Política
Senador bolsonarista fez lobby para que empresas veterinárias produzissem vacinas
Heinze fez ponte com Precisa para converter fabricação de vacina para febre aftosa em imunizante para Covid-19
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) teria feito lobby para a inclusão de empresas do setor veterinário na produção de vacinas contra a Covid-19. O parlamentar também é apontado como intermediário de negócios envolvendo a Precisa Medicamentos, investigada pela CPI da Covid no Senado.
A empresa firmou contrato com a fabricante indiana Bharat Biotech e com o Ministério da Saúde para a compra de 20 milhões de doses do imunizante Covaxin, que tinha como valor 1,6 bilhão de reais. A CPI investiga suspeitas de fraude e corrupção envolvendo o contrato.
Pouco antes do contrato firmando com a pasta vir à tona, Heinze prospectou possibilidades de atuação da Precisa em parceria com grandes indústrias do setor animal para produção da vacina. À época, ainda não era permitido que industrias de vacinas veterinárias atuassem com a produção de imunizantes para a Covid-19.
Apuração da Folha de S.Paulo diz que funcionários da Precisa afirmaram que a empresa assinou três acordos de confidencialidade para tentar viabilizar a produção de vacina para Covid-19 em fábricas que produziam produtos animais. Segundo eles, os acordos foram assinados com a Boehringer Ingelheim Brasil, com a Ourofino Saúde Animal e com a Ceva Saúde Animal.
Ligações entre o senador e a diretora técnica da Precisa, Emanuela Medrades, que teve seu sigilo telefônico quebrado pela CPI, corroboram com o apurado.
Heinze também é apontado como lobista em relatórios diplomáticos entregues à CPI, em que o embaixador brasileiro na Índia, André Aranha Corrêa Lago, afirma que o senador tratou com ele sobre o assunto da produção de imunizantes pelas farmacêuticas veterinárias, como consta em ofício do Ministério das Relações Exteriores enviados à CPI. O diplomata confirma o nome das três empresas envolvidas na operação: Boehringer, Ourofino e Ceva.
“De acordo com as informações recebidas pelo posto, para que esses entendimentos possam prosseguir, a Anvisa deverá decidir sobre dois temas: as condições necessárias para a adaptação das instalações veterinárias para iniciar a produção de vacinas contra o coronavírus; e a aprovação da Covaxin para importação e uso no Brasil. Nesse último caso, uma decisão poderia ser tomada em breve”, cita o documento.
Heinze, que atuava junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para regulamentar a importação da Covaxin para o Brasil, também organizou uma reunião com os representantes do setor farmacêutico veterinário no Palácio do Planalto no dia 11 de junho.
A conversão das plantas de produção veterinária para a produção de imunizantes contra o coronavirus foi aprovada pela Câmara, e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 15 de julho. No entanto, a adaptação das fábricas seria complexa e não foi dado prosseguimento ao plano.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.