Reginaldo Nasser: ‘A China faz bravata, mas os EUA puxam a corda a todo momento’

Em entrevista a CartaCapital, o professor identifica uma tática eleitoral do Partido Democrata na crise em Taiwan, mas vê margem para consequências internacionais

Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais. Foto: Reprodução

Apoie Siga-nos no

O professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser avalia que, por ora, há um caráter mais simbólico na visita da presidenta da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan.

O ato, portanto, seria a princípio um “jogo de cena”, porque teria o objetivo de melhorar as condições do Partido Democrata para disputar a próxima eleição.

Nasser diz que o Partido Democrata tem uma tendência mais “intervencionista” e corre para mostrar os seus “músculos” contra a China a fim de angariar apoio de eleitores americanos que pressionam o governo a medir forças com grandes players internacionais.

Porém, após a deflagração da guerra na Ucrânia, não é possível afirmar que o ato em Taiwan está livre de consequências. Por enquanto, a China faz “bravata”, mas ao mesmo tempo dá o recado de que o conflito pode escalar.

“Acredito que, neste momento, não vai ter maiores consequências. A China também está fazendo bravata, neste momento. Depois, não sei, porque o recado está dado”, disse o especialista em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube. “É um momento tenso. Os Estados Unidos estão puxando a corda a todo momento.”

?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> src="https://i.ytimg.com/vi/HrBubK9Dt5Y/hqdefault.jpg" layout="fill" object-fit="cover" alt="O REVIDE DA CHINA CONTRA OS EUA E AS AMEAÇAS DO SETE DE SETEMBRO | DIRETO DA REDAÇÃO">


 

O professor avalia que os Estados Unidos estão ampliando o tom belicoso e têm disputado com maior afinco as zonas de influência internacionais.

O país é marcado por uma forte presença militar em diversas nações, mas, conforme salienta Nasser, não admite que outros governos façam o mesmo. Enquanto os Estados Unidos mantêm centenas de bases militares pelo mundo, a China tem apenas uma.

Reginaldo Nasser também ressaltou uma espécie de “dilema” colocado sobre os países periféricos e o campo progressista em relação ao caráter da política internacional levada adiante pelo Partido Democrata. Ele lembra que, enquanto Donald Trump dialogou com a Coreia do Norte e os líderes do Taleban no Afeganistão, a tradição dos democratas é de intensificar os atritos.

No caso da China, entretanto, há um “consenso”, destaca Nasser. Tanto republicanos quanto democratas parecem concordar com uma política de enfrentamento aos chineses. Nesse sentido, é possível afirmar que Joe Biden deu continuidade à estratégia de Trump.

Por isso, o pesquisador diz crer que as demonstrações de insatisfação de Biden com a provocação de Nancy Pelosi à China podem, também, ser encenação.

Isso porque, dificilmente, a presidenta da Câmara dos Representantes, que tem alta credibilidade entre os democratas, visitaria Taiwan sem a anuência de seus pares e do próprio presidente norte-americano, que é de seu partido. “Eles estão numa tática de elevar as coisas ao limite”, considera o professor.

A entrevista pode ser conferida na íntegra no YouTube:

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

1 comentário

NELSON JACOMEL JUNIOR 3 de agosto de 2022 21h19
A posição do Brasil frente às atitudes dos eua, é uma questão a ser enfrentada pelo próximo governo. Em nenhum momento a política nacional, leia-se os deputados e senadores, deveria ter permitido a entrada deles em Alcântara.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.