Entrevistas
Sob risco de expulsão, Celso Sabino pede ‘bom senso’ ao União e prega aproximação com Lula
A CartaCapital, o ministro do Turismo celebrou resultados da COP30 e disse que a crise entre Congresso e Planalto é ‘arrumação natural das pedras’
Sob risco de expulsão do União Brasil, o ministro do Turismo, Celso Sabino (PA), sinalizou que deve permanecer na sigla caso seja poupado pelo Conselho de Ética no processo que o acusa de infedelidade partidária. Depois de dois adiamentos, o colegiado se reuniu nesta terça-feira 25, em encontro virtual, e aprovou um parecer que recomenda o cancelamento da sua filiação.
A palavra final será da Executiva Nacional. Caso ganhe sobrevida da cúpula da agremiação, o ministro de Lula (PT) disse em entrevista a CartaCapital que trabalhará para retomar a relação do partido com o governo federal ou, em último caso, liberar os diretórios estaduais para definir alianças nas eleições de 2026.
“Penso que o melhor caminho é seguir esse projeto de Brasil que envolve a liderança do presidente. Sei que existem muitas pessoas que pensam de forma contrária, mas também há muitas que pensam como eu”, afirmou, pouco antes de acompanhar a reunião do Conselho de Ética. O procedimento surgiu após ele ignorar a determinação da sigla de romper com a gestão petista.
Voz quase solitária em defesa de Lula no União, ele tentou convencer seus pares a conceder um salvo-conduto que permitisse sua continuidade no Turismo até o fim do ano. Quando a sigla chefiada por Antonio de Rueda decidiu antecipar o desembarque do governo, o ministro procurou interlocutores e pediu mais tempo. Chegou a comunicar a saída do cargo, mas recuou em meio à manifestação de apoio de seus pares na Câmara.
O gesto, além de consolidar sua aproximação com o Palácio do Planalto, escancarou uma divisão no partido entre dirigentes que buscam romper com o governo e uma base no Congresso Nacional cada vez mais disposta a permanecer com Lula.
O procedimento disciplinar foi aberto em outubro, ocasião na qual o União também decidiu afastar Sabino temporariamente das atividades partidárias. Até então, o ministro participava das decisões mais importantes — ocupava uma cadeira na executiva nacional e outra no diretório paraense.
Sobre a análise do caso, Sabino afirmou esperar que o bom senso prevaleça. “É natural que dentro das agremiações haja divergências, posicionamentos contrários. Se nós tivermos uma decisão unilateral, de uma única pessoa, de duas ou três pessoas, não estaremos praticando democracia interna. Respeitarei a decisão do partido e vou trabalhar dentro das esferas democráticas, legais, possíveis, para que o partido compreenda.”
Caso a expulsão se concretize, o ministro deve migrar para um novo partido de olho não apenas na manutenção do cargo, mas na disputa pelo Senado em 2026. Nos bastidores, aliados afirmam que PSB e PDT estão no radar, mas Sabino pontuou que ainda não discutiu a troca de legenda por estar focado na realização da COP30, em Belém (PA).
À reportagem, o ministro fez um balanço positivo da Conferência, destacando a estrutura (que, segundo ele, superou a edição de Baku, no Azerbaijão, em 2024), a participação das comunidades tradicionais e a projeção internacional da capital do Pará. “Belém foi a COP mais inclusiva dos últimos anos. Tivemos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares dialogando de forma inédita.”
Apesar de a declaração final não ter contemplado a proposta brasileira para eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o ministro disse que o texto “trouxe várias inovações positivas” e ressaltou o compromisso do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, de trabalhar nessa direção ao lado de mais de 80 países que endossaram a iniciativa. Além disso, contemporizou os incidentes. “São normais em eventos com grande público. Foi um grande sucesso porque nosso sistema de planejamento funcionou de forma efetiva.”
Ele também celebrou os dados de sua gestão à frente do Turismo. De acordo com o deputado licenciado, o Brasil deve fechar o ano com mais de 10 milhões de turistas estrangeiros. Entre janeiro e outubro, o setor registrou 35,6 bilhões de reais em faturamento apenas com visitantes internacionais.
Ao comentar a tensa relação entre o Planalto e a cúpula do Congresso Nacional, Sabino afirmou se tratar de uma dinâmica em que sempre haverá críticas, independentemente do caminho adotado pelo governo.
O mais recente episódio de estremecimento no diálogo é o rompimento capitaneado pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com dois dos principais articuladores de Lula no Parlamento. Aliados veem a situação como algo de ordem pessoal, mas admitem que as rusgas podem impactar a agenda do governo na reta final do ano legislativo.
“É natural, em uma democracia como a que temos no Brasil, onde temos um Congresso fortalecido, que haja momentos em que essa relação está melhor e momentos em que não está tão boa. Mas é uma questão de acerto das pedras, arrumação da melancia dentro do caminhão”. diz o ministro. Para ele, trata-se de um processo natural. “No fim, o interesse do Brasil e do povo brasileiro tende a prevalecer sobre qualquer outra disputa.”
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