Solução final

O governo Bolsonaro deu guarida à ação deliberada de extermínio dos Yanomâmis

Crianças desnutridas, assim como idosos, fazem lembrar os horrores dos campos de concentração - Imagem: Centro de Documentação Indígena

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A fotografia do homem esquálido na maca, saco de ossos alimentado de luz, evocação macabra do Cristo morto do pintor italiano Andrea Mantegna, seria suficiente para descrever a tragédia Yanomâmi. Há, no entanto, mais, muito mais. Mães, filhos e avós cujo único “crime” é existir, nas imagens que transbordam e afligem, parecem resgatados de um campo de concentração tropical, uma Auschwitz amazônica. Diante da chocante situação exposta aos olhos do mundo nos últimos dias, não restam dúvidas a respeito do que se passou no interior da mais exuberante floresta do planeta. “Assassinar crianças é uma forma óbvia de conduzir o extermínio de um povo”, afirmou o ministro da Justiça, Flávio Dino. “Há indícios fortíssimos da materialidade do crime de genocídio. É disso que se cuida.”

O genocídio, como define sem exageros o ministro, ganhou contornos de “solução final” durante os quatro anos de governo Bolsonaro, mas foi arquitetado há certo tempo e tem coautores. A principal causa da tragédia em Roraima, excetuada a ação estatal deliberada, é a presença crescente e incontrolável de mineradores ilegais na maior terra indígena do País. São cerca de 20 mil garimpeiros, fortemente armados, em pé de guerra e protegidos pelas forças de segurança, contra 28 mil ­Yanomâmis abandonados à própria sorte. Uma batalha desigual em que os invasores matam, estupram, aliciam jovens e transformam em deserto o entorno. Os rios estão contaminados pelo mercúrio, o que afeta o plantio, a caça e a pesca. A presença dos neobandeirantes acelera a proliferação de malária, dengue, pneumonia, diarreia e inúmeros tipos de verminose.

“Há indícios fortíssimos de crime de genocídio”, avalia Flávio Dino, ministro da Justiça

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3 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 31 de janeiro de 2023 04h14
A pergunta de deveríamos fazer seria porque um indivíduo depois de tudo o que presenciamos e assistimos ainda apoia um governo como o de Bolsonaro? Ou por desinformação, que não se justifica ou por má-fé e identificação de caráter , talvez seja tenha mais sentido. O presidente Lula deveria acabar com todos os garimpos, pois a terra não suporta mais e as comunidades indígenas seriam fatalmente extintas a continuar a exploração dos minerais nobres com a poluição dos rios e consequente morticínio da fauna na região amazônica. Definitivamente, Bolsonaro praticou crime de genocídio não somente contra os Yanomamis mas contra todas as comunidades indígenas, contra os protetores das florestas e dos indígenas como Dom Philips e Bruno Pereira. Foi tudo planejado para explorar ao máximo as riquezas minerais do subsolo brasileiro e para eles as terras demarcadas dos indígenas era um verdadeiro estorvo. Por isso, Ministério Público, haja, judiciário receba a denúncia, polícias federais prendam porque eles, de fato praticaram crimes, e crimes em série contra os indígenas , contra a soberania nacional, contra o povo brasileiro e contra toda a humanidade. Punam Bolsonaro e bolsonaristas para o Brasil não ser desmoralizado perante a comunidade internacional.
ANA LUCIA BORGHESE RODRIGUES 28 de janeiro de 2023 15h08
sim, há de se investigar quem são os chefes dos crimes na região amazônica e puni-los com rigor, além de promover um limpa geral dos paus-mandados que destroem a floresta. não basta expulsá-los, eles também precisam ser presos. mas os culpados políticos são mais do que conhecidos e as provas contra eles, irrefutáveis. que mais há para investigar sobre eles? punição já! justiça que tarda, falha.
BORTOLO TADEU TEODORO DE SOUZA 27 de janeiro de 2023 01h48
carta capital

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