Política

Redes sociais crescem, mas não definem eleição

Facebook e Twitter exercem um papel fundamental na atual campanha eleitoral, mas supremacia da televisão segue imbatível

Dilma Rousseff e Aécio Neves exploram as plataformas do Facebook e Twitter para se comunicarem com seus eleitores
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A campanha eleitoral ganhou um novo palco nesta eleição: as redes sociais, principalmente o Facebook e o Twitter, que os candidatos passaram a utilizar para bombardear os eleitores com informações sobre si e também acusações aos adversários. O novo meio tem uma vantagem importante: permite chegar mais perto do eleitor e se fazer presente no seu cotidiano.

Na campanha pela Presidência da República, os dois candidatos que chegaram ao segundo turno investiram em redes sociais, com perfis no Facebook e no Twitter. Enquanto Dilma Rousseff (PT) soma mais de 1,7 milhão de curtidas no Facebook, Aécio Neves (PSDB) chegou a 3 milhões. Já no Twitter, Dilma está na frente, com mais de 2,9 milhões de seguidores, e Aécio tem cerca de 188 mil.

“Até 2010, as redes sociais eram, na melhor das hipóteses, apenas complementares nas campanhas, que estavam focadas basicamente na televisão. Mas agora há uma campanha sendo realizada nas redes sociais, que se tornaram um espaço fundamental”, afirma o sociólogo Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Essas plataformas são utilizadas pelos candidatos para propagandear conquistas de seus governos, mostrar quem são os famosos que os apoiam, compartilhar depoimentos de eleitores, mas também para atacar os adversários e se defender de acusações. No perfil de Dilma no Facebook, cerca de 30 mensagens são “postadas” diariamente. A candidata privilegia textos e fotos. Já no perfil de Aécio, aproximadamente 20 mensagens são publicadas por dia, na maioria vídeos.

Mas a importância dessas plataformas deve ser vista com ressalvas, apesar de elas alcançarem um grande número de eleitores, segundo o especialista em comunicação Fábio Goveia, da Universidade Federal do Espírito Santo, que acompanha de perto a campanha eleitoral nessa nova mídia.

“Não significa que o candidato com maior presença nas redes sociais naturalmente será o mais votado, porque existem ferramentas que inflam determinados assuntos nas redes e acabam criando uma ideia equivocada de que determinado candidato é mais importante do que outro”, afirma Goveia.

Ele explica que uma presença constante pode ser conquistada com o uso dos chamados perfis teleguiados, que tanto podem ser “robôs” como pessoas que ficam compartilhando freneticamente uma mensagem para que esta esteja sempre presentes nas redes.

Segundo Goveia, ambos os candidatos possuem uma estratégia semelhante nas redes sociais, com o uso dos perfis teleguiados e foco primeiramente no ataque ao adversário e depois na defesa das acusações sofridas. Na campanha de Aécio, os pesquisadores conseguiram detectar o uso dos “robôs”, ou perfis criados para distribuir automaticamente determinadas mensagens.

“Identificamos isso mais claramente na campanha do PSDB. Não conseguimos identificar com as mesmas características na campanha do PT, apesar de termos indícios de que também ocorra”, diz Goveia. A geração automática foi reconhecida na campanha de Aécio em algumas situações, como em debates.

“Alguns perfis ficavam replicando intensamente temas totalmente desconexos do que era discutido. Por exemplo, o candidato falava em educação e eram repetidos temas de cultura, como se não fosse alguém real. A partir das relações e softwares, conseguimos mapear e identificar que esses perfis ficam ligados apenas a uma pessoa, e essa relação quase só automática é uma das características dos chamados robôs”, diz Goveia.

No Facebook, os pesquisadores encontraram uma série de perfis falsos, usados para espalhar boatos. Eles acabam sendo disseminados por outros usuários, que acreditam que a informação é verdadeira.

Goveia acrescenta que a utilização desses meios sem declaração na prestação de contas da campanha pode ser considerada crime eleitoral.

Apesar de as redes sociais terem um papel maior na campanha eleitoral, ainda é cedo para afirmar que elas serão decisivas. “As redes sociais têm importância crescente, mas não vão ser decisivas nesta eleição. Além disso, ainda há pouca clareza sobre o real impacto delas”, opina o sociólogo Valeriano Mendes Costa, da Unicamp.

O Brasil está atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia em número de usuários do Facebook. Mais de 76 milhões de brasileiros têm perfis nessa rede, sendo que mais da metade os utiliza diariamente. No Twitter, o Brasil, com 33,3 milhões de perfis, é o segundo país em número de usuários, atrás dos Estados Unidos.

O acesso à internet também chegou a mais da metade dos brasileiros com 10 anos, somando 86,7 milhões de pessoas em 2013. Em todo o país, 28 milhões de residências (43,1% dos domicílios) tinham conexão com a rede, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

No entanto, a televisão ainda é o meio de maior alcance, estando presente em 97,2% dos domicílios brasileiros. Por isso, ela continua sendo a principal plataforma para conquistar votos. “A televisão ainda é um meio com muito mais impacto, e este se dá pela quantidade de notícias. Estas podem fazer a diferença, e não somente a disputa nas redes sociais”, afirma Avritzer.

  • Autoria Clarissa Neher

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