Economia
Quem é (e o que pensa) Marco Rubio, escalado por Trump para negociar com Lula e o Brasil
De sanções contra Moraes ao tarifaço, o secretário de Estado americano articula uma política de pressão que mistura ideologia, mercantilismo e retaliação


Desde o início de maio, as relações entre Brasil e Estados Unidos passaram por um período de elevada tensão, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, assumindo papel central nas negociações e na comunicação oficial sobre restrições e sanções. Nesta segunda-feira 6, após contato por videoconferência de Lula (PT) e Donald Trump, Rubio foi escalado para negociar com o Brasil o fim (ou o abrandamento) do tarifaço.
Caberá a ele conduzir as negociações bilaterais junto ao vice-presidente Geraldo Alckmin, chanceler Mauro Vieira e ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Resta saber agora como o secretário vai conduzir as conversas com o governo brasileiro. Do lado do Planalto, as expectativas são “muito altas”, disse Fernando Haddad a jornalistas.
Quem é e o que pensa Marco Rubio
Rival de Trump nas primárias do Partido Republicano em 2016, Marco Rubio se converteu um interlocutor essencial entre o trumpismo e o establishment do partido. Neste segundo governo Trump, foi recompensado com o cargo de secretário de Estado, assumindo papel central na reformulação da política externa americana sob o novo governo, marcada por uma retórica moralista e uma política de retaliação a governos considerados “hostis” – em especial os latinoamericanos.
Ainda no dia 28 de maio, ele anunciou a criação de uma política de restrição de vistos para estrangeiros acusados de censurar cidadãos americanos. Em audiência no Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, afirmou que indivíduos que atentem contra a liberdade de expressão de americanos “não devem ter o privilégio de viajar” ao país. Naquela ocasião, o secretário sinalizou que essa política poderia atingir autoridades brasileiras, em especial ministros do Supremo Tribunal Federal. O alvo, naquela altura, era Alexandre de Moraes.
Em 24 de julho, deu o primeiro passo contra o ministro e anunciou a revogação do visto de entrada nos EUA para Moraes, seus familiares e aliados próximos. Segundo o secretário, Moraes seria o “coração pulsante do complexo de perseguição e censura contra Jair Bolsonaro”.
Seis dias depois, Trump avançou um pouco mais e impôs sanções contra Moraes, utilizando a Lei Magnitsky. O Departamento do Tesouro dos EUA alegou que Moraes utilizou sua posição para autorizar detenções arbitrárias, reprimir a liberdade de expressão e conduzir uma campanha politicamente motivada contra opositores, incluindo jornalistas e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Como resultado, todos os bens e fundos de Moraes sob jurisdição norte-americana foram bloqueados, e ele ficou proibido de realizar transações com cidadãos ou entidades dos EUA.
Foi Rubio quem fez a próxima jogada, revogando os vistos de Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, ligados ao programa Mais Médicos, atingindo diretamente membros do governo brasileiro. Para ele, os dois estariam associados a práticas de “cooperação” com Cuba que, segundo sua visão, violam princípios de liberdade e direitos humanos. A medida reforçou o discurso de Rubio de que autoridades ou aliados de regimes considerados autoritários seriam responsabilizados mesmo fora de seus países. Mais tarde, ministros como Alexandre Padilha, da Saúde, e Ricardo Lewandowski, da Justiça, também sofreriam as sanções.
Já em setembro, após a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, Marco Rubio afirmou que os Estados Unidos anunciariam uma reação contra o Brasil. O secretário caracterizou a decisão como “uma caça às bruxas” conduzida por Moraes e declarou que o Estado de Direito brasileiro estaria em colapso. Segundo ele, a administração americana estudaria medidas adicionais, incluindo potenciais sanções econômicas ou restrições diplomáticas.
No final daquele mês, o secretário defendeu a aplicação da Lei Magnitsky à esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, afirmando que a medida visava “responsabilizar Moraes por abuso de autoridade, censura e perseguição política”. Para ele, essas sanções são instrumentos legítimos de pressão e representam o “compromisso” dos EUA em punir violações de direitos humanos e corrupção.
Durante esse período, de maio a outubro deste ano, o governo Trump impôs tarifas de 40% a 50% sobre produtos brasileiros, medida que Rubio endossou publicamente como forma de pressionar o Brasil diante do que considera perseguição a aliados de Bolsonaro e atuação de Moraes em processos políticos. Rubio defendeu que os Estados Unidos precisavam proteger seus interesses comerciais e enviar uma mensagem clara sobre a responsabilização de autoridades brasileiras.
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