Política

Saques do Bolsa Família foram 5 vezes maiores que a média

Ministra do Desenvolvimento Social diz que boatos em redes sociais sobre o fim do programa colocam o governo diante de um novo desafio

Segundo Campello, os mecanismos para o governo se comunicar com a população do Bolsa Família ainda são limitados
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Assustados com boatos de que o programa federal de transferência de renda Bolsa Família seria suspenso, milhares de pessoas encheram agências da Caixa Econômica em ao menos 12 estados no fim de semana para sacar o benefício. Os rumores se espalharam rapidamente, provocando confusão e depredação de agências, além de dificultar uma resposta do governo ao pânico. “É complicado dar uma contrainformação em um ambiente desses”, diz Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a CartaCapital.

O governo negou no sábado 18 que o programa estivesse sendo cancelado, mas o tumulto nas agências se estendeu durante o domingo. A situação forçou a Caixa a permitir excepcionalmente os saques para evitar que a população ficasse ferida. “Nos fins de semana, em média, teríamos 100 mil saques. Chegamos a 500 mil saques no sábado, cinco vezes acima da média.”

A ministra se diz surpresa com a velocidade com a qual os rumores se espalharam, mas afirma que o número de beneficiários em busca de saques adiantados diminuiu nesta segunda-feira 20 e que os repasses voltaram a ser realizados apenas nas datas definidas.

Na entrevista abaixo, Campello evita acusar a oposição de ter espalhado os boatos e diz que a credibilidade do programa não sofreu qualquer abalo.

CartaCapital: A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira 20 que o boato sobre o cancelamento do programa Bolsa Família era “desumano” e “criminoso”. E que tinha o objetivo de levar a intranquilidade aos milhões de brasileiros que nos últimos dez anos estão saindo da pobreza extrema. A senhora acredita que os boatos visavam desestabilizar o programa e provocar agitação na população?

Tereza Campello: É difícil avaliar, porque isto está esta nas mãos da Polícia Federal e torço para que consigamos entender o que aconteceu e evitar que isso se repita. O que nos surpreendeu foi a rapidez do processo de divulgação dessa informação. De sexta-feira, primeiro dia de pagamento do benefício [no mês de maio] para sábado, ela se espalhou muito rápido. Logicamente que hoje há ferramentas de comunicação inexistentes há dez anos, a população pobre tem Facebook e acesso à informação por telefone, mas mesmo assim nos surpreendeu a dimensão da movimentação no sábado. Nos fins de semana, em média, teríamos 100 mil saques, mesmo em período de pagamento e levando em conta que a tradição não é saque nos terminais remotos da Caixa. Chegamos a ter 500 mil saques no sábado, cinco vezes acima da média. É difícil imaginar que isso fosse disparado só pelo “disse-me-disse” de beneficiário, mas é difícil afirmar o oposto, porque quem ganha alguma coisa com uma notícia terrível dessas?

CC: Há alguma informação nova sobre a origem dos boatos?

TC: Ainda não temos nenhuma pista. A polícia já está investigando, mas não é muito fácil. Sabe-se que o boato se espalhou muito rápido pelas redes sociais, mas a origem está sendo investigado. Hoje, graças aos serviços de utilidade publica, já diminuiu bastante.

CC: A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou via Twitter que boatos sobre fim da Bolsa Família teriam partido da oposição. A senhora concorda com isso?

TC: Não é possível afirmar isso e não há nenhum indício para levantar essa suspeição. Nada do que foi levantado até o momento indica para esse caminho. A Polícia Federal está investigando e não podemos afirmar nada neste sentido.

CC: Assusta a dimensão que esses boatos tomaram com a ajuda das redes sociais?

TC: Isso mostra que estamos de frente a um novo desafio. Os mecanismos para o governo se comunicar com a população do Bolsa Família se mostram ainda limitados. Em geral, mandamos mensagens dentro do próprio canhoto da Caixa, que não é muito eficiente porque parte dessa população tem baixa escolaridade, tem dificuldade de ler uma mensagem e compreender o conteúdo. Então, esse meio escrito e por carta é mais difícil ainda. É complicado poder dar uma contrainformação em um ambiente desses. De certa forma, esse episódio foi um grande aprendizado e vamos melhorar a nossa capacidade de resposta daqui para frente. O prejuízo infelizmente foi para a população que se locomoveu para as agências e enfrentou filas sem nenhum motivo real. Mas vamos aprender com esse episódio para garantir que ele nunca mais aconteça.

CC: Essa confusão causa algum tipo de problema ao orçamento do programa, visto que muitas pessoas sacaram repasses antes da data definida?

TC: O que as pessoas sacaram é o que elas teriam direito ao longo do mês. Os recursos já haviam sido repassados para a Caixa. Houve algumas agências que não tinham numerário suficiente [para os saques], mas não faltou dinheiro do Bolsa Família. Faltou em um terminal por conta da fila no sábado. Hoje a Caixa abriu duas horas antes e todos os gerentes estavam a postos garantindo que não faltasse informação ou dinheiro. Do ponto de vista do orçamento, não houve problema nenhum. O grande prejudicado foi o beneficiário, que ficou intranquilo e acabou recorrendo às agências bancárias.

CC: Por que os saques foram autorizados antes da data?

TC: Muita gente foi à Caixa fora da data certa. O calendário dos benefícios não paga em um dia só para garantir que a população não enfrente filas. Os beneficiários têm datas específicas para receber. No final de semana, não temos como atender a população como estamos fazendo nesta segunda. Para evitar um tumulto maior e uma situação de desespero, a Caixa abriu o sistema. Quem foi ao terminal sacou o repasse do mês de maio. Quem tinha benefício previsto para sacar na sexta-feira 24, conseguiu receber no sábado, mas se já sacou o dinheiro do mês. Liberamos para preservar a integridade física das pessoas na fila. Isso não está mais acontecendo a partir desta segunda. Agora, os saques acontecerão apenas nas datas previstas no calendário.

CC: A comunicação do Ministério sobre o programa falhou?

TC: Tivemos uma situação pontual em um sábado de noite e ao longo do domingo que alcançou milhares de pessoas. Mas não houve nenhum tipo de problema no Bolsa Família ou prejuízo ao setor público. A situação se intensificou sábado de noite e era difícil mobilizar os meios de comunicação naquele momento. Agimos rápido e entramos em todas as redes sociais [desmentindo os boatos] ainda no sábado. Também soltamos uma nota no mesmo dia.

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