Política

Relator tucano da CCJ rejeita segunda denúncia contra Temer

Em parecer alinhado com a defesa de Temer, Bonifácio de Andrada defendeu “a impossibilidade de autorizar o seguimento da denúncia”

Relator tucano da CCJ rejeita segunda denúncia contra Temer
Relator tucano da CCJ rejeita segunda denúncia contra Temer
Relatório de Bonifácio Andrada rejeita prosseguimento de denúncia contra Temer
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O deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) leu nesta terça-feira 10 seu relatório sobre a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e defendeu a rejeição da denúncia contra Temer. Recomendação vale também para as denúncias contra os ministros.

Na ação, apresentada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, Temer é acusado de liderar uma quadrilha que desviou 537 milhões de reais dos cofres públicos. A base da acusação, que também envolve o crime de obstrução de justiça, são as delações da JBS e de Lúcio Funaro. A defesa de Temer foi entregue à comissão na semana passada.

No texto, Andrada fez uma forte defesa do presidente, inclusive alinhada aos argumentos já apresentados pelos advogados de Temer, que desqualificaram os delatores e afirmam que as gravações, que se tornaram provas, foram obtidas de maneira ilícita.

Ainda antes do início da sessão houve pedido de vista com prazo de duas sessões plenárias. Com o pedido, a discussão da denúncia na CCJ só deve começar na próxima terça-feira 17. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acredita ser possível votar em plenário o relatório da CCJ até o dia 23 de outubro. Caso o STF aceite a denúncia, Temer é afastado da Presidência por até 180 dias. Ninguém considera este cenário possível.

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Em seu relatório, Andrada criticou a atuação do Ministério Público (MP), da Polícia Federal (PF) e da imprensa. Afirmou que o MP tem “uma força sob certo aspecto até maior do que o próprio juiz“. Criticou, ainda o comportamento da imprensa, que “fortalece” as ações “espetacularizadas” do MP.

Ainda criticando o MP, o relator afirmou que “espera-se que essa concepção policialesca, que em boa parte existe no MP, se traduza em posicionamento social pedagógico e que a instituição possa intervir pelo povo”. Sobrou também para a PF, que teria “posições exageradas” de acordo com Andrada. Falou, ainda, em “abuso sistemático” do MP e que é “estranho que juízes venham autorizar que a polícia invada domicílios“.

Andrada defendeu que o conceito de organização criminosa não pode ser usado de forma banalizada. Para o relator,“é inadmissível considerar que o partido político constitua uma associação para fins criminais. Não é como uma organização criminosa.” Lembrou, ainda, que o presidente não pode ser acusado por atos estranhos ao seu mandato. “Somente os fatos após maio de 2016 é que serão objetos de análise penal.”

A sessão de leitura do relatório, marcada para às 10h desta terça-feira, chegou a ser iniciada, para logo depois ser adiada para as 15h e depois novamente adiada para após da Ordem do Dia, o que ocorreu por volta das 16h30.

Antes de suspender a sessão da manhã, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), presidente da CCJ, respondeu uma questão que foi proposta por vários deputados, para o desmembramento das votações em três, uma para cada acusado. “O que votaremos é um único parecer, mas ele pode tratar diferentemente tanto os acusados, quanto os dois crimes. Inclusive, um dos crimes é de organização criminosa, que só poderia ser analisado em conjunto”, explicou.

O relator passou o fim de semana em Brasília para trabalhar no texto. Aliado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andrada foi escolhido relator em um momento de união entre Temer e Aécio, que conta com a base do governo para se livrar de punição imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em troca, Temer espera que Aécio consiga manter o apoio do PSDB a seu governo.

Na semana passada, porém, a cúpula do PSDB destituiu Andrada da vaga de suplente da CCJ. Como o mineiro não abdicou da relatoria da segunda denúncia contra Temer, o partido sugeriu ao presidente do colegiado, Pacheco, que oferecesse uma das vagas dos partidos aliados para abrigar Bonifácio. Ele permaneceu no colegiado e na relatoria após o PSC ceder uma cadeira para o tucano. Sem uma dessas vagas, o tucano mineiro ficaria fora da comissão, o que obrigaria Pacheco a escolher outro relator.

Na ocasião, o presidente em exercício do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e o líder da bancada, deputado tucano Ricardo Tripoli (SP), destacaram os conhecimentos jurídicos de Bonifácio, mas ponderaram que a sua permanência como relator numa vaga do PSDB causa constrangimentos e aprofunda divisão entre os tucanos.

Desde que chegou à CCJ a primeira acusação, já ocorreram 59 mudanças na composição da comissão de um total de 66 titulares. O objetivo é sempre o mesmo: garantir maioria a favor do Planalto. A comissão, portanto, deve aprovar o parecer e encaminhá-lo à apreciação dos deputados. É necessário que 342 dos 513 escolham acatar a denúncia para que o Supremo esteja autorizado a julgar o presidente.

Demais denunciados

Além dos três integrantes do governo, também foram denunciados os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Eles não têm foro privilegiado.

As acusações têm como base a delação premiada de executivos da JBS e do operador Lúcio Funaro. As afirmações dos executivos já haviam embasado a primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva. A Câmara livrou Temer das acusações. Os governistas atacam o acordo e tentam tirar-lhe a validade. A PGR diz que ele vale mesmo se os benefícios aos delatores forem cancelados –a delação está sob escrutínio por suspeitas de omissão de informações.

*Com informações da Agência Câmara

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