Política

Prévias do PSDB em São Paulo escancaram racha na corrida por 2018

Enquanto João Doria Jr. recebe o apoio de Geraldo Alckmin, Andrea Matarazzo tem ao seu lado Fernando Henrique Cardoso e José Serra

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A disputa velada entre o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra dentro do PSDB foi escancarada no último fim de semana com a realização das conturbadas prévias para a escolha do candidato tucano à prefeitura de São Paulo. A eleição, que teve pancadaria e até urnas quebradas, será decidida em um segundo turno entre o empresário e apresentador de TV João Doria Jr. e o vereador Andrea Matarazzo, no dia 20 de março.

Doria, que tem a seu favor o apoio declarado do governador Geraldo Alckmin, saiu na frente e venceu o primeiro turno das prévias com 43,13% dos votos. Matarazzo, que tem ao lado caciques como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes, obteve 32,89% dos votos.

Em terceiro lugar, com 22,31% dos votos, o deputado federal Ricardo Tripoli deixou a disputa. A participação nas prévias não é obrigatória e, dos 27 mil filiados aptos a votar, menos de 3 mil foram às urnas. A apuração considerou um total de 2.216 votos, e outros 260 estão sendo questionados.

Reconquistar o controle da maior cidade do País após dez anos é visto pelo PSDB como fundamental para fortalecer a sigla na disputa pela Presidência, em 2018. O tucano vencedor das prévias enfrentará em outubro o prefeito Fernando Haddad (PT) e os prováveis candidatos Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB).

Isolado, Alckmin aposta na vitória de Doria para fortalecer seu projeto de concorrer ao Planalto. O empresário é, hoje, o favorito na disputa, e adversários tucanos acusam o governador de mobilizar a estrutura do estado em favor de seu candidato. Contra Doria pesam a pouca experiência na administração pública – foi secretário de Turismo na gestão municipal de Mario Covas e presidente da Embratur no governo de José Sarney – e o fato de nunca ter disputado uma eleição. O tucano, no entanto, usa tais elementos para se vender como “novo”.

Doria foi um dos líderes do “Cansei”, movimento que surgiu em 2007 após o acidente com o avião da TAM, em Congonhas, mas que logo se transformou em grupo de oposição ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tucano é também presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) e apresenta o programa Show Business, na Band, mas ficou conhecido do grande público ao apresentar o programa O Aprendiz.

Ao contrário de Doria, Matarazzo já ocupou diversos cargos na administração pública: foi subprefeito da Sé, secretário de Serviços e secretário de Coordenação das Subprefeituras. No âmbito federal, foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do governo FHC e, na esfera estadual, comandou as secretarias da Cultura e de Energia.

Em vídeo divulgado para a militância tucana antes do primeiro turno das prévias, FHC tratou o pleito em São Paulo como fundamental para 2018 e afirmou que Matarazzo é capaz de ajudar “na construção da imagem do PSDB”. “Temos que entender que, nesta eleição, vamos começar a preparar as candidaturas a presidente da República, que tem que ser do PSDB”, disse FHC.

Suspeitas

O cargo na Secretaria de Energia, que Matarazzo ocupou em 1998, lhe rendeu uma investigação no Caso Alstom. Em 2013, o tucano foi indiciado pela Polícia Federal por suspeita de corrupção passiva no esquema de pagamento de propina pela empresa francesa a funcionários do governo paulista durante as gestões dos tucanos Mario Covas e Geraldo Alckmin. Ele não chegou a ser denunciado pelo Ministério Público, mas, em 2014, a Justiça autorizou a abertura de um novo inquérito contra o tucano. Ele nega envolvimento no esquema.

Já Doria enfrenta acusações de fazer pagamento à militância tucana. Na última semana, o jornal Folha de S.Paulo revelou um áudio de WhatsApp no qual um apoiador do tucano na zona leste afirma que “ninguém quer trampar de graça” para Doria. “Ninguém quer sair da sua casa para ir votar no Doria, por exemplo. Quem é Doria? Vai tomar no c…!”, diz o militante na gravação.

A campanha do empresário afirma que paga apenas despesas de transporte e alimentação dos colaboradores, mas a Comissão de Ética do PSDB vai investigar o caso. No início do mês, o vereador Adolfo Quintas (PSDB), aliado de Matarazzo, já havia acusado Doria de cooptar militantes tucanos com o pagamento de 2 mil reais por mês. Ele nega.

Diante das acusações, a defesa mais enfática de Doria foi feita por Alckmin, que aproveitou e fez um aparente ataque aos hábitos de FHC e Matarazzo. “O problema é que ainda não estamos acostumados com essa disputa democrática. Estamos acostumados a ‘partido-cartório’, de livro de ata, que decide o candidato em mesa de restaurante, com vinho importado”, disse Alckmin, segundo o Estadão.

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