Entrevistas
Se eu perdesse o controle, tudo descambaria, diz mediadora do 1º debate pós-cadeirada em SP
A CartaCapital, Amanda Klein propõe também uma reflexão sobre 2026: ‘Os jornalistas têm de estar prontos para rebater mentiras dos candidatos’


A jornalista Amanda Klein, mediadora do debate entre candidatos a prefeito de São Paulo na RedeTV, afirma ter se preparado para não perder o controle do programa, apesar de um clima quase bélico na terça-feira 17. O encontro ocorreu menos de 48 horas depois de José Luiz Datena (PSDB) desferir uma cadeirada em Pablo Marçal (PRTB) na TV Cultura.
A RedeTV decidiu parafusar as cadeiras ao chão e reforçar a segurança para evitar novos confrontos mano a mano entre os candidatos, um símbolo da tensão e do ineditismo a marcarem a corrida eleitoral paulistana.
Klein teve uma postura enérgica logo no início do debate, quando Marçal se negou a mencionar o nome do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Pouco depois, os dois adversários tiveram um entrevero aos gritos, prontamente reprimido pela mediadora.
“Nosso debate guardava uma ansiedade e uma expectativa imensas”, disse nesta quarta-feira 18 a jornalista ao programa Direto das Eleições, transmitido no canal de CartaCapital no YouTube. “Fui imbuída dessa ideia: não posso perder o controle em nenhum momento. Se eu perder o controle deste debate, o negócio vai descambar e dificilmente vou recuperar.”
Debate entre candidatos a prefeito de São Paulo, em 18 de setembro de 2024, com mediação de Amanda Klein. Foto: Divulgação/RedeTV
A utilidade de debates em São Paulo entrou em pauta nas últimas semanas devido à reiterada postura de Marçal, a atentar contra as regras a fim de gerar cortes favoráveis a ele nas redes sociais. “Esse personagem, um elemento completamente disruptivo, impõe a violência, primeiro verbal – por exemplo, quando acusa Boulos desde o primeiro debate de cheirar cocaína.”
A reflexão sobre o modelo de debates no Brasil, contudo, não termina em 2024: ainda que não se eleja prefeito de São Paulo, Marçal sairá da disputa maior do que entrou e poderá se apresentar como um presidenciável para 2026. Com um partido mais relevante que o nanico PRTB, teria ainda mais visibilidade.
“Teremos de dar conta disso, talvez com um debate mais aos moldes do americano”, avalia Amanda Klein. “Na ABC News, os jornalistas desempenharam um papel fundamental para combater a desinformação e restabelecer a verdade. Os jornalistas têm de estar prontos para rebater mentiras dos candidatos.”
Além disso, o dilema sobre como noticiar a campanha de uma figura como Pablo Marçal não se limita aos debates: o ex-coach tem pautado a cobertura da eleição em São Paulo, levando o absurdo de sua candidatura a superar discussões sensíveis sobre a construção de sua carreira e de sua riqueza.
“Talvez a gente pudesse ter feito um trabalho melhor na parte investigativa. Sinto um pouco de falta de substância”, resume Klein. “De onde vem o patrimônio? Esse cara com 18 anos foi pego em uma condenação por jogar isca para velhinhos e depois, durante 13 anos, diz que fez carreira em uma empresa de telefonia. Isso o leva a 31 anos e hoje ele tem 37. Em seis anos esse cara ganhou quase 200 milhões de reais? Em que termos?”
Assista à íntegra da entrevista de Amanda Klein ao Direto das Eleições:
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