Suspeito de financiar atos golpistas, Luciano Hang faz crítica velada ao terrorismo em Brasília

Embora diga não apoiar atos contra a democracia, caminhões à serviço da Havan estiveram presentes nos bloqueios de estradas em 2022

Passo em falso. Luciano Hang recuou no apoio logístico aos amotinados em frente de uma de suas lojas, em Palhoça - Imagem: Daniel Marenco/Agência O Globo

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O dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, condenou os atos terroristas promovidos por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) neste domingo em Brasília. Em vídeo, o empresário frisou que “democracia não combina com atos de vandalismo”.

Dono de uma fortuna estimada em US$ 4,8 bilhões, Hang é um dos principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Desde 2018, o empresário esteve ao lado do ex-capitão em diversas fotos e reuniões, além de financiar parte da campanha de reeleição em 2022.

Em nota e vídeo divulgado à imprensa, Hang declarou que que “democracia é ter eleições para escolher representantes do povo e, quem vencer, deve ter o direito de administrar daqui pra frente”. Em outro trecho, o empresário destaca que jamais apoiou atos de violência e vandalismo, e que também não incentivou ou financiou o ocorrido em 8 de janeiro.

“Repudio tudo o que foi feito no domingo, até mesmo porque o que aconteceu vai contra tudo o que eu luto. Não podemos aceitar o que foi feito, é preciso que os culpados sejam identificados e punidos dentro da lei”, conclui.

Em agosto do ano passado, Hang foi apontado como um dos financiadores dos atos de 7 de setembro ocorridos em 2021 após o vazamento de mensagens em um grupo de Telegram intitulado ‘patriotas’, que reunia empresários apoiadores de Jair Bolsonaro e também insinuava um golpe de estado caso Lula fosse eleito.

Ao final da eleição, o empresário se viu em uma nova saia justa diante as manifestações em estradas e rodovias de todo o Brasil com a derrota de Bolsonaro nas urnas: embora alegasse não estar envolvido ou inflar a insurgência, parte das paralisações e protestos ocorreram em frente às suas lojas, com direito a churrasco e cerveja para os manifestantes. Um relatório feito pela Polícia Rodoviária Federal, revelado pela Agência Pública, apontava que caminhões a serviço da Havan foram enviados para os bloqueios.


O movimento de Luciano Hang em se afastar do movimento bolsonarista pode ser visto desde a sexta-feira 6, anterior aos atos de terrorismo em Brasília. Em comunicado divulgado anteriormente, ele disse desejar que o novo governo “faça uma ótima administração” e de que “torce pelo piloto”, sem citar diretamente Luiz Inácio Lula da Silva.

Confira na íntegra a nota:

“Durante a campanha eleitoral, fiz doações ao candidato que eu mais me identificava em termos de propostas e de luta por um país melhor. Aliás, em 2018, quando me tornei ativista político, foi exatamente isso que fiz: analisei todos os candidatos para escolher qual se encaixava mais naquilo que eu acreditava e queria para o Brasil.

Como falei durante esta última campanha, meu apoio político iria até o dia da eleição, depois respeitaria o resultado das urnas, e assim voltaria a cuidar da minha empresa, dos nossos 22 mil colaboradores, da minha família. Sempre disse em diversas entrevistas que não tenho partido e nem mesmo político de estimação. Lutei por um país com menos burocracia, mais liberalismo econômico e mais oportunidades de empregos para todos os brasileiros. Por isso, estarei ao lado de todos os projetos que ajudarem o nosso país.

Democracia é isso, ter eleições para escolher os representantes do povo e, quem vencer, deve ter o direito de administrar daqui para frente. O meu desejo hoje é que possamos ter um país de paz, harmonia, desenvolvimento e muitos empregos.

Jamais apoiei ou apoiaria atos de violência e vandalismo. Não doei, não participei e não incentivei nenhum tipo de ato contra a democracia, tampouco contra prédios públicos. Embora minhas redes sociais estejam bloqueadas no Brasil, no dia 1º de novembro já havia publicado uma nota esclarecendo que não estava participando ou apoiando qualquer manifestação.

Repudio tudo o que foi feito no domingo, até mesmo porque o que aconteceu vai contra tudo o que eu luto. Não podemos aceitar o que foi feito, é preciso que os culpados sejam identificados e punidos dentro da lei”.

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1 comentário

Antonio Carlos Figueiredo Ferreira 22 de janeiro de 2023 23h33

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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