Política

Secretária de Saúde Indígena de Bolsonaro limpa gavetas e deve deixar o governo

Em menos de um ano, Silvia Waiãpi desgastou-se com movimentos e teve de lidar com suspeitas de fraudes

Silvia Nobre estava no cargo há menos de um ano – ela assumiu em abril de 2019 (Foto: Redes Sociais)
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A secretária de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Silvia Nobre Waiãpi, deve deixar o cargo. Ela limpou a mesa e esvaziou as gavetas nesta quinta-feira 6 e não deve mais reaparecer na Sesai, conforme relatos feitos a CartaCapital.

Silvia estava no cargo há menos de um ano – assumiu em abril de 2019. Sua secretaria tem verba polpuda, 1,3 bilhão de reais em 2020, conforme a lei orçamentária.

Um mês antes da entrada dela na Secretaria, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a anunciar a intenção de fechar o órgão. Motivo: irregularidades antigas em contratos. Voltou atrás, no entanto, devido à pressão do movimento indígena.

Militar, evangélica, bem relacionada com a ministra Damares Alves, da Família, e com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, Silvia desgastou-se na função.

Em julho de 2019, sua Secretaria foi forçada a assinar, com o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, um acordo pelo qual se comprometia a não interromper a prestação de serviços de transporte para atender comunidades indígenas dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O acordo nasceu graças e protestos indígenas no prédio da Secretaria.

Silvia queria cercar-se de ex-funcionários da Secretaria que têm o nome ligado a investigações de contratos de serviços de transporte para a saúde indígena. Logo após sua chegada ao cargo, a Polícia Federal requereu à Secretaria cópias de contratos suspeitos.

A tentativa de cercar-se de ex-funcionários custou a Silvia uma cobrança pública, feita por indígenas e registrada em vídeo que circulou por WhatsApp, em uma espécie de SUS indígena no Pará que ela visitou em maio de 2019.

Um de seus primeiros atos no cargo tinha sido autorizar o pagamento de uma fatura de 4,9 milhões em serviço de transporte aéreo em Roraima que a diretoria da Secretaria era contra pagar, pois o cobrador, a Voare Táxi Aéreo, estava com o contrato vencido. Silvia amparou-se à época em um parecer da Advocacia Geral da União (AGU), para liquidar a fatura.

Em 21 de janeiro, CartaCapital noticiou a existência de indícios de fraude em uma licitação preparada pela Secretaria exatamente para contratar a prestação de transporte aéreo a comunidades indígenas, um negócio estimado em 400 milhões de reais.

O “termo de referência” da licitação, documento que detalha o que o poder público vai comprar e em quais condições, vazou para algumas empresas em dezembro, embora o edital da concorrência ainda não tenha sido publicado. Quem obteve cópia do documento é participante potencial da futura licitação, ou seja, está em vantagem contra outros competidores.

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