Política

Sucessores de Mandela devem combater outros apartheids

Para Jesse Jackson, pastor que lutou ao lado de Martin Luther King, as diferenças geram um fosso social nas terras, na saúde e na educação

Sucessores de Mandela devem combater outros apartheids
Sucessores de Mandela devem combater outros apartheids
O pastor Jesse Jackson abraçando a ativista anti-apartheid e ex-esposa de Jacob Zuma, Nkosazana Dlamini Zuma (direita) e a ministra da Função Pública, Lindiwe Sisulu (esquerda), durante o funeral de Mandela
Apoie Siga-nos no

Conhecido por participar da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos ao lado de Martin Luther King, o pastor Jesse Jackson disse que depois do apartheid a África do Sul precisa lutar contra segregações de seu povo, geradas por séculos de desigualdades. Ele acredita, contudo, que o país tem um futuro promissor.

“A África do Sul tem um futuro brilhante. O maior problema é que, embora o país seja livre, continua desigual. As grandes diferenças acabam gerando um apartheid nas terras, na saúde, na educação e na distribuição de renda. Esses gargalos precisam ser resolvidos para se ter um novo país”, acrescentou. Segundo ele, que participou das cerimônias do funeral de Nelson Mandela em Pretória e Qunu, onde o corpo foi enterrado, o ex-presidente construiu os alicerces para esse avanço.

Mandela contribuiu para a união do país e o fim da segregação racial. Quando presidente, adotou um novo hino nacional, mesclando o hino do Congresso Nacional Africano (CNA) – partido de negros que lutavam contra o apartheid – com o africâner (língua falada no país), além de uma nova bandeira, unindo os símbolos das duas instituições.

No próximo ano, a África do Sul comemora 20 anos de liberdade e democracia. Também promove eleições presidenciais. Depois de cumprir um mandato no governo, Mandela ajudou seu partido a vencer três eleições seguidas. Suceder um ícone mundial, símbolo de resiliência e exemplo para o mundo, contudo, não é tarefa fácil. Nem para os governantes nem para a população.

Thabo Mbeki, vice de Mandela, foi eleito e reeleito, mas teve de renunciar antes de completar o segundo mandato por falta de apoio no próprio CNA. Como presidente, ele negava a ligação entre o vírus HIV e a aids e, por isso, se negava a distribuir remédios antivirais, o que levou seu antecessor a se manifestar publicamente, contrariando Mbeki. Em 2005, cerca de 30% das mulheres grávidas e 20% da população adulta estavam infectadas pelo vírus.

Jacob Zuma, o atual presidente, enfrenta desconfiança da população após casos de corrupção serem divulgados, como o uso de aproximadamente US$ 20 milhões em recursos públicos para melhorias em uma propriedade particular de sua família. Como reflexo da impopularidade, no dia 11, quando um tributo foi realizado para Mandela no Estádio Soccer City, em Joanesburgo, Zuma foi vaiado na frente de 90 chefes de Estado.

Após 95 anos de contribuição ao país, Mandela continuará permeando a política local. Seu neto Mandla Mandela agradeceu várias vezes o apoio do CNA durante o funeral. O líder é unanimidade entre a população, o governo não. Ele foi um dos responsáveis pelo fim do regime do apartheid e a consolidação de instituições mais receptivas e igualitárias. Na era pós-Mandela, seus sucessores têm a responsabilidade de combater os outros apartheids, como defende Jesse Jackson.

*Publicado originalmente na Agência Brasil

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo