Política

Teich diz que Brasil enfrenta pandemia com “incapacidade de enxergar” à frente

Em entrevista à Globo News, ex-ministro da Saúde disse que acredita que protocolo da cloroquina seja revisto com estudos mais conclusivos

O ministro da Saúde, Nelson Teich. Foto: Carolina Antunes/PR
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O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, disse que o Brasil enfrenta a pandemia do coronavírus em uma situação de “absoluta incapacidade de enxergar o que vem pela frente”. A declaração foi dada durante entrevista concedida à Globo News no domingo 24.

“A gente navega hoje em uma situação de absoluta incapacidade de enxergar o que vem pela frente. Ter uma gestão com instabilidade, ansiedade, medo e polarização é muito difícil. A gente realmente não sabe o que vai acontecer. Como a covid vai evoluir, quanto tempo vai durar? A gente realmente não sabe”, afirmou.

Teich confirmou que a decisão por mudar o protocolo da cloroquina influenciou a sua saída do cargo e questionou o fato da prescrição ser atrelada ao médico responsável. “É óbvio que a opção por antecipar o uso teve peso, porque é uma escolha. O presidente achava melhor antecipar, e eu achava que não. Houve uma divergência. Como a gente não tem um dado efetivo… Se o Conselho autoriza, por que eu não posso autorizar? Por que você não pode autorizar, entendeu? As instituições têm de se posicionar forte. Não dá para delegar isso para o médico, a situação é muito intensa e complexa”.

Ele também entende que o protocolo adotado recentemente pelo ministério da Saúde deve ser revisto tão logo estudos mais conclusivos sejam finalizados. “Eu acredito que [o protocolo da cloroquina] vai ser revisto. A minha opção era por ensaio clínico, coletar informação. Imagina hoje, com todas as pessoas que usaram o remédio, se a gente tivesse os dados deles? Quando você não colhe o dado, fica mais difícil”.

“Se eu começo a aceitar que você possa prescrever remédio para doenças só porque tem um teste in vitro que sugere um benefício, isso começa a virar uma prática incontrolável. Se tem coisas que eu não sei se funcionam, eu não posso gastar dinheiro nisso. Porque eu tenho muito pouco dinheiro. Tenho de gastar dinheiro no que eu sei que funciona. Para mim, eu tinha de esperar para tomar alguma decisão. Essa decisão do papel da cloroquina vai sair com os estudos randomizados. Eu não me senti pressionado, não tinha pressão alguma”, disse.

 

Teich, no entanto, evitou politizar a sua saída que disse ter sido “confortável” ou mesmo criticar o presidente Jair Bolsonaro. “O presidente é a pessoa escolhida, votada, é o representante; ele me colocou lá. Se eu escolho o caminho diferente do dele, quem tem de sair sou eu. Mas o fato de ter uma diferença não quer dizer que tem um conflito. Foi uma saída confortável”.

“O presidente faz as escolhas dele, eu não vou julgar o presidente. Vou deixar isso bem claro, senão vou estar polarizando e fazendo tudo o que falei para não fazer. O presidente tem as escolhas dele, o comportamento dele, e isso de alguma forma vai ser, lá na frente, não sei se a próxima eleição… O povo vai dizer o que acha dele. Mas eu não vou julgar o presidente agora, não vou fazer isso”, emendou.

No entanto, o ex-ministro discordou da forma do presidente conduzir os assuntos econômicos, em meio à pandemia. “O que eu achei que foi um erro foi se tratar economia como se fosse dinheiro, e não como vida. Entendeu? Quando você diz que há economia e há saúde, parece que está tratando dinheiro versus vida. Não existe isso. Quando eu digo que estou alinhado, é porque trato economia como gente também, não trato economia como dinheiro. Não é o bem contra o mal”, afirmou.

Teich falou sobre a necessidade do isolamento social para enfrentamento da pandemia e defendeu, sobretudo, as testagens. “Se o estado de São Paulo, na situação atual, tiver dentro daquilo que a gente colocaria como situação mais crítica, as medidas de distanciamento estão corretas. Eu não defendo ninguém a não ser a sociedade. Tem de deixar isso muito claro. Eu defendo os pacientes, as pessoas e a sociedade. Eu não tenho lado, não tenho polarização. Tudo que eu falo é por elas. Eu não tenho lado. Qualquer coisa que eu te disser aqui é porque estou preocupado com a sociedade, eu não defendo pessoas isoladas”.

“Os testes fariam diferença. Hoje, a maior parte dos municípios já tem casos da covid. Não adianta só ver a percentual de municípios, tem de ver percentual da população. Você pode ter 60% dos municípios e 90% da população”, acrescentou.

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