Política

Quem são os bolsonaristas convictos?

Os eleitores do candidato do PSL são homens brancos, evangélicos e com no mínimo ensino médio, aponta o Ibope. É suficiente para ganhar a disputa?

Bolsonaro ofende a colega Maria do Rosário
Apoie Siga-nos no

[Este artigo foi originalmente publicado no site Observatório das Eleições]

A pesquisa do Ibope divulgada em 11 de setembro, além de perguntar sobre a intenção de votos dos brasileiros, buscou medir o grau de certeza do eleitor com relação ao voto para a disputa presidencial. Os eleitores de Jair Bolsonaro (PSL), candidato que lidera a corrida, foram os que apresentaram o maior grau de certeza sobre sua decisão.

Para 73% dos eleitores do capitão reformado, a decisão do voto é “definitiva” ou “firme”, o que significa 19% do total de eleitores. Os eleitores de Fernando Haddad (PT) apresentaram o segundo maior grau de certeza: 67%. Os outros candidatos mais bem colocados apresentaram índices mais baixos, entre 49% e 53%.

Se a candidatura de Bolsonaro conseguir manter essa porcentagem de eleitores convictos até o primeiro turno, são grandes as chances de ele estar na segunda volta. Diante disso, é importante desdobrarmos um pouco esses dados e explorarmos o perfil desses eleitores.

Leia também:
Por que há mulheres que votam em Bolsonaro?
Civilização ou barbárie?

Para isso, realizamos uma análise por meio de uma regressão logística multinomial. Esse tipo de análise permite a comparação entre grupos diferentes com segurança estatística. Aqui, comparamos todos os outros eleitores (categoria de referência – 74% dos eleitores) com os que declararam voto em Bolsonaro, mas não se demonstraram firmes em sua escolha (“é uma escolha do atual momento”/ “é apenas uma preferência inicial – 7% do total de eleitores) e com os eleitores de Bolsonaro que apresentaram maior firmeza na decisão (19%).

Os dados mostram que as características dos bolsonaristas convictos são mais marcadas do que aquelas dos que não têm tanta firmeza sobre o voto no candidato com relação ao restante do eleitorado.

Ser homem amplia em 2,7 vezes a chance de declarar um voto firme no capitão. Ter frequentado o ensino médio e o ensino superior amplia em cerca de duas vezes a chance de ser um bolsonarista convicto com relação aos que frequentaram até o quinto ano (antigo primário).

Ser branco (segundo autodeclaração) amplia em 69% a probabilidade de ter firmeza na escolha. Com relação aos que vivem no Sudeste (categoria de referência), viver no Nordeste reduz em 68% a chance de declarar firmeza no voto em Bolsonaro. Viver no Sul amplia em cerca de 70%. Por fim, ser evangélico amplia em cerca de 65% a chance de escolher o ex-militar com relação aos católicos (categoria de referência).

Com relação aos eleitores de Bolsonaro que não têm muita firmeza na sua decisão, ser homem também amplia a chance de estar nesse grupo em 2,5 vezes, ser evangélico amplia em 62% a chance de estar nesse grupo com relação aos católicos e ser branco, em 74%. Viver no Nordeste, por sua vez, reduz em cerca de 44%.

O que esses dados mostram? Primeiro, que os eleitores que não têm tanta firmeza na sua escolha se parecem um pouco mais com os outros eleitores do que os bolsonaristas convictos.

Segundo, o “núcleo duro” de eleitores de Bolsonaro pode ser caraterizado como um que se distingue pelo seu sexo (masculino), cor (brancos), escolaridade (ensinos médio e superior), religião (evangélicos) e região em que vivem (são menos presentes no Nordeste).

Manter esse eleitorado pode ser suficiente para o candidato chegar ao segundo turno se a fragmentação na disputa vista até aqui se mantiver até 7 de outubro. Para a volta final, a base eleitoral de Bolsonaro terá que se aproximar do perfil geral dos eleitores para que o candidato tenha chance de vencer. Conquistar as mulheres, os eleitores de baixa escolaridade e os “não-brancos” será então o desafio.

*Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.

O Observatório das Eleições agradece ao Ibope pela cessão da base de dados da pesquisa realizada entre 08 e 10 de setembro, registrada no TSE sob o protocolo 05221/2018. A pesquisa contou com amostragem nacional (2002 entrevistas) e possui margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

 

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.