Política

PT se reúne para discutir derrotas e vice-presidente defende consolidar o apoio do Centrão

Decisão de lançar Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo e declaração de Alexandre Padilha foram os temas-chave no encontro

PT se reúne para discutir derrotas e vice-presidente defende consolidar o apoio do Centrão
PT se reúne para discutir derrotas e vice-presidente defende consolidar o apoio do Centrão
Gleisi Hoffmann e Washington Quaquá, dirigentes do PT. Fotos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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Horas após um melancólico domingo de segundo turno para o PT, a Executiva Nacional se reuniu nesta segunda-feira 28 em Brasília para analisar os resultados, lavar roupa suja e evitar que o clima prejudique o próximo grande objetivo da legenda: a reeleição do presidente Lula em 2026.

O PT até avançou – de 184 prefeitos em 2020 para 252 neste ano – mas o baixo crescimento, a dificuldade em grandes cidades e apenas um triunfo em capitais impedem a caracterização de uma grande vitória.

Por óbvio, teve grande destaque no encontro da cúpula a derrota de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo. Pela primeira vez desde a redemocratização, os petistas decidiram não lançar um candidato próprio na cidade e cumpriram um acordo costurado em 2022, quando o psolista desistiu de concorrer ao governo e apoiou Fernando Haddad (PT).

O Fundo Eleitoral do PT transferiu 44,1 milhões de reais para a campanha de Boulos, enquanto o PSOL contribuiu com 36 milhões. Apesar da injeção de recursos, a chapa do deputado federal e da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) atingiu pouco menos de 41% dos votos válidos na disputa contra Ricardo Nunes (MDB).

O candidato do PSOL saiu das urnas neste ano com 2.323.901 votos, ante 2.168.109 no segundo turno de 2020, quando perdeu para Bruno Covas (PSDB). A diferença é de pouco mais de 155,7 mil votos. Naquela ocasião, porém, o PT teve postulante próprio no primeiro turno.

Integrantes da cúpula petista, como o deputado Carlos Zarattini (SP) e a presidenta da sigla, Gleisi Hoffmann, defenderam na reunião desta segunda a decisão de bancar a chapa Boulos-Marta. Por outro lado, em entrevista a CartaCapital, o vice-presidente Washington Quaquá, prefeito eleito de Maricá (RJ), criticou de modo enfático a escolha.

“O erro de lançar um candidato que só dialoga com a esquerda, com um terço do eleitorado, é um erro de origem”, diz Quaquá. “Não é um problema de Boulos. Isso já foi feito com Marcelo Freixo na eleição para governador em 2022. Vai para o segundo turno, mas vai para perder.”

Para o vice-presidente, trata-se de um problema mais amplo: o PT abandonou uma política adotada no início dos anos 2000, sob a batuta de José Dirceu, a partir da qual a sigla comandava alianças ao centro. Podia até moderar o programa, afirma Quaquá, mas liderava os concertos e construía governos de transformação social.

“A Dilma abandonou essa política, perdeu a maioria na Câmara e sofreu o impeachment. Depois disso, o PT insistiu nessa política de estreitamento de alianças. E quando faz [uma aliança ao centro], faz de maneira envergonhada.”

Outro dirigente presente na reunião desta segunda era o secretário de Comunicação, Jilmar Tatto. Ele afirmou que a sinalização do PT deveria se dirigir ao centro, ao contestar a opção por Boulos na capital paulista. Citou como exemplo o fato de Lula ter vencido em 2022 com uma frente ampla e disse que “ninguém entende” o sinal do partido ao decidir por um representante do PSOL na maior cidade do País.

Questionado sobre os próximos passos do partido, Quaquá defendeu uma reforma ministerial no governo Lula a fim de “consolidar o apoio do Centrão” e declarou que o Palácio do Planalto deve parar de “requentar a pizza o tempo todo”, em referência à aposta em programas que marcaram mandatos anteriores, como o Minha Casa, Minha Vida.

“Temos de criar novas políticas para os novos trabalhadores de aplicativo, a nova economia, as favelas, os evangélicos. Precisa ter uma dose maior de inovação e criatividade”, resume. Deputado federal eleito em 2022, Quaquá também entende que o governo “trata mal” a bancada do partido.

Além dos resultados magros nas urnas, o clima interno pesou nesta segunda após o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), dizer que o partido “não saiu do Z4” nas eleições municipais desde 2016. No futebol brasileiro, o termo é usado para se referir aos times na zona de rebaixamento.

“Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”, reagiu Gleisi Hoffmann nas redes sociais. “Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam.”

Em uma ironia sobre a afirmação do ministro, o dirigente Jilmar Tatto arriscou nesta segunda: “Se ficou na zona do rebaixamento, tem ministro que está jogando na várzea. E isso é perigoso pensando em 2026”.

Washington Quaquá, por sua vez, declarou à reportagem que o ministro fez uma brincadeira e que a crítica é correta. “Pode ter sido um pouquinho jocosa, mas não necessitava dessa repercussão toda.”

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