Política

Rede vence prefeituras isoladas com candidatos da “velha política”

Legenda de Marina Silva, acusada por intelectuais de concentrar poder, leva cidades pequenas com ex-membros de PP e PSD

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A Rede Sustentabilidade, legenda criada pela ex-senadora Marina Silva em 2015, estreou nas urnas nesse domingo 2. Com apenas um ano de criação, o partido da ex-petista elegeu cinco prefeitos. O feito superou o do PT, que demorou dois anos após sua criação para vencer em Diadema (SP) em 1982. Superou também o PSOL, cuja demora foi de seis anos até ganhar em Itaocara (RJ) e Macapá (AP) em 2012. O resultado, contudo, revela uma Rede com dificuldade para criar uma estrutura partidária competitiva.

Enquanto a crise política minguou o PT, cujo número de prefeituras caiu 60% em relação a 2012, estreantes em disputas municipais ganharam musculatura. É o caso do Solidariedade (SD), que venceu em 62 prefeituras, e do PROS, vitorioso em 51 cidades.

A Rede venceu nas pequenas Lençóis Paulista (SP) e Cabo Frio (RJ), além das baianas Brejões, Livramento de Nossa Senhora e Seabra.

A ‘nova política’ e o alinhamento ‘programático’ defendidos por Marina também se viram esvaziados: três dos prefeitos eleitos já havia concorrido por outros partidos – incluindo PP e PSD, legendas de espectro ideológico oposto ao da Rede.

São eles: Dr. Adriano, novo prefeito cabo-friense e ex-vereador pelo PP; e o prefeito eleito de Livramento, Ricardinho, que disputou a chefia da cidade baiana pelo PSD em 2012. No interior paulista, o prefeito eleito Prado já foi do PV.

A entrada de “políticos de direita” foi uma das críticas feitas em carta de despedida da Rede, divulgada nessa segunda-feira 3, por um grupo de intelectuais liderados pelo ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o antropólogo Luís Eduardo Soares.

“Alcançada a legalização do partido (em outubro de 2015), foi precisamente essa característica que permitiu que muitos oportunistas e políticos de direita identificassem na Rede um espaço fértil para seus projetos particulares”, afirma o documento.

A ruidosa debandada de Soares, Miriam Krenzinger, Marcos Rolim, Liszt Vieira, Tite Borges, Carla Rodrigues Duarte e Sonia Bernardes foi o segundo racha da Rede Sustentabilidade. Em 2015, um outro grupo de intelectuais abandonou o partido.

A carta de desfiliação, divulgada um dia após a eleição deste domingo, acusa a legenda de ter se “estruturado sobre um vazio de posicionamentos políticos” e de ser um “deserto de definições” políticas em meio à crise de representatividade no País.

O documento reconhece Marina Silva como líder com “virtudes excepcionais”, mas critica sua concentração de poder. “As decisões estratégicas que foram conformando o perfil da Rede partiram todas de Marina e apenas dela, desde a decisão de entrar no PSB (na eleição de 2014) até a decisão favorável ao impeachment da presidente Dilma (Rousseff). Em cada um desses momentos cruciais, a maioria da direção nacional simplesmente se inclinou em apoio às posições sustentadas por Marina”, diz a carta.

Efeito Marina

As vitórias inexpressivas da Rede mostram que a legenda não conseguiu reproduzir nos municípios o ‘efeito Marina’ experimentado pela ex-petista nas disputas presidenciais de 2010 e 2014.

Nas capitais nas quais a ex-petista surpreendeu em 2014, o Rio de Janeiro se mostrou singular: Marina obteve 31% dos votos no estado. Em 2016, a Rede apostou no deputado federal e também ex-petista Alessandro Molon.

Marina militou ao lado dele nas ruas da capital fluminense e participou da campanha de televisão do candidato, mas Molon terminou em 8º lugar com 1,43% dos votos válidos.

A Rede disputa de segundo turno em duas cidades: Macapá (AP) e Ponta Grossa (PR). Na capital do Amapá, o prefeito Clécio Luís disputa a reeleição. Eleito em 2012 pelo PSOL, ele migrou para a Rede junto com o senador Randolfe Rodrigues, fiador político de sua eleição há quatro anos e novamente em 2016.

O coordenador da Executiva Nacional da Rede, Bazileu Margarido, minimiza o desempenho dos candidatos do partido. “A Marina sempre falou que ninguém é dono de voto, que ninguém é dono do eleitor”, afirma.

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