Educação
Reajuste em bolsas de mestrado e doutorado exigiria reforço de R$ 500 milhões, estima a Capes
Ainda diante de incertezas orçamentárias, a fundação também mira mais vagas e projetos de inovação com o setor industrial; ANPG reforça pressão


A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) estima serem necessários até 500 milhões de reais a mais em seu orçamento em 2025 para que consiga viabilizar o reajuste do valor das bolsas de mestrado e doutorado no país, além de ampliar a oferta das vagas.
O reajuste das bolsas de estudos de mestrado e doutorado em 10% tem sido reivindicado pela Associação Nacional de Pós-Graduandos, a ANPG). Atualmente, os valores das bolsas são de 2.100 reais para mestrado e 3.100 reais para doutorado.
“Espero que o orçamento permita”, disse a presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho, destacando a incerteza em relação à verba diante dos bloqueios orçamentários anunciados pelo governo para que se cumpram as metas do arcabouço fiscal.
Denise ponderou que, “quando falamos de educação, ciência e tecnologia, não é gasto, é investimento”, e manifestou confiança de que o presidente Lula, junto aos ministros Fernando Haddad e Camilo Santana, não cortará recursos da Educação se o relator do orçamento aprovar a verba adicional.
A declaração ocorreu nesta segunda-feira, 29, durante a abertura da Semana Ceará: Centro Global da Educação, promovida pelo Ministério da Educação em Fortaleza (CE). O encontro trouxe à tona preocupações sobre o impacto dos recentes bloqueios orçamentários, que, em outubro, somaram 1,3 bilhão de reais para o MEC. Apesar dos cortes, Denise ressaltou que o orçamento da Capes foi preservado pelo ministro Camilo Santana, e as áreas afetadas poderão retomar a execução dos recursos após o desbloqueio.
A presidente da Capes destacou ainda que o reforço no orçamento também possibilitará um reajuste das bolsas no exterior, que atualmente beneficiam mais de 9 mil pesquisadores. A ANPG tem alertado sobre um cenário de desvalorização da ciência no Brasil entre 2016 e 2022, período marcado pela desaceleração da produção científica e pela “fuga de cérebros” – jovens mestres e doutores que migram para o exterior em busca de melhores condições.
Entre as estratégias para mitigar a evasão de talentos, Denise anunciou planos de retomada na oferta de bolsas de pós-doutorado, que já chegaram a 7 mil no passado e hoje não ultrapassam 3,6 mil. “Houve uma redução progressiva no número de bolsas de pós-doutorado; é como se o Brasil pré-Lula não quisesse reter seus doutores”, lamentou.
Outra novidade esperada para este ano é uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que visa reter pós-doutores no setor industrial, canalizando o talento dos pesquisadores para impulsionar a inovação e o desenvolvimento industrial do país.
Denise recordou que os países do G20 estão nas primeiras colocações em produção científica global justamente por investirem massivamente no setor. “Não é coincidência. Esses países estão entre as maiores economias porque produzem conhecimento”, apontou, mencionando o ranking mundial liderado pelos Estados Unidos e China, no qual o Brasil ocupa a 14ª posição. Ela destacou a necessidade de ampliar parcerias internacionais, sobretudo com países do G20, como Turquia, África do Sul, Índia e Austrália, para fortalecer a pesquisa brasileira.
(A repórter viajou a convite da organização da Semana Ceará: Centro Global da Educação)
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