Política

Temer faz ‘terrorismo’ para congelar verba de saúde e educação

Polêmica propaganda aponta ‘situação muito grave’. Cenário apresentado a deputados é de caos sem PEC 241

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O governo Temer lançou uma ofensiva “terrorista” para convencer o Congresso a congelar por vinte anos investimentos em serviços públicos como saúde e educação. Propaganda em jornais a apontar uma “situação muito grave nas contas públicas” e reuniões com parlamentares a projetar um cenário econômico caótico são algumas das armas.

Paralelamente, o Palácio do Planalto pressiona partidos aliados a punir parlamentares que votem contra o congelamento de gastos, receoso de a impopularidade da proposta afugentar apoios. E convocou cerca de 400 deputados para um jantar com Michel Temer no domingo 9, véspera da primeira votação da medida na Câmara, para o presidente cobrar fidelidade e voto a favor.

A propaganda sobre as contas públicas começou nesta quarta-feira 5. Intitula-se “Vamos tirar o Brasil do vermelho para voltar a crescer”.

Devido à palavra “vermelho”, partidos de oposição, como PT e PCdoB, acionarão a Procuradoria Geral da República contra Temer e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), o homem das verbas publicitárias. Apontam improbidade, pois seria alusão ao PT (propaganda institucional precisa ter caráter impessoal), e crime eleitoral (ainda há disputas de segundo turno em várias cidades). A intenção é entrar também com ações populares na Justiça pelo País contra a propaganda.

“O governo está fazendo terrorismo para aprovar o congelamento de gastos com serviços públicos. Essa propaganda é gravíssima”, diz o deputado Paulo Teixeira (SP), vice-presidente do PT.

Na manhã dessa quarta-feira 5, a residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um aliado de Temer, foi palco de outra ação da ofensiva em favor do congelamento de gastos em saúde e educação.

A pedido de membros do governo houve uma apresentação a deputados elaborada por técnicos da Fundação Getúlio Vargas sobre o que acontecerá, caso não seja aprovada a chamada PEC 241. O dólar ultrapassaria os 4 reais até o fim do ano e a dívida pública logo chegaria a 100% do PIB – hoje, está em 70%. “Pintaram cenário caótico”, contou um dos deputados presentes.

Segundo ele, Temer está “inflexível”, encara essa votação como “ponto de honra” e quer uma primeira aprovação na Câmara de qualquer jeito na semana que vem. Maia marcou a votação para a segunda-feira 10.

Na véspera, deverá haver um jantar de Temer com cerca de 400 deputados de partidos aliados, no Palácio da Alvorada, um fato raro. O presidente pretende fazer um apelo pela aprovação da PEC.

Alguns governistas não gostaram muito, caso de Alberto Fraga (DEM-DF), que reclamou da tribuna. “Ótimo, domingo. Poderia ser no sábado, mas colocar um jantar na hora de votação, quando precisamos ter voto suficiente para derrotar a oposição, eu confesso que, se continuar desse jeito, já que eu me acostumei na oposição, não custa nada eu me manter na oposição.”

Adversário do governo, Silvio Costa (PTdoB-PE) disse que não tem cabimento Temer promover um jantar do tipo, destinado a aliciar deputados, com o país na crise fiscal apontada pelo próprio peemedebista. “Se sair 100 reais por pessoa, serão 40 mil reais com esse jantar. Não dá para aceitar.”

Menos aceitável ainda por ter como pauta a aprovação de uma proposta como a PEC 241, na opinião dele. “Dá para dizer quantas pessoas vão nascer no ano que vem? Quantas vão morrer em acidente de moto? Não dá para impor um teto de gastos na saúde, é um absurdo essa proposta.”

 

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