Política

São Paulo, a batalha final à direita

Até o momento, Bolsonaro encarna o antipetismo e esmaga Alckmin no estado com maior número de eleitores do Brasil

Alckmin terá de tomar muito café
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[Este artigo foi originalmente publicado no Observatório das Eleições]

O estado de São Paulo é o lar de 22,4% dos eleitores brasileiros. Desde 1994, o PSDB ganha as eleições para o governo e, desde 2006, o estado é reduto importante das candidaturas tucanas à presidência.

O bom desempenho do PSDB nas últimas eleições presidenciais passou por votações substantivas em São Paulo. E em 2018? Como está a candidatura do tucano Geraldo Alckmin na unidade mais populosa da federação?

Quando comparamos com os dados da eleição de 2014, vemos que o PSDB tem um desempenho muito mais fraco neste pleito. Em 2014, o então candidato Aécio Neves teve 44,2% dos votos válidos no estado. A petista Dilma Rousseff  recebeu 25,8% e Marina Silva, então no PSB, 25,1%. Apenas para relembrar, em todo o País, Dilma teve 41,6% dos votos válidos e Aécio, 33,6% no primeiro turno naquele ano.

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Segundo a última pesquisa do Ibope realizada em São Paulo e divulgada em 19 de setembro, entre os paulistas que indicaram pretender votar em algum candidato, 38% escolheram Jair Bolsonaro (PSL), 17% apontaram Geraldo Alckmin e 16%, Fernando Haddad.

Fonte: Para 2014, TSE. Para 2018, Ibope (19/09)

Na mesma pesquisa, em âmbito nacional, o capitão atingiu 35%, o tucano, 9% e o petista, 24% dos votos válidos. É interessante notar ainda que, entre 20 de agosto e 18 de setembro, Alckmin perdeu cinco pontos percentuais enquanto Bolsonaro ganhou sete e Haddad, dez em São Paulo.

A maior fragmentação dessa eleição, com um número maior de candidatos competitivos até o momento, explica a redução na proporção de votos válidos do PT e do PSDB em São Paulo.

Mas, para o candidato tucano, essa explicação deve ser analisada levando em consideração o desempenho de seu principal concorrente no momento, Jair Bolsonaro. Enquanto Haddad está dez pontos abaixo da votação obtida por Dilma no primeiro turno de 2014, a intenção de votos em Alckmin está quase 30 pontos abaixo do obtido por Aécio Neves.

Quando analisamos os dados de forma um pouco mais desagregada, vemos que o desempenho do tucano, em comparação com Jair Bolsonaro, é especialmente ruim entre os homens (Bolsonaro 50% x 10% Alckmin), os mais escolarizados (Bolsonaro 41% x 9% Alckmin – Ensino Superior), e os mais ricos (Bolsonaro 45% x 10% Alckmin – Acima de 5 salários mínimos).

Além disso, quando observamos as escolhas para a disputa presidencial entre os eleitores do candidato tucano ao governo do estado, João Doria (PSDB), é possível termos uma dimensão ainda mais clara de como Alckmin perde votos para Bolsonaro em seu estado natal. Dos eleitores de Dória, que lidera a disputa empatado com Paulo Skaf (MDB) e tem 32% dos votos válidos, 45% declararam votar em Bolsonaro, enquanto apenas 19% mencionaram o nome de Alckmin – é o voto “Bolsodória”.

Para concretizar a sonhada “arrancada” rumo ao segundo turno, Alckmin vai precisar melhorar seu desempenho em São Paulo – o que significa não só conquistar os votos de outros candidatos de “centro” e “centro-direita”, mas conseguir captar votos diretamente de Jair Bolsonaro.

Dada a estrutura competitiva da atual disputa presidencial, isso significa conseguir atrair, especialmente, o voto dos “antipetistas”. No Brasil, esse contingente está em torno de 30%, segundo dados do Ibope (eleitores que não votariam no PT de jeito nenhum). Em São Paulo, a porcentagem é de 43%.

Pergunta estimulada e única. Para São Paulo, pesquisa divulgada em 19/09. Para o Brasil, pesquisa divulgada em 24/09

Até aqui, foi o capitão reformado que conseguiu conquistar parcela significativa desse eleitorado. A Alckmin resta ir para o “tudo ou nada”. Precisa mostrar que, ainda que faça parte de um partido desgastado junto à opinião pública e com escândalos de corrupção no estado, é o único com chances de derrotar Haddad e o PT. Para Bolsonaro, manter a vantagem em São Paulo será fundamental para garantir a passagem ao segundo turno. A briga na direita vai ser dura nos próximos dias.

* Oswaldo E. do Amaral é professor de Ciência Política na Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição

 

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