Política

Tiburi: “Recebo mensagens dizendo que vão me dar um tiro na testa”

Filósofa é mais uma ativista de esquerda que decidiu sair do Brasil após sofrer ameaças

(Foto: Arquivo pessoal)
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Desde dezembro de 2018, Márcia Tiburi, escritora, filósofa e política de esquerda, vive em Pittsburgh, nordeste dos Estados Unidos, e em breve vai para Paris, na França. Márcia concorreu às eleições ao governo do Rio de Janeiro em 2018 e publicou diversos livros nos últimos anos sobre a onda conservadora que avança no Brasil.

O mais recente trata justamente da loucura coletiva na era da (des)informação e da necessidade de se valorizar a reflexão em meio aos descaminhos de um governo que ameaça a democracia e induz ao narcisismo adquirido.

“O Delírio do Poder”, editado pela Record, é um ensaio sobre o Brasil político de 2018 e as eleições. Ao mesmo tempo, traz uma narrativa interna sobre a participação de Tiburi na campanha do Rio. É um livro de testemunho e filosofia.

A onda atual, que ela classifica como “fascismo”, a levou não voltar mais ao país como forma de preservar sua própria segurança. E não só a dela. A escritora falou com a CartaCapital do local onde vive, e explicou que sua saída do Brasil também visa preservar as pessoas que militam ao seu lado.

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CartaCapital: O que levou você a tomar a decisão de deixar o país definitivamente?

Márcia Tiburi: Nós vivemos num Estado de exceção que se aprofunda cada vez mais. Esse estado de coisas, neste momento, quer destruir as mentalidades e sensibilidades da população, por meio de mitificações, distorções, notícias falsas (fake news), por meio de muita desinformação, que é a principal atividade do presidente da República agora, ao que parece. Mas há também essa ameaça a pessoas específicas, pensadores, artistas, professores. Não sou a única, e não sou a única que deixou o país em função dessas ameaças.

CC:  Faz algum tempo que você tem sido alvo de críticas de conservadores e militantes, isso se aprofundou desde a campanha de 2018?

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MT: Críticas e discordâncias que funcionaram um dia dentro de um ambiente democrático saudável, ultrapassaram, em muito, o limite dos xingamentos, e agora estão no nível das ameaças. É preciso enfrentar isso com lucidez. Meu gesto é de autoproteção, mas também é um gesto simbólico que busca defender as pessoas que lutam comigo, que estão presentes nos meus lançamentos de livros e outros eventos públicos e que são ameaçadas por isso.

CC: Que tipo de ameaça você recebeu nos últimos tempos?

MT: Recebo mensagens de que meus eventos podem ser alvos de atentados. Dizendo que vão me dar um tiro no meio da testa. Esse tipo de ameaça é muita pesada e eu temo não só por mim, mas por todas as pessoas que me leem, que vão aos meus eventos. A gente corre risco no Brasil, risco dessas pessoas violentas que estão sendo movidas por um ódio fascista.

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