O professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser avalia que, por ora, há um caráter mais simbólico na visita da presidenta da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan.
O ato, portanto, seria a princípio um “jogo de cena”, porque teria o objetivo de melhorar as condições do Partido Democrata para disputar a próxima eleição.
Nasser diz que o Partido Democrata tem uma tendência mais “intervencionista” e corre para mostrar os seus “músculos” contra a China a fim de angariar apoio de eleitores americanos que pressionam o governo a medir forças com grandes players internacionais.
Porém, após a deflagração da guerra na Ucrânia, não é possível afirmar que o ato em Taiwan está livre de consequências. Por enquanto, a China faz “bravata”, mas ao mesmo tempo dá o recado de que o conflito pode escalar.
“Acredito que, neste momento, não vai ter maiores consequências. A China também está fazendo bravata, neste momento. Depois, não sei, porque o recado está dado”, disse o especialista em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube. “É um momento tenso. Os Estados Unidos estão puxando a corda a todo momento.”
O professor avalia que os Estados Unidos estão ampliando o tom belicoso e têm disputado com maior afinco as zonas de influência internacionais.
O país é marcado por uma forte presença militar em diversas nações, mas, conforme salienta Nasser, não admite que outros governos façam o mesmo. Enquanto os Estados Unidos mantêm centenas de bases militares pelo mundo, a China tem apenas uma.
Reginaldo Nasser também ressaltou uma espécie de “dilema” colocado sobre os países periféricos e o campo progressista em relação ao caráter da política internacional levada adiante pelo Partido Democrata. Ele lembra que, enquanto Donald Trump dialogou com a Coreia do Norte e os líderes do Taleban no Afeganistão, a tradição dos democratas é de intensificar os atritos.
No caso da China, entretanto, há um “consenso”, destaca Nasser. Tanto republicanos quanto democratas parecem concordar com uma política de enfrentamento aos chineses. Nesse sentido, é possível afirmar que Joe Biden deu continuidade à estratégia de Trump.
Por isso, o pesquisador diz crer que as demonstrações de insatisfação de Biden com a provocação de Nancy Pelosi à China podem, também, ser encenação.
Isso porque, dificilmente, a presidenta da Câmara dos Representantes, que tem alta credibilidade entre os democratas, visitaria Taiwan sem a anuência de seus pares e do próprio presidente norte-americano, que é de seu partido. “Eles estão numa tática de elevar as coisas ao limite”, considera o professor.
A entrevista pode ser conferida na íntegra no YouTube:
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