Política

Temer e Bolsonaro criam “pontes para o futuro”

Base do atual governo se aproxima cada vez mais de candidato do PSL, que precisará do ‘centrão’ para aprovar mudanças

Temer pleiteia uma saída honrosa. Bolsonaro acena para a base do atual governo
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No primeiro turno, Michel Temer gravou vídeos-bomba contra Geraldo Alckmin e João Doria, do PSDB. Usou sua impopularidade para atingir diretamente a imagem de antigos aliados tucanos. Agora no segundo turno, ele busca construir uma “ponte para o futuro” com o favorito a vencer a disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL). 

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Os movimentos de aliados de Temer junto ao presidenciável começam a tomar corpo. Aparentemente, são bem-vindos pelo candidato do PSL, que tem recebido os emissários do emedebista. Nesta segunda-feira 22, Bolsonaro encontrou-se com o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho, um dos maiores entusiastas da reforma trabalhista do atual governo. Segundo a jornalista Andreia Sadi, aliados de Temer esperam contar com o juiz como uma das “pontes” entre Bolsonaro e o atual presidente. 

Ex-ministro da Educação de Temer, Mendonça Filho (DEM) também estreita as relações com o candidato do PSL. Tem atuado como uma espécie de colaborador informal da campanha de Bolsonaro e é cogitados nos bastidores para voltar ao ministério que deixou em abril para se candidatar ao Senado. Ele reuniu-se há poucos dias com o deputado Onyx Lorenzoni, possível ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro. 

Mendonça Filho não é o único demista bem cotado entre os bolsonaristas. O candidato e o presidente do PSL, Gustavo Bebiano, já garantiram que a presidência da Câmara não ficará com o partido do presidenciável, um claro gesto ao “centrão” que apoiou Geraldo Alckmin no primeiro turno.

Atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia pode ser reconduzido ao cargo em um eventual governo Bolsonaro. Ele já prepara o terreno, ao cogitar colocar em votação um projeto para revogar o Estatuto do Desarmamento, uma das propostas centrais do capitão reformado do Exército. 

Para Temer e Bolsonaro, a aproximação se justifica. Em 2018, o PSL foi o partido mais fiel ao atual presidente, ao acompanhar o governo em 67% das votações, porcentagem superior à do MDB, partido de Temer. Apesar da fidelidade do PSL ao emedebista em temas como a venda direta do pré-sal e a abertura de crédito especial a órgãos do Executivo, Bolsonaro buscou demarcar posição contra o presidente no ano passado, ao votar a favor das duas denúncias contra Temer barradas pela Câmara. 

Bolsonaro sabe, porém, que não poderá governar apenas com os 52 deputados e quatro senadores do PSL. Terá de contar com o “centrão” para aprovar matérias importantes, em especial as que demandam emendas constitucionais. Com cinco partidos – PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade –, o bloco diminuiu nestas eleições, mas ainda é uma força determinante, com 142 deputados eleitos. Não à toa, Bolsonaro declarou recentemente que “nem tudo no governo Temer é ruim”. 

O atual presidente, por sua vez, pleiteia alguma saída honrosa. Não é de hoje que surge a hipótese de ele ser beneficiado com uma cargo diplomático, capaz de preservar seu foro privilegiado. Ao ajudar a dinamitar a candidatura de Alckmin no primeiro turno, o emedebista favoreceu indiretamente Bolsonaro. Neste momento em que as pontes para o futuro começam a ser erguidas pela dupla, estaria o provável novo presidente disposto a retribuir o favor?  

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