Política

Tacla Durán mostra mensagens de suposta negociação com amigo de Moro

Em depoimento à CPMI da JBS, o ex-advogado da Odebrecht apresentou registros da conversa que comprovariam atuação de Zucolotto em delação

Tacla Duran em videoconferência com a CPI: ele acusa um amigo de Moro de liderar negociações paralelas com a força-tarefa da Lava Jato
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Em depoimento à CPMI da JBS nesta quinta-feira 30, o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán apresentou aos parlamentares registros de troca de mensagens de celular entre ele e o advogado Carlos Zucolotto Jr., padrinho de casamento do juiz Sérgio Moro e sócio de uma banca que já teve a esposa do magistrado responsável pela Lava Jato, Rosângela.

A troca de mensagens reforça as acusações de Durán sobre a atuação do amigo de Moro para negociar sua delação premiada com a força tarefa da Lava Jato.

Se tiver sua autenticidade confirmada, a conversa apresentada demonstra que a entrada em cena de Zucolotto teria conseguido baixar de 15 milhões para 5 milhões de reais a multa que a força-tarefa queria de Durán em uma delação. A redução teria sido costurada na base de grana, 5 milhões para o amigo de Moro.

O advogado de 44 anos trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016 e é acusado pelo Ministério Público de participar de esquemas de lavagem de dinheiro e pagamento de propina. Foi preso em novembro de 2016, na 36a fase da Lava Jato, por ordem de Moro. Atualmente na Espanha, ele teve sua extradição ao Brasil negada pela Justiça do país europeu e é considerado “foragido” pela força-tarefa de Curitiba.

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No diálogo apresentado por Durán, Zucolotto pergunta: “já fizeram uma proposta já?” Em seguida, Durán reclama de que a força-tarefa busca “um monte de coisa nada a ver” sobre a qual não teria responsabilidade. Em reposta, o amigo de Moro afirma que vai “encontrar a pessoa esses dias para melhorar isso com o DD”. Embora não fique claro quem seja DD, são as mesmas iniciais do procurador Deltan Dalagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato.

Na suposta conversa com o amigo de Moro, Durán reclama do alto valor da multa cobrado pela força-tarefa pela delação. “Estão me pedindo 15 milhões de dólares de multa com base num assunto normal sem crime”, afirma. Zucolotto teria concordado. “Me dá uns dias que vou fazer contato para que o DD entre nessa negociação.”

tacla_CPI_dialogo_print.jpeg O suposto diálogo entre Tacla Duran e Zucolotto (Foto: Reprodução)

Perguntado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) quem seria o DD mencionado na troca de mensagens, Duran disse que faz ideia de quem seja, mas preferiu não responder. “O mais indicado a responder isso é o Carlos Zucolotto.”

Após conversarem sobre o “DD”, Durán teria perguntado o que poderia ser melhorado no acordo. Segundo a troca de mensagens apresentadas, Zucolotto diz que vai insistir para alterar uma possível prisão em regime fechado para domiciliar e garante que irá negociar para “diminuir a multa”.

“Para quanto?”, pergunta Durán. “A ideia seria diminuir para 1/3 do pedido e você paga mais 1/3 de honorários para poder resolver isso”, teria respondido Zucolotto.

Durán então pergunta se paga os “honorários” diretamente ao advogado. “Sim, mas por fora porque tenho que resolver o pessoal que vai ajudar nisso. Fazemos como sempre, a parte maior você me paga por fora”, teria afirmado o amigo de Moro.

À CPMI, o advogado afirmou que buscou Zucolotto “porque ele conhecia as autoridades em Curitiba”. Segundo ele, o e-mail enviado pelos procuradores Carlos Fernando Lima e Roberson Pozzobon com uma proposta de delação dez dias após a conversa com o advogado foi “fruto do trabalho de Zucolotto.

Durán negociou a delação com o MP, porém não chegou a assiná-la, pois teria de confessar crimes que, segundo diz, não cometeu. E aí foi para o ataque, com acusações aos métodos da força-tarefa, suspeitas sobre Moro e denúncias de uma “indústria da delação” em Curitiba.

Tacla Duran apresentou ainda uma perícia particular para confirmar a autenticidade da troca de mensagens. O parecer foi elaborado pela Associação Espanhola de Peritos, que sorteou, segundo Duran, o profissional responsável pela análise.

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