Política
Silêncio de Wizard na CPI incomoda senadores e é criticado nas redes
O empresário usou de direito concedido pelo STF de não responder os questionamentos dos membros da Comissão
O depoimento do empresário Carlos Wizard à CPI da Covid nesta quarta-feira 30 frustrou as expectativas dos integrantes da comissão e de parte dos presentes no Senado.
Suspeito de integrar o chamado ‘gabinete paralelo’ que defendia medicamentos não eficazes contra a Covid-19, como a cloroquina, Wizard lançou mão do habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal e se manteve em silêncio diante às perguntas dos senadores.
Em uma pequena fala de abertura, orientada pelo seu advogado, o empresário se limitou a dizer não fazer parte do suposto gabinete e que se ausentou do País em março, com destino aos Estados Unidos, por questões familiares.
O empresário retornou ao Brasil na segunda-feira 28 e entregou seu passaporte à Polícia Federal. O depoente também citou passagens bíblicas ao explicar brevemente que conheceu o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em Roraima, ao atuar em apoio à Operação Acolhida para refugiados venezuelanos.
O silêncio praticado pelo empresário foi confrontado por senadores. O depoimento de Wizard acontece um dia depois de surgirem novas denúncias de um suposto pedido de propina que teria partido do governo federal para a compra de vacinas da Astrazeneca, via empresa Davati Medical Suplly.
Os casos envolvendo a vacina indiana Covaxin e, agora, o imunizante da Astrazeneca abriram um novo capítulo de investigações pela CPI da Covid-19.
O presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM), anunciou que recorrerá ao STF contra a decisão de Barroso que garantiu o silêncio ao empresário, conhecido como “Mr. Cloroquina”.
A declaração do senador foi feita após a comissão reproduzir um vídeo em que o empresário, sorrindo, comenta mortes por Covid-19 e defende o tratamento precoce.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) questionou o silêncio do empresário com base nas citações bíblicas feitas em sua breve apresentação, destacando o interesse do empresário em adquirir vacinas para o setor privado.
“O senhor fala em Jesus Cristo, a essência de Jesus Cristo era amor aos pobres, aos excluídos. A informação que temos é que o senhor estava interessado em obter vacinas para o setor empresarial dando prioridades a empresários de idade pouco avançada e que não apresentassem sequer alguma comorbidade, ou seja, totalmente diferente do que o senhor falou agora”, criticou. “O senhor tem noção ou se arrepende das duas colocações a respeito desse medicamento que não tem nenhuma eficácia comprovada do ponto de vista da Ciência?”, questionou a senadora ainda diante do silêncio do depoente.
O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou que o empresário é “uma peça fundamental do que aconteceu no Brasil ao longo de mais de um ano da pandemia da Covid-19” ao citar sua atuação em prol do tratamento precoce feito à base de medicamentos sem eficácia e para diminuir a necessidade do isolamento social. O parlamentar ainda o acusou de atuar no lobby para aquisição de medicamentos.
Fora do âmbito da CPI, o silêncio de Wizard também reverberou negativamente.
“O silêncio de Carlos Wizard é a confissão de seus crimes”, escreveu em suas redes sociais o deputado federal pelo Rio de Janeiro Marcelo Freixo.
O silêncio de Carlos Wizard é a confissão dos seus crimes.#CPIdaPandemia
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) June 30, 2021
O deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha escreveu que o silêncio de Wizard “é o mesmo compartilhado por Bolsonaro e pela sua trupe diante dos mais de 516 mil mortos. Sabemos muito bem quem ele está defendendo com este silêncio”
Carlos Wizard crava seu silêncio na CPI da Covid-19. O silêncio compartilhado por Bolsonaro e pela sua trupe diante dos mais de 516 mil mortos. Sabemos muito bem quem ele está defendendo com este silêncio.
— Alexandre Padilha (@padilhando) June 30, 2021
O deputado federal Ivan Valente mencionou ser “vergonhosa” a atitude do empresário e citou que ele deve ser preso o mais rápido possível.
O Brasil está assistindo a uma das cenas mais vergonhosas do Senado Federal. Carlos Wizard é mais que um charlatão: é um criminoso que ri da morte de pessoas quanto nada em dinheiro. Deve ser preso o mais rápido possível. #CPIdaPandemia #ForaBolsonaro
— Ivan Valente (@IvanValente) June 30, 2021
O governador do Maranhão, Flávio Dino, também apontou contradição entre uma possível indignação do empresário frente ao cenário da pandemia com a sua escolha de permanecer calado.
Duas posturas que não combinam: indignação e ficar em silêncio quando pode se defender. Em 12 anos como juiz federal, nunca vi um réu “indignado” ficar calado.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) June 30, 2021
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