Política

Sem fé no ‘Fora Bolsonaro’, oposição tenta juntar líderes em ato público

Lula, Ciro, Boulos e Dino serão consultados sobre subir em um mesmo palanque contra o governo

Ciro Gomes e Lula em reunião em 2020, após rompimento em 2018. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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A convocação das marchas bolsonaristas de 15 de março levou os presidentes dos partidos de oposição (PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede) a sentarem juntos pela primeira vez este ano, dia 3, em Brasília. Ao acertarem a reunião, na qual estreou o recém criado Unidade Popular, socialista, o impeachment era uma ideia acalentada, no embalo de juristas a apontar crime de responsabilidade de Jair Bolsonaro por incentivar protestos anti-Congresso. A reunião jogou água fria na ideia.

Avaliou-se que não há condições de cassar Bolsonaro hoje. Ele tem seguidores fanáticos, milícias digitais, apoio do poder econômico a sua agenda neoliberal e as Forças Armadas, mesmo que elas dissimulem. Mais: diante de um impeachment, o ex-capitão falaria em revanchismo de derrotados e que a classe política não o deixa governar, combustível para mobilizar seus fiéis nas ruas. “A conjuntura está muito complexa”, diz a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

Complexa inclusive na oposição. Na reunião, realizada na sede do PSB, levantou-se a hipótese de organizar-se um ato contra Bolsonaro com a presença das estrelas oposicionistas: Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Flavio Dino (PCdoB). Missão tão difícil que ficou acertado que o plano não seria divulgado. Primeiro era preciso sondar a disposição dos líderes.

Será possível juntar Lula e Ciro no mesmo palanque? O pedetista tornou-se antipetista e não cansa de criticar o partido e o ex-presidente. E Dino, governador do Maranhão, topa? Ele tem conversado com o global Luciano Huck, potencial presidenciável da direita tradicional na eleição de 2022.

Na reunião, a deputada Jandira Feghali, do PCdoB do Rio, umas das líderes da oposição, defendeu que o campo progressista martele mais suas propostas, em vez de apenas criticar a o governo. “Precisamos de uma mensagem unificada que seja popular, como (a prorrogação d)o Fundeb e a reforma tributária progressiva (apresentada em outubro de 2019 pelo grupo)“, diz.

A portas fechadas, ela defendeu dialogar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM do Rio, para que ele manifeste de que lado, afinal, está. Maia tem sintonia com o neoliberalismo do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas resiste às propostas reacionárias de Bolsonaro em outros temas. Manterá a ambiguidade, marca da direita tradicional ante Bolsonaro? Presidenciável dessa direita, Huck critica a desigualdade, mas acha “correta” a política econômica de Guedes.

Maia dá pistas animadoras à oposição. Incentiva uma reforma tributária sabotada por empresários bolsonaristas. Após o Brasil conhecer o resultado pífio do PIB no primeiro ano de Paulo Guedes no cargo, 1,1% em 2019, comentou: “Os investimentos públicos são muito importantes”, e “o setor privado sozinho não vai resolver os problemas”.

O comentário embute a defesa do orçamento impositivo, a obrigação de o governo gastar a verba posta por parlamentares, para obras, no orçamento. A regra alimenta os atos bolsonaristas do dia 15. “O Bolsonaro vai sempre jogar a culpa das coisas no Congresso, que tem uma imagem ruim”, diz o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), participante da reunião opositora.

De acordo com uma pesquisa Datafolha de julho de 2019 sobre a credibilidade das instituições, apenas 7% confiam muito no Congresso e 4%, nos partidos. No caso da Presidência, são 28% e na das Forças Armadas, atreladas ao governo, 42%.

Para o deputado gaúcho Henrique Fontana (PT), outro presente à reunião, não é só Maia que precisa definir uma posição frente a Bolsonaro. “A mídia lavou as mãos na eleição, quando eŕamos nós e o Bolsonaro. Dizia que era tudo igual. Vai continuar com essa postura?”

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