Política
Quem mentiu à PF? Versões de Bolsonaro e Do Val sobre plano contra Moraes se anulam
O relato comum é que o encontro de fato ocorreu, em dezembro, no Palácio do Alvorada. Investigadores querem detalhes sobre a suposta trama
A suposta trama golpista contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, continua a ser narrada em diferentes versões, a depender da conveniência para quem as relata.
Há três personagens centrais no caso, investigado pela Polícia Federal:
- o ex-presidente Jair Bolsonaro
- o ex-deputado Daniel Silveira
- e o senador licenciado Marcos do Val (Podemos-ES)
O encontro apurado pela PF ocorreu em 8 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada. O plano em questão envolveria gravar ilegalmente Moraes a fim de forçar alguma declaração comprometedora que servisse de pretexto para uma ruptura institucional.
Na semana passada, Bolsonaro confirmou à PF sua reunião com Do Val e Silveira, mas negou ter discutido alguma iniciativa contra o magistrado e disse que, “inclusive, nada foi falado sobre o ministro Alexandre de Moraes”.
Após o depoimento, Bolsonaro ainda mandou um recado ao senador, durante entrevista a jornalistas: “Ele (Do Val) que responda pelos atos dele”.
A alegação do ex-capitão é frontalmente oposta à de Marcos do Val, que prestou depoimento na quarta-feira 19. De acordo com o senador, Daniel Silveira abordou, sim, a ideia de gravar Moraes. Mais uma vez Do Val afirmou que Bolsonaro apenas ouviu a proposta e não se manifestou.
Do Val disse, ainda, ter sido procurado de forma insistente por Silveira dois dias antes da reunião e que quando se encontrou com o ex-deputado, este estava ao telefone com Bolsonaro, que o teria convidado para a agenda.
Silveira, por sua vez, depôs à PF em 29 de junho e narrou que Do Val teria dito a ele que desejava se reunir com Bolsonaro. O ex-parlamentar não mencionou ter abordado na agenda qualquer plano contra Moraes.
Daniel Silveira disse aos investigadores, porém, que Do Val afirmou a Bolsonaro manter uma “bala de prata” contra um suposto ativismo judicial. O então presidente teria apenas ouvido o aliado.
Após a denúncia original sobre a reunião, em fevereiro, Do Val apresentou diversas versões conflitantes a respeito do suposto plano. Em junho, ele se tornou alvo de uma operação da PF para buscar e apreender provas da trama. A coleta de documentos foi autorizada por Moraes e chegou a contar com um pedido de prisão apresentado pela corporação, mas barrado pelo ministro.
Em suas idas e vindas, Do Val chegou a dizer que Bolsonaro indicou concordância com a ideia golpista. Depois, recuou e afirmou que o então presidente “ouviu tudo e ficou calado”.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.