao analisar o interesse de Tolentino nos precatórios e a atuação do líder do governo na Câmara.

A CPI avalia sugerir o indiciamento de Ricardo Barros ao Ministério Público Federal. O deputado nega ter atuado em contratos suspeitos no Ministério da Saúde e agido para facilitar a compra da Covaxin.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou as citações a Ricardo Barros e afirmou que Bolsonaro chamará o ex-presidente Michel Temer para assinar uma carta e pedir desculpas por ter escolhido o deputado como líder do governo na Câmara.

“Intocável perante o presidente Bolsonaro, intocável perante os apoiadores, porque permanece. Mesmo que a gente mostre aqui, desnude o líder na Câmara do presidente Bolsonaro, isso não vai mudar nada não, vai continuar lá”, disse Aziz.

(Com informações da Agência Estado)

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